quarta-feira, 21 de janeiro de 2015
Ceratocapnos claviculata subsp. picta
Em 1931, o botânico português Gonçalo Sampaio encontrou em Vila Nova de Paiva, município situado a cerca de 30 km a nordeste de Viseu, uma planta muito curiosa. Identificou-a como sendo pertencente à espécie Corydalis claviculata DC., mas dada a particularidade de possuir as tépalas externas róseo-violáceas, designou-a como var. picta Samp., do latim pictus (pintado). Amaral Franco elevou-a a subespécie no primeiro volume da Nova Flora de Portugal, passando-se assim a chamar Corydalis clavicula (L.) DC. subsp. picta (Samp.) Franco & P. Silva. Aquando da revisão de Lidén (1984), este passou para o género Ceratocapnos, as espécies Corydalis claviculata e Corydalis heterocarpa, sem negligenciar o taxon descoberto por Sampaio. Passou assim a designar-se actualmente Ceratocapnos claviculata (L.) Lidén subsp. picta (Samp.) Lidén. No entanto no primeiro volume da Flora Ibérica, o mesmo autor reconsiderou o estatuto da planta encontrada por Sampaio, argumentando que o material da recolha original se tinha perdido e que a planta só tinha sido colhida uma vez.
Em Junho de 2001, durante uma saída de campo realizada ao Parque Nacional da Peneda-Gerês, foi reencontrada em Tourém (concelho de Montalegre) uma planta com as características do táxon encontrado por Sampaio. Foi visitado o local onde foi colhida pela primeira vez (Vila nova de Paiva), onde se encontrava em grande abundância. O exemplar original (holótipo) tinha desaparecido misteriosamente do herbário do Gonçalo Sampaio mas foi descoberto um exemplar colhido na mesma altura (isótipo) que foi colocado no herbário de Sampaio. Desde a sua redescoberta em Montalegre, esta planta já foi avistada em vários outros locais (Montemuro, Alvão, Aboboreira), em orlas de matagais ou bosques abertos em zonas de transição de bioclima Eurosiberiano para Mediterrânico. Foto: Duarte Silva
sábado, 3 de janeiro de 2015
Schmeissneria sinensis
Numa carta dirigida ao botânica Joseph Hooker, em 1879, Darwin referia-se à origem das angiospérmicas como um "abominável mistério". O mistério continua por desvendar.
Já escrevi algures sobre este tema neste blogue. Hoje quero insistir numa pequena história que mostra que a botânica, como todas as outras ciências, não está livre da mordaça das ideias dominantes (dos paradigmas de Kuhn, para os aficionados em epistemologia).
A história é a que se segue.
Os primeiros pólens de angiospérmicas datam do Valingiano (Cretácico Inferior, ca. 135 M.a.). Os dados moleculares, consoante os autores, antecipam a sua origem para o Triássico Superior-Jurássico Inferior (199-167 M.a.), ou para o Triássico (170-229 M.a.).
As datas não batem certo, portanto.
O que é normal por três razões: 1) podem existir depósitos mais antigos de pólen fóssil de angiospérmicas por descobrir; 2) as primeiras populações de uma dado grupo taxonómico são por natureza escassas, e podem não ter tido a oportunidade de fossilizar; 3) as primeiras angiospérmicas poderiam ter um pólen semelhante ao das gimnospérmicas.
A recente sequenciação da Amborella trichopoda, a mais basal das angiospérmicas atuais, mostra que a gimnospérmica ancestral de todas as angiospérmicas, sofreu uma duplicação do seu genoma no Triássico Superior (214 M.a.). Os genes então duplicados puderam evoluir, desempenhar novas funções e codificar novas estruturas características das angiospérmicas.
As datações moleculares começam a ganhar consistência.
Wang et al. (2007) comprovaram em Schmeissneria sinensis, um fóssil do Jurássico Inferior, dois critérios fundamentais para distinguir positivamente uma angiospérmica: 1) presença de sementes encerradas num fruto; 2) extremidade do ovário fechada ao exterior antes da polinização. A Schmeissneria aparentemente pertence a um grupo extinto de angiospérmicas, anterior às angiospérmicas atuais, esporádico em comunidades vegetais dominadas por gimnospérmicas. Sendo correta esta interpretação, a Schmeissneria atira a origem das angiospérmicas para o Triássico Superior.
A informação fóssil e molecular parecem convergir.
O interessante nisto tudo é que os fósseis de Schmeissneria alteram de tal maneira a história oficial das angiospérmicas que foram sistematicamente desvalorizados nas mais recentes revisões sobre a origem das angiospérmicas. As minhas últimas leituras mostram que finalmente as coisas estão a mudar.
Já escrevi algures sobre este tema neste blogue. Hoje quero insistir numa pequena história que mostra que a botânica, como todas as outras ciências, não está livre da mordaça das ideias dominantes (dos paradigmas de Kuhn, para os aficionados em epistemologia).
A história é a que se segue.
Os primeiros pólens de angiospérmicas datam do Valingiano (Cretácico Inferior, ca. 135 M.a.). Os dados moleculares, consoante os autores, antecipam a sua origem para o Triássico Superior-Jurássico Inferior (199-167 M.a.), ou para o Triássico (170-229 M.a.).
As datas não batem certo, portanto.
O que é normal por três razões: 1) podem existir depósitos mais antigos de pólen fóssil de angiospérmicas por descobrir; 2) as primeiras populações de uma dado grupo taxonómico são por natureza escassas, e podem não ter tido a oportunidade de fossilizar; 3) as primeiras angiospérmicas poderiam ter um pólen semelhante ao das gimnospérmicas.
A recente sequenciação da Amborella trichopoda, a mais basal das angiospérmicas atuais, mostra que a gimnospérmica ancestral de todas as angiospérmicas, sofreu uma duplicação do seu genoma no Triássico Superior (214 M.a.). Os genes então duplicados puderam evoluir, desempenhar novas funções e codificar novas estruturas características das angiospérmicas.
As datações moleculares começam a ganhar consistência.
Wang et al. (2007) comprovaram em Schmeissneria sinensis, um fóssil do Jurássico Inferior, dois critérios fundamentais para distinguir positivamente uma angiospérmica: 1) presença de sementes encerradas num fruto; 2) extremidade do ovário fechada ao exterior antes da polinização. A Schmeissneria aparentemente pertence a um grupo extinto de angiospérmicas, anterior às angiospérmicas atuais, esporádico em comunidades vegetais dominadas por gimnospérmicas. Sendo correta esta interpretação, a Schmeissneria atira a origem das angiospérmicas para o Triássico Superior.
A informação fóssil e molecular parecem convergir.
O interessante nisto tudo é que os fósseis de Schmeissneria alteram de tal maneira a história oficial das angiospérmicas que foram sistematicamente desvalorizados nas mais recentes revisões sobre a origem das angiospérmicas. As minhas últimas leituras mostram que finalmente as coisas estão a mudar.
A general view of female structures, leaf, and short shoot. a. A general view of two female structures (a, b) and one leaf (c) on the same slab. The specimen A is the holotype, and specimens B and C are the paratypes. Specimen numbers 8604a, 8604b, and 8604c. Bar = 2 cm. b. A detailed view of specimen B in Fig. 1a. Note the twisted axis of the female structure and the attached female organs. Specimen number 8604b. Bar = 1 cm. c. A detailed view of the short shoot. Note the leaf cushion (black arrow) and the axis of the connected female structure (white arrow). Specimen number 8604a. Bar = 2 mm (Wang et al. BMC Evolutionary Biology 2007 7:14)
quinta-feira, 1 de janeiro de 2015
Papaver rhoeas L. (Papaveraceae)
Para começarmos bem o ano 2015 - com votos de próspero e feliz ano novo para todos! - nada como uma papoila bem vermelha e frutífera: Papaver rhoeas L. (Papaveraceae), fotografada em 3.V.2014 em Ferreirim (junto à torre), pr. Lamego (TM).
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