sexta-feira, 30 de setembro de 2011
Comemorando o equinócio, com Crocus serotinus (Iridaceae), Calamintha nepeta (Lamiaceae) e dois insectos
Embora com uma semana de atraso, motivada sobretudo por alguns problemas de cariz informático, não queremos deixar de comemorar a entrada do Outono!
Trazemos assim uma bela flor outonal, de Crocus serotinus Salisb. (Iridaceae) e ainda dois bichos bem interessantes: um bicho-pau ou fasmídeo (da ordem Phasmatodea) e uma borboleta (ordem Lepidoptera), com duas fotos e uma curiosa forma de avião!
A bela labiada que acompanha o Crocus parece ser a Calamintha nepeta (L.) Savi = Clinopodium nepeta (L.) Kuntze = Melissa nepeta L. (Lamiaceae ou Labiatae).
Quaisquer identificações serão bem vindas, por parte dos ilustres entomólogos visitantes!
domingo, 25 de setembro de 2011
Gramíneas e diatomáceas I
O planeta Terra pode ser compreendido como um organismo vivo que, por uma qualquer razão inexplicável, foi sempre capaz de repor equilíbrios ameaçados em favor do biota (a totalidade dos seres vivos). Por poucas palavras, esta é a ideia fundamental da teoria de Gaia de James Lovelock, pelo menos na sua formulação original. Se a Terra, no seu todo, é um organismo, a capacidade de se manter em equilíbrio em torno de condições ambientais óptimas para a vida (homeostasia) teria que resultar de um processo interactivo de tentativa e erro, submetido a selecção. A selecção natural actua ao nível do gene e do indivíduo, como poderia, saltando os níveis de complexidade do ecossistema e do bioma, estender-se à escala do planeta? A noção teleológica do funcionamento do sistema Terra que assiste a teoria de Gaia não é aceitável em ciência. A teoria de Gaia é uma metáfora.
A Terra tem, ainda, vida porque assim foi; calhou. O facto de a vida ser na Terra, e de uma espécie terráquea, a nossa, deter a capacidade de a conceptualizar e explorar, tolda-nos a razão, fazendo-nos crer que a existência é, por si só, um argumento suficiente da necessidade de ser. A vida pode até ter povoado os planetas Marte e Vénus, mas ambos foram "incapazes" de a manter. Retroacções positivas poderão ter causado a evaporação para o espaço dos oceanos de Marte, e a subida da temperatura da atmosfera de Vénus, a valores incompatíveis com a vida. Sem água líquida e temperaturas compatíveis com a química do carbono dificilmente poderá ocorrer vida. A leis físicas que explicam a retenção da vida na Terra, são as mesmas que explicam a sua não presença, ou extinção, em Vénus e Marte. Se há vida na Terra, então a vida poderá acontecer noutro local do universo. A regras que explicam a vida estão na Terra e fora dela, o que, no meu entender, torna um pouco interessante, quase irrelevante, a busca de vida extraterrestre.
James Lovelock, dizem tanto os seus seguidores como os seus detractores, teve um papel fundamental na compreensão das relações atmosfera-litologia-vida à escala geológica. A vida, desde a sua emergência há mais de 3,7 mil milhões de anos, interage com a atmosfera e com as rochas; a atmosfera e os substratos rochosos, por sua vez, interferiram na evolução da vida. As bactérias fotossintéticas e as plantas verdes foram determinantes na composição química da atmosfera, na meteorização das rochas e na formação de depósitos geológicos; os animais tiveram um papel por regra passivo, limitaram-se a obedecer às plantas, adaptando-se.
Gosto desta designação: "Grande Oxidação". Refere-se a um evento ocorrido há 2,4 mil milhões de anos, no início do Proterozóico (éon que decorre 2,5 mil milhões - 542 milhões de anos). No Hadeano e no Arqueano, éons anteriores ao Proterozóico, a atmosfera manteve-se fortemente redutora (diz Lovelock que este facto é essencial para explicar a emergência da vida). A maquinaria fotossintética das bactérias azul-esverdeadas produz um temível subproduto: o oxigénio. A paulatina acumulação deste gás na atmosfera - supõe-se, sem evidência directa, que pela acção das bactérias azul-esverdeadas (os mecanismos envolvidos na grande oxidação não são consensuais, alguns autores defendem que a explicação encontra-se na tectónica de placas, outros na produção bacteriana de metano) - redundou numa mudança catastrófica da química da atmosfera. Um dos efeitos mais dramáticos da acumulação atmosférica de oxigénio foi a precipitação do ferro suspenso nos mares arqueanos em extensos depósitos de ferro de grande valor económico. O oxigénio tem uma importante propriedade química: o oxigénio é um fortíssimo oxidante, aliás poucas substâncias são mais oxidantes do que o oxigénio. O oxigénio de rédea solta, sem controlo bioquímico, pode destruir as estruturas celulares, oxidando-as. Se dominado pela respiração, o mecanismo inverso da fotossíntese, permite extrair mais energia da matéria orgânica do que a fermentação. Com mais energia os animais podem ser maiores (as despesas energéticas são proporcionais à dimensão), e as plantas também. A Grande Oxidação abriu o caminho à explosão da vida animal nos mares câmbricos e, um pouco mais tarde, no Devónico, à conquista da Terra emersa, primeiro pelas plantas e logo a seguir pelos animais.
Perdi-me na escrita. Inicialmente queria discutir a forma como as gramíneas controlaram a composição do fitoplâncton marítimo e a evolução dos mamíferos herbívoros no Cenozóico. As gramíneas são apenas um dos muitos actores da vida na Terra que influenciaram e se deixaram influenciar pelas suas extraordinárias capacidades, pelo seu extraordinário sucesso evolutivo. Sem um contexto um pouco mais lato, recuando até à Grande Oxidação, poderia parecer que as gramíneas foram únicas a manipular os macro-caminhos da evolução. Sem compromissos de datas, essa história fica para depois.
A Terra tem, ainda, vida porque assim foi; calhou. O facto de a vida ser na Terra, e de uma espécie terráquea, a nossa, deter a capacidade de a conceptualizar e explorar, tolda-nos a razão, fazendo-nos crer que a existência é, por si só, um argumento suficiente da necessidade de ser. A vida pode até ter povoado os planetas Marte e Vénus, mas ambos foram "incapazes" de a manter. Retroacções positivas poderão ter causado a evaporação para o espaço dos oceanos de Marte, e a subida da temperatura da atmosfera de Vénus, a valores incompatíveis com a vida. Sem água líquida e temperaturas compatíveis com a química do carbono dificilmente poderá ocorrer vida. A leis físicas que explicam a retenção da vida na Terra, são as mesmas que explicam a sua não presença, ou extinção, em Vénus e Marte. Se há vida na Terra, então a vida poderá acontecer noutro local do universo. A regras que explicam a vida estão na Terra e fora dela, o que, no meu entender, torna um pouco interessante, quase irrelevante, a busca de vida extraterrestre.
James Lovelock, dizem tanto os seus seguidores como os seus detractores, teve um papel fundamental na compreensão das relações atmosfera-litologia-vida à escala geológica. A vida, desde a sua emergência há mais de 3,7 mil milhões de anos, interage com a atmosfera e com as rochas; a atmosfera e os substratos rochosos, por sua vez, interferiram na evolução da vida. As bactérias fotossintéticas e as plantas verdes foram determinantes na composição química da atmosfera, na meteorização das rochas e na formação de depósitos geológicos; os animais tiveram um papel por regra passivo, limitaram-se a obedecer às plantas, adaptando-se.
Gosto desta designação: "Grande Oxidação". Refere-se a um evento ocorrido há 2,4 mil milhões de anos, no início do Proterozóico (éon que decorre 2,5 mil milhões - 542 milhões de anos). No Hadeano e no Arqueano, éons anteriores ao Proterozóico, a atmosfera manteve-se fortemente redutora (diz Lovelock que este facto é essencial para explicar a emergência da vida). A maquinaria fotossintética das bactérias azul-esverdeadas produz um temível subproduto: o oxigénio. A paulatina acumulação deste gás na atmosfera - supõe-se, sem evidência directa, que pela acção das bactérias azul-esverdeadas (os mecanismos envolvidos na grande oxidação não são consensuais, alguns autores defendem que a explicação encontra-se na tectónica de placas, outros na produção bacteriana de metano) - redundou numa mudança catastrófica da química da atmosfera. Um dos efeitos mais dramáticos da acumulação atmosférica de oxigénio foi a precipitação do ferro suspenso nos mares arqueanos em extensos depósitos de ferro de grande valor económico. O oxigénio tem uma importante propriedade química: o oxigénio é um fortíssimo oxidante, aliás poucas substâncias são mais oxidantes do que o oxigénio. O oxigénio de rédea solta, sem controlo bioquímico, pode destruir as estruturas celulares, oxidando-as. Se dominado pela respiração, o mecanismo inverso da fotossíntese, permite extrair mais energia da matéria orgânica do que a fermentação. Com mais energia os animais podem ser maiores (as despesas energéticas são proporcionais à dimensão), e as plantas também. A Grande Oxidação abriu o caminho à explosão da vida animal nos mares câmbricos e, um pouco mais tarde, no Devónico, à conquista da Terra emersa, primeiro pelas plantas e logo a seguir pelos animais.
Perdi-me na escrita. Inicialmente queria discutir a forma como as gramíneas controlaram a composição do fitoplâncton marítimo e a evolução dos mamíferos herbívoros no Cenozóico. As gramíneas são apenas um dos muitos actores da vida na Terra que influenciaram e se deixaram influenciar pelas suas extraordinárias capacidades, pelo seu extraordinário sucesso evolutivo. Sem um contexto um pouco mais lato, recuando até à Grande Oxidação, poderia parecer que as gramíneas foram únicas a manipular os macro-caminhos da evolução. Sem compromissos de datas, essa história fica para depois.
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
Linaria vulgaris (Plantaginaceae) e mais alguns bichos (Insecta)
O post de hoje, como o nome indica, é sobre a belíssima Linaria vulgaris Mill., Gard. Dict., ed. 8: no. 1. 1768 [16 Apr 1768]
= Antirrhinum linaria L., Sp. Pl.: 616. 1753 ("Habitat in Europae ruderatis.")
= Linaria linaria (L.) H. Karst., Deut. Fl. (Karsten) 947. 1882 [Nov 1882] ; Wettst. in Engl. & Prantl, Naturl. Pflanzenfam. iv.3b (1891) 59
= Linaria vulgaris lutea, flore majore Bauh., pin.: 212
vol. 2 - Caroli Linnaei ... Species plantarum - Biodiversity Heritage Library
Esta excelente planta perene, superornamental, pertencente à nobilíssima tribu das Antirrhineae (http://bibdigital.rjb.csic.es/spa/RJBvistapag.php?pag=../Imagenes/F(46AND)VAL_Fl_And_Occid_2/VAL_Fl_And_Occid_2_507.pdf), constitui, ao que supomos, a espécie-tipo do género Linaria Mill., e encontra-se naturalizada em todos os estados dos Estados Unidos da América!
PLANTS Profile for Linaria vulgaris (butter and eggs) | USDA PLANTS,
sendo espontânea em grande parte da Eurásia, frequentemente como planta ruderal
Linaria vulgaris information from NPGS/GRIN
Linaria vulgaris in Flora of China @ efloras.org
Image/JPEG: Scrophulariaceae
Linaria vulgaris - Wikipedia, the free encyclopedia
Infelizmente, não se encontra espontânea em Portugal, embora viva em quase todos os países da Europa (http://euromed.luomus.fi/euromed_map.php?taxon=308396&size=medium).
É vernacularmente conhecida por "linária", "linária vulgar", "butter and eggs", "common toadflax", "osyride", "pajarita", "pajaritas", "yellow toadflax" e muitos outros nomes
PLANTS Profile for Linaria vulgaris (butter and eggs) | USDA PLANTS
The Euro+Med Plantbase Project
(Marhold, K. (2011): Scrophulariaceae. – In: Euro+Med Plantbase - the information resource for Euro-Mediterranean plant diversity).
Estas fotos -as da linária (nas quais é possível também vislumbrar um Rubus (Rosaceae) exibindo as saborosas amoras)- são de origem francesa, mais concretamente da Normandia
Longues-sur-Mer - Wikipédia;
As borboletas e a mosca, contudo, são bem portuguesas!
Como acompanhamento animal, vamos deixar aqui uma mosca (Diptera) e duas borboletas (Lepidoptera), uma das quais sobre Myosotis sp. (Boraginaceae), para os ilustres peritos entomólogos que visitam este blog identificarem, se assim lhes aprouver!
(Ficam desde já os nossos sinceros agradecimentos!)
Como sugestão musical deixamos esta maravilha, da autoria de G. Gershwin, Wilson, Bennett, "Nothing but Love"
Brian Wilson Reimagines Gershwin - Wikipedia, the free encyclopedia,
interpretada pelo grande Brian Wilson:
Brian Wilson - Nothing But Love - YouTube
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domingo, 11 de setembro de 2011
Campanula herminii (Campanulaceae) e mais algumas beldades
Como o nome do post indica, trazemos hoje aqui a bela Campanula herminii Hoffmanns. & Link, Fl. Portug. 2: 9. 1820 (Campanulaceae), uma planta serrana e um raro endemismo exclusivamente ibérico (http://euromed.luomus.fi/euromed_map.php?taxon=311911&size=medium), fotografada a mais de 1700 m, numa excursão estrelense, já há algum tempo.
A saxífraga, do mesmo local, deverá ser a Saxifraga spathularis Brot., Fl. Lusit. 2: 172. 1805 (Saxifragaceae),
uma bela "Estrela da Serra", conforme a muito apropriada sugestão que encontrámos neste óptimo blog Dias com árvores: Estrela da serra,
e um precioso endemismo ibero-irlandês (http://ww2.bgbm.org/EuroPlusMed/PTaxonDetail.asp?NameCache=Saxifraga spathularis&PTRefFk=7200000)
Ainda do mesmo local, sobre granito, fica um interessante líquen foliáceo, cuja identidade desconhecemos...
A venusta borboleta camuflada é das terras baixas e fica para identificação por algum dos ilustres lepidopterólogos que têm a amabilidade de nos visitar!
Como sugestão musical deixamos hoje esta pérola do excelente Roy Orbison: You Got it
Roy Orbison You Got it - YouTube
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segunda-feira, 5 de setembro de 2011
Microrrhinum minus (Plantaginaceae), uma Campanula (Campanulaceae) e uma borboleta (Lepidoptera)
Como o nome do post indica, trazemos hoje mais algumas beldades, animais e vegetais:
Microrrhinum minus (L.) Fourr. in Ann. Soc. Linn. Lyon 17: 127. 1869
= Antirrhinum minus L., Sp. Pl.: 617. 1753
= Chaenorhinum minus (L.) Lange in Willk. & Lange, Prodr. Fl. Hispan. 2: 577. 1870
= Linaria minor (L.) Desf., Fl. Atlant. 2: 46. 1798
uma bela e subtil planta anual, pertencente à tribo Antirrhineae das antigas Escrofulariáceas, que se encontra distribuída por quase toda a Europa e Região Mediterrrânica (http://euromed.luomus.fi/euromed_map.php?taxon=310672&size=medium; (Marhold, K. (2011): Scrophulariaceae. – In: Euro+Med Plantbase - the information resource for Euro-Mediterranean plant diversity),
uma Campanula (Campanulaceae) alpina, que não nos atrevemos a nomear, na companhia de um Galium (Rubiaceae),
e uma borboleta (Lepidoptera), com e sem flash, para alguma alma generosa identificar!
Propomos ainda uma breve viagem até Montreal, June 17, 2011, para ouvir o excelente Brian Wilson:
Brian Wilson live In Montreal June 17, 2011 - YouTube
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sexta-feira, 2 de setembro de 2011
Erigeron bonariensis, E. uniflorus (Compositae) e mais algumas beldades (Lepidoptera)
Para inciarmos o mês de Setembro da melhor maneira, aqui ficam as belíssimas compostas ou asteráceas
Erigeron bonariensis L., Sp. Pl.: 863. 1753
= Conyza bonariensis (L.) Cronquist in Bull. Torrey Bot. Club 70: 632. 1943,
que se encontra naturalizado quase em toda a Europa (http://euromed.luomus.fi/euromed_map.php?taxon=282946&size=medium)
PLANTS Profile for Conyza bonariensis (asthmaweed) | USDA PLANTS
Conyza bonariensis information from NPGS/GRIN
e
Erigeron uniflorus L., Sp. Pl.: 864. 1753,
uma planta alpina (e não só), que também possui uma ampla distribuição eurasiática (http://ww2.bgbm.org/EuroPlusMed/PTaxonDetail.asp?NameId=122779&PTRefFk=7000000; Greuter, W. (2006-2009): Compositae (pro parte majore). – In: Greuter, W. & Raab-Straube, E. von (ed.): Compositae. Euro+Med Plantbase - the information resource for Euro-Mediterranean plant diversity)
...e ainda mais algumas beldades lepidoptéricas, para os ilustres entomólogos que nos visitam se entreterem a identificar, se assim lhes aprouver!!
E, antes que acabe o Verão, aqui fica, muito apropriadamente:
Vivaldi - The Four Seasons - Summer , Julia Fischer (HD) - YouTube
Antonio Vivaldi - "Summer" from four seasons - YouTube
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