domingo, 15 de janeiro de 2012

Adeus latim. Viva o pdf!

O meu colega e amigo Jorge Capelo fez-me saber que algumas das alterações ao Código Internacional de Nomenclatura Botânica  (ICBN) aprovadas no XVIII Congresso Internacional de Botânica de Melbourne, em 2011, entraram em vigor há dias, a 1 de Janeiro de 2012, antes mesmo da publicação de uma nova edição do  ICBN, a sair do prelo nos meados deste ano.
As principais novidades estão disponíveis, numa tradução em português, aqui.
Além das expectáveis pequenas alterações provenientes da releitura de algum artigo, do desenvolvimento de novas recomendações e de novas adições aos apêndices de Nomina Conservanda (nomes conservados contra as regras do código) e Nomina Rejicienda (nomes rejeitados concordantes com código), o código trás duas grandes novidades, precisamente as entraram em vigor no início do corrente ano.
Desde 1935 que o nome de um novo taxon actual (a regra não era aplicada a plantas fósseis) só era válido se acompanhado de uma diagnose em latim. O uso de inglês em alternativa ao latim passou a ser autorizado. A aceitação do inglês faz sentido porque a obrigatoriedade do latim, na realidade, era um instrumento de dominação das elites botânicas ocidentais educadas na tradição clássica, sobre os botânicos de países de distinto fundo cultural. E, contou-me um dos editores do Código de S. Luís, que as diagnoses em latim persistiam porque os botânicos norte-americanos, como muitas vezes acontece com os países novos, eram os campeões do tradicionalismo.
Menos sentido faz, no meu entender, a permissão da publicação de novos nomes em pdf em e-livros ou e-revistas. A nova redacção do artigo 29 obriga a que os novos nomes sejam publicados em revistas com ISSN e livros com ISBN, ainda assim, parece-me, existe um claro risco de uma proliferação descontrolada de novos nomes. Os taxonomistas, com frequência, já perdem mais de 50% do seu tempo a trabalhar sinonímias. Uma medida proposta para acelerar a o estudo e a descrição da diversidade vegetal pode revelar-se contraproducente.
O Código Internacional de Nomenclatura Botânica também muda de nome: passa a ser designado por Código Internacional de Nomenclatura de Algas, Fungos e Plantas. De facto, a micologia seguiu um caminho independente da botânica e os fungos não são plantas, aliás, evolutivamente, estão mais próximos dos animais do que das plantas.

2 comentários:

  1. Muito interessante e informativo!!
    São grandes mudanças!

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  2. Não deixa de ser paradoxal que a internet, o mais expedito meio de comunicação jamais inventado. possa acidentalmente multiplicar o número de sinonímias; afinal de contas, parte significativa das mais antigas resultaram tão-somente das limitações técnicas à difusão de ideias.

    Crês que seria possível, Carlos, obviar este problema criando um repositório obrigatório online desses mesmos pdfs associado ao Index Kewensis, por exemplo?

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