segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Tipos e dinâmica de pastagens em montados de sobro e azinho: um resumo.



Os montados constituem-se de um estrato monoespecífico de árvores que foi herdado de uma floresta densa pré-existente de sobreiro ou azinheira. A partir do bosque cerrado original, foram eliminados, através do fogo e meios mecânicos, outras árvores (por ex. carvalhos, catapereiros, zambujeiros), assim como os estratos arbustivo, herbáceo e lianóide. Em seguida, o sistema foi conduzido para um estádio metaestável da sucessão ecológica dominada por uma pastagem permanente cuja origem e persistência é mantida pela pressão de pastoreio ovino. As pastagens sob coberto em montados são frequentemente intercaladas num ciclo de rotação de cereais longo e de baixa perturbação do solo. Em sistemas pastoris pré-industriais estas pastagens eram utilizadas por grandes rebanhos transumantes desde as primeiras chuvas outonais até meados de Abril ou Maio. No início do século XX, o período de pousio permitindo o desenvolvimento de pastagens variou entre dois a dez ou mais anos, de acordo com a fertilidade da terra, a sua acessibilidade, sistema de preços e a racionalidade económica do proprietário.

As pastagens do sistema de agricultura de montado podem ser grosseiramente classificadas em cinco tipos.

O primeiro corresponde às ‘malhadas’ de Poa bulbosa e trevo-subterrâneo (Trifolium subterraneum). Tratam-sede pastagens vivazes que dependem de um pousio longo sem mobilização do solo e pastoreio persistente de ovinos. Têm dois máximos de produtividade de biomassa, no Outono e depois na Primavera e podem atingir 0.75 LU.ha-1. As pastagens melhoradas semeadas de trevo-subterrâneo são uma boa maneira de reconstituir as malhadas, dependendo a sua manutenção, apenas de um mínimo de fertilização fosfatada, podendo, neste caso, duplicar a sua produtividade. As misturas usadas podem conter outras espécies de trevos e outras leguminosas. Estas pastagens são destruídas pelas mobilizações, mesmo por gradagem ligeira, sub- , sobrepastoreio ou pastoreio com bovinos.

Um segundo tipo de pastagem vivaz ocorrente nos montados tem uma fenologia tardia e é composta de combinações de Agrostis castellana/Festuca ampla, dependente de pastoreio, adaptada a depressões ligeiramente húmidas e é mais frequente em áreas de clima continental (com maior período de geadas). Pode garantir o alimento de gado durante os meses de Verão.

O terceiro tipo desenvolve-se em solos pobres ou erodidos, apenas durante a Primavera e é constituída por plantas anuais de pequena biomassa que secam rapidamente no final desta estação ou princípio do Verão. Têm uma grande extensão na área de montado e constituem pastagens pobres que suportam encabeçamentos muito baixos. Exemplos de plantas dominantes são: Anthyllis lotoides, Brachypodium distachyon, Coronilla repanda, Trifolium angustifolium, T. boconnei, T. cherleri, Plantago belardii, Tuberaria guttata, Ornithopus compressus, O. pinnatus, e Vulpia sp. pl. As pastagens anuais efémeras, de pequena biomassa, não dependem do pastoreio e resultam das lavouras e desmontas de mato após a lixiviação do azoto numa única estação de chuvas.

O quarto tipo é atualmente o tipo de pastagem mais comum e tratam-se de comunidades herbáceas anuais dependentes da presença de azoto. São, de facto, comunidades de ‘infestantes’ que beneficiam do azoto resultante da mineralização da matéria orgânica originada pela mobilização, daquele remanescente da fertilização das culturas em rotação ou das forragens introduzidas no sistema para alimentação do gado. As espécies mais comuns são grâmineas: Bromus tectorum, B. rigidus, B. matritensis, Holcus anuus, Stipa capensis e Vulpia alopecurus, que formam arrelvados relativamente densos e altos, mas de baixa palatibilidade e valor alimentar.

Um quinto e último tipo corresponde a arrelvados de pequenas plantas anuais próprias de locais húmidos no Inverno e Primavera ou em depressões de solos arenosos com acumulação temporária de água e freatismo acentuado. São comunidades de pequenos juncos e da gramínea Chaetopogon fasciculatus. Têm um valor pastoral marginal.
Com as políticas artificiais de preços dos cereais do final do século XIX e princípios do século XX e a introdução da mecanização agrícola, as pastagens vivazes de malhadas (Poa bulbosa/ Trifolium subterraneum) e de Agrostis castellana/Festuca ampla sofreram uma forte regressão. Sucedeu a substituição do pastoreio ovino pelas rotações cerealíferas curtas. O terceiro tipo subnitrófilo de pastagens banalizou-se consequentemente. Para tal contribuiu também o fim da transumância nos anos 60 do século XX. As Políticas Agrícolas Comuns de redução da área de cereal desde 1985 resultaram, por seu turno, numa intensificação da produção de gado bovino com recurso a forragem  e ração com origem externa ao sistema. Estes fatores têm tido um forte impacto na extensão e qualidade das pastagens através da degradação da estrutura do solo com aumento da dominância de plantas não palatáveis indesejáveis: as adaptadas á compactação (diabelha – Plantago coronopus), à nitrofilia (cardos, Chenopodium sp. pl.), ao encharcamento temporário (Juncus sp. pl.) e profusão de gramíneas sem valor pastoral: Stipa capensis, Vulpia sp. pl. E Brachypodium distachyon. Tratam-se de quatro décadas de forte diminuição da superfície de pastagens de montado com real valor económico e ecológico. Torna-se pois urgente uma política racional e de base científica para a recuperação do potencial produtivo das pastagens em montados.

8 comentários:

  1. PS. Desculpem, mas constato que alguns links já não funcionam. Um deles curiosamente está encerrado devido ao encerramento dos serviços púclicos, devido não aprovação do orçamento nos EUA. Assim que puser substituirei por outros funcionais.

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  2. Excelente post, com abundante informação!

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  3. Esqueci-me de dizer que o Carlos Aguiar tb. participou na composição deste texto.
    JC.

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  4. Podes explicar como o Habitat 6310 se posiciona aí pelo meio, sff?

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  5. A transumância alterou a paisagem do centro da Península Ibérica de diversas maneiras, mesmo ao nível genético. A capacidade de transporte de sementes a longa distancia pelas ovelhas permitiu que as estirpes mais produtivas das espécies típicas das malhadas se dispersassem de forma mais eficiente.

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  6. O habitat 6310, no sentido em que foi interpretado consensualmente entre aqueles países que o possuem (Portugal, Espanha e Italia), existe apenas se existir o tipo de Poa bulbosa. Na medida em que muitos montados serão reconvertíveis a este tipo, pelo pastoreio ovino continuado do tipo efémero anual de pequena biomassa, esta interpretação será demasiado restritiva. NA minha opinião, desde que o montado não tenha como sobcoberto vegetação nitrófila, subnitrófila ou culturas, deve ser considerado habitat 6310. A presença de Poa bulbosa corresponde ao grau de melhor conservação e a dominãncia de outros tipos a situações de grau de conservação intermédio.
    JC.

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