quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Notas de uma viagem a Portugal através de França e Espanha

Heinrich Friedrich Link foi um naturalista alemão que visitou Portugal, acompanhando pelo conde de Hoffmansegg, entre 11 de Fevereiro de 1798 e 1799, para estudar a flora portuguesa. A sua natureza observadora registou muito dos usos, costumes locais que moldavam a paisagem naquela época. Algumas das observações que fez na serra do Gerês são muito pertinentes e mostram a antiguidade cultural de algumas das práticas. Link refere na sua obra “Notas de uma viagem a Portugal através de França e Espanha” que a serras só tinham árvores junto aos rios e que a maior parte dos montes estava revestida por mato. O povo deitava fogo ao mato de três em três anos para renovar os pastos mas também para afugentar os animais perigosos. O vale do rio Homem não era cultivado mesmo naquela altura, em contraste com todas as zonas do Minho. Também lhe chamou a atenção a considerável quantidade de gado que era criado nas serras. Curiosamente, Link reparou que as pessoas ingeriam grandes refeições com muito carne, algo que se tornaria mais difícil no século XIX. Um dos objectivos dos dois cientistas era medir a altitude das serras daquela zona, o que não puderam fazer porque os monges boçais do mosteiro de S. Maria de Bouro lhe quebraram o barómetro que tinha resistido a toda a viagem. Em compensação Link descobriu uma planta nova para a ciência na zona de Leonte que chamou de Agrostis juressi. Depois da sua descrição, muitos botânicos procuraram esta planta naquelas serras, de tal maneira que o botânico Julio Henriques refere concretamente que “Depois do Prof. Link, nunca mais foi esta espécie encontrada no Gerez”. No verão de 2006 encontrei uma população na vertente galega do maciço geresiano, a poucos quilómetros da Portela do Homem. Tendo em conta o habitat da espécie, visitamos os ambientes turfosos com vegetação pioneira de baixa cobertura situados nas proximidades da localização galega, na vertente portuguesa, o que resultou na redescoberta de uma população no vale do rio junto à Portela do Homem.

3 comentários:

  1. Tenho esse livro para ler (e muitos outros) e pelos vistos muita coisa desconhecida para ver!!! Faço minhas as palavras do ZG.

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  2. É bem verdade, Carlos! É sempre bom rever por aqui os camaradas naturalistas - e sem dúvida que o Prof. Link era um dos melhores!

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