sábado, 30 de julho de 2011
Lupinus albus (Fabaceae) I
O grande agrónomo Lucius Junius Moderatus Columella [4-70 d.C.] refere-se do seguinte modo ao Lupinus albus, o vulgar tremoço-branco: "Se um agricultor nada tem, pelo menos pode dispor do tremoço; se o distribuir num solo pobre nos meados de Setembro, o enterrar, e na altura própria o cortar e enterrar com um arado obterá um efeito semelhante ao melhor estrume." (De Re Rustica II, 15). O comentário de Columella é por si só suficiente para se perceber que as características morfológicas e fisiológicas, a história da domesticação e a agronomia do L. albus merecem ser contadas. Por ora apenas vou referir o menos relevante aspecto da agronomia do tremoço-branco: a colheita. A razão é simples: acabei de colher os meus tremoços.
Os agricultores mais experientes costumam dizer que o tremoço-branco quer pouco tempo fora da terra. Assim como não há vantagem em atrasar a sementeira (para os meados do Outono) também convém não antecipar demasiadamente a sua colheita (as plantas deve estar completamente secas).
A colheita tem o seu quê. A indeiscência das vagens no tremoço, como em muitas outras leguminosas para grão (e.g. soja), é imperfeita (vd. imagem), sobretudo nas cultivares de semente muito grande (e.g. maioria dos tremoços consumidos nas cervejarias portuguesas, vd. imagem).
Para diminuir a abertura acidental das vagens e as perdas na colheita, tradicionalmente colhia-se o tremoço ao nascer sol enquanto a humidade relativa do ar não descia abruptamente com o aumento da temperatura do ar. Colhi os meus tremoços às 11h da manhã, de mãos nuas - esqueci-me das luvas - e experimentei, por várias vezes, aquele espinho que encima as vagens a enterrar-se por debaixo das minhas unhas. Foi merecido o aceno reprovador que recebi de um agricultor reformado que por ali passou.
Volto no final de Agosto para terminar alguns post em suspenso, e iniciar muitos outros.
Rosa arvensis (Rosaceae)
Duas fotos com menos de uma semana de Rosa arvensis, uma nova espécie para
Portugal:
Fotografei e colhi esta roseira na margem de um avelanal (comunidade de Corylus avellana) no local mais isolado e pristino da Serra de Nogueira, a cerca de 10 km da minha cidade de Bragança. Esta localidade é também a única conhecida em Portugal de Bromus ramosus (Poaceae) e de Rubus vestitus (Rosaceae). Ainda lá estavam!
Os carvalhais não são todos iguais.
Os carvalhais recentes, emersos em paisagem de elevada hemerobia (muito alteradas pelo homem), são desinteressantes porque são pobres em espécies raras, sobretudo em plantas especialistas de bosque, esciófilas (de sombra) e de dispersão lenta. O carvalhal da Serra de Nogueira não, porque é antigo e foi usado com pouca intensidade pelo homem.
Rosa arvensis (Rosaceae). N.b. folhas
de dentição simples (foto esq.), estiletes organizados numa coluna que emerge
acima dos estames (coluna estilar) e pequenas glândulas a revestir o pedúnculo
(foto dir.). Três espécies de Rosa indígenas de Portugal têm coluna
estilar: R. arvensis, R. sempervirens e R. stylosa. A
R. arvensis distingue-se da R. sempervirens por ser
caducifólia, e da R. stylosa por apresentar um disco plano (não visível
nas fotos) e coluna estilar glabra.
Fotografei e colhi esta roseira na margem de um avelanal (comunidade de Corylus avellana) no local mais isolado e pristino da Serra de Nogueira, a cerca de 10 km da minha cidade de Bragança. Esta localidade é também a única conhecida em Portugal de Bromus ramosus (Poaceae) e de Rubus vestitus (Rosaceae). Ainda lá estavam!
Os carvalhais não são todos iguais.
Os carvalhais recentes, emersos em paisagem de elevada hemerobia (muito alteradas pelo homem), são desinteressantes porque são pobres em espécies raras, sobretudo em plantas especialistas de bosque, esciófilas (de sombra) e de dispersão lenta. O carvalhal da Serra de Nogueira não, porque é antigo e foi usado com pouca intensidade pelo homem.
quinta-feira, 28 de julho de 2011
Leefructus mirus (Ranunculaceae)
A Science publicou em Março passado a descoberta do Leefructus mirus na formação de Yixian, na China, o jazigo de origem do Archaeofructus (vd. aqui).
O L. mirus é a mais antiga eudicotiledónea fóssil conhecida.
As plantas com flores (=angiospérmicas) são hoje divididas em quatro grandes grupos: um parafilético - as angiospérmicas basais - e três monofiléticos, as magnoliidas, as monocotiledóneas e as eudicotiledóneas. Entre as mono e as eudicotiledóneas situa-se um quinto grupo constituído pelo enigmático Ceratophyllum, um género com duas espécies aquáticas presentes em Portugal: o C. demersum, tão comum nos rios de montanha ibéricos, e o C. submersum, uma planta muito apreciada pelos aquariofilistas que se tornou invasora. A divisão tradicional entre mono e dicotiledóneas já era.
O fóssil de A. mirei tem entre 122,6 e 125,8 milhões anos (Cretácico inicial). Se os mais antigos pólenes inequívocos de angiospérmicas datam de 141-132 milhões de anos antes do presente, então a radiação das plantas com flor foi um processo rápido; foi chegar e vencer. Os homens do molecular dizem-nos que não, que as angiospérmicas datam do final do Triássico, início do Jurássico, e que andaram pela Terra durante 60 milhões de anos à espera de uma oportunidade (vd. aqui).
Continua tudo em aberto.
O L. mirus é a mais antiga eudicotiledónea fóssil conhecida.
Não há dúvida que o Leefructus mirus tem qualquer coisa de Ranunculaceae, conforme admitem os seus autores (foto de uso livre extraída daqui).
As plantas com flores (=angiospérmicas) são hoje divididas em quatro grandes grupos: um parafilético - as angiospérmicas basais - e três monofiléticos, as magnoliidas, as monocotiledóneas e as eudicotiledóneas. Entre as mono e as eudicotiledóneas situa-se um quinto grupo constituído pelo enigmático Ceratophyllum, um género com duas espécies aquáticas presentes em Portugal: o C. demersum, tão comum nos rios de montanha ibéricos, e o C. submersum, uma planta muito apreciada pelos aquariofilistas que se tornou invasora. A divisão tradicional entre mono e dicotiledóneas já era.
O fóssil de A. mirei tem entre 122,6 e 125,8 milhões anos (Cretácico inicial). Se os mais antigos pólenes inequívocos de angiospérmicas datam de 141-132 milhões de anos antes do presente, então a radiação das plantas com flor foi um processo rápido; foi chegar e vencer. Os homens do molecular dizem-nos que não, que as angiospérmicas datam do final do Triássico, início do Jurássico, e que andaram pela Terra durante 60 milhões de anos à espera de uma oportunidade (vd. aqui).
Continua tudo em aberto.
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domingo, 24 de julho de 2011
Dianthus cintranus ssp. barbatus (Caryophyllaceae) e mais um insecto
Parece-nos que esta planta maravilhosa, um endemismo exclusivamente português, que se pode encontrar sobretudo nas fendas das rochas do CW. calcário, ainda não tinha sido aqui postada:
Dianthus cintranus subsp. barbatus R. Fern. & Franco in Franco, Nova Fl. Portugal 1. 1971.
PESI portal - Dianthus cintranus subsp. barbatus R. Fern. & Franco
Dianthus cintranus subsp. barbatus information from NPGS/GRIN
Como acompanhamento zoológico deixamos também aqui um díptero (?), para eventual identificação por especialistas!
Como acompanhamento musical, vamos hoje sugerir esta pérola tropical de grande valor:
GANG 90 & ABSURDETTES - PERDIDOS NA SELVA - YouTube
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quarta-feira, 20 de julho de 2011
Duas linárias (Plantaginaceae), uma centáurea (Compositae) e uma borboleta
Tal como o nome do poste indica, trazemos hoje aqui duas linárias (Plantaginaceae), uma centáurea (Compositae) e uma borboleta (para eventual identificação!).
Uma das linárias é a já bem conhecida Linaria aeruginea ( Gouan ) Cav.
Elench. Pl. Horti Matr. 21 (1803); cf. Rothm. in Fedde, Repert. xlix. 52(1940).
= Antirrhinum aerugineum Gouan Illustr. 38. (basion.)
IPNI Plant Name Details
A centáurea poderá ser talvez a Centaurea micrantha Hoffmanns. & Link -- Fl. Portug. [Hoffmannsegg] 2: 220. [1820-1834] (IK)
IPNI Plant Name Query Results,
mas também poderá tratar-se de outra espécie semelhante...
A linária mais seca não sabemos qual é, mas talvez algum ilustre botânico a possa identificar... let's hope so!
Tanto as linárias como a centáurea e a borboleta são provenientes de Bragança, Serra de Rebordãos, pr. Rebordãos, zona de rochas ultrabásicas, entre 950 e 1200 m.
Como sugestão musical, fica hoje It's All Too Much, do genial George Harrison:
It's All Too Much - The Beatles - YouTube
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segunda-feira, 11 de julho de 2011
Lagunaria patersonia (Malvaceae) e mais alguns bichos (Insecta)
Trazemos hoje aqui algumas fotos da bela malvácea Lagunaria patersonia (Andrews) G.Don, Gen. Hist. 1: 485. 1831 [early Aug 1831] (as "patersonii")
= Hibiscus patersonius Andrews Bot. Repos. 4: t. 286. 1803
IPNI Plant Name Details,
que é frequentemente cultivada como árvore decorativa em jardins e ruas das nossas cidades.
Sobre as folhas da interessante malvácea encontram-se alguns bichos, não menos interessantes: uma vespa (Vespideae) -talvez uma Polistes-, e ainda uns pequenos bugs em acasalamento, possivelmente hemípteros.
Apresentamos ainda uma bela borboleta doméstica, que talvez algum dos ilustres entomólogos que por aqui passam possa eventualmente identificar!
Como acompanhamento musical, vamos hoje sugerir "Third Uncle" do sempre excelente Brian Eno:
YouTube - Brian Eno - Third Uncle
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terça-feira, 5 de julho de 2011
Daboecia azorica (Ericaceae) e Anobium punctatum (Anobiidae)
Ainda aqui não tinha sido postada a extraordinária beldade endémica açórica Daboecia azorica Tutin & Warb.
Daboecia azorica Tutin & Warb. Queiró - Portal da Biodiversidade dos Açores
Assim, aqui fica ela!
A acompanhar esta adorável ericácea, deixamos aqui também um curioso coleóptero que gosta de roer os nossos soalhos de madeira (as larvas, não propriamente os adultos):
Common furniture beetle - Wikipedia, the free encyclopedia
Como acompanhamento musical, nada mais apropriado do que os excelentes Beatles, neste caso Martha my dear, uma belíssima homenagem musical de Paul à sua cadela Martha:
YouTube - Martha My Dear - The Beatles (1968)
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