quarta-feira, 9 de novembro de 2011
Algumas considerações sobre o choupo-negro
Foto: Duarte Silva
O carácter autóctone do choupo-negro (Populus nigra) em Portugal sempre foi muito discutido, dificilmente havendo consenso entre os diversos especialistas. Em termos ecológicos, a sua estratégia de vida é completamente diferente da das árvores ripícolas com as quais convive no nosso território. Ecologicamente comporta-se como uma “árvore ruderal”, crescendo rapidamente e produzindo imensas sementes com uma capacidade de dispersão enorme. Rapidamente envelhece, sendo que um choupo-negro com cem anos é uma árvore velhíssima. Árvores com o freixo, o amieiro ou o lódão podem viver durante centenas de anos e comportam-se mais como especialistas no seu habitat, tendo uma grande capacidade para resistir a eventos extremos e ao stress ambiental causados por esses eventos. O habitat do choupo parece ser locais sujeitos a inundações catastróficas periódicas resultantes das chuvas invernais ou causadas por degelos repentinos na primavera. Na Península Ibérica, um dos poucos rios que apresenta essas características é o Ebro, e um estudo recente da variação do DNA cloroplastidial desta espécie (Cottrell et all., 2005) mostra que este rio foi um dos principais refúgios para esta espécie durante as glaciações. Se neste momento parece não existir dúvidas que o choupo-negro é autóctone da Península, resta saber se ele chegou ao nosso território através da migração natural, ou foi trazido pelo Homem.
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Uma boa pergunta e um excelente post!
ResponderEliminarPost muito interessente, e gostaria de colocar uma questão. Penso que o salix atrocinerea apresenta um comportamento algo semelhante ao P. nigra, nomeadamente o carácter "ruderal"?
ResponderEliminarObrigado.
AC
Apesar de tudo, apresenta algumas diferenças fundamentais. Cresce mais lentamente, produz menos sementes e em condições difíceis onde outras árvores higrófilas não conseguem crescer, podeviver durante bastante tempo. Entre as espécies lenhosas higrófilas, é a que apresenta o carácter pioneiro mais marcado.
ResponderEliminarPaulo Alves
Excelente post, Paulo!
ResponderEliminarDe facto é difícil perceber onde estaria esta espécie na paisagem pristina de Portugal continental. Na margem de ribeiras torrenciais em vales muito abertos a baixa altitude? Talvez os homens da genética nos possam dar um dia pistas para resolver o mistério.
Antes de mais dou-te os parabéns sobre este excelente trabalho! Estava a procurar informação sobre o choupo negro, ou branco, para começar a escrever o meu livro de poesia do próximo ano. Grande abraço e continuação de bons e belos trabalhos. Sérgio Mendes.
ResponderEliminarEste é um interessante artigo sobre o Álamo Negro, contendo informação rara, em particular sobre a sua história na península ibérica. Há no entanto um grave erro que urge corrigir: diz que um álamo negro com 100 anos é uma árvore velhíssima. Talvez em Portugal. Nas ilhas britânicas, onde é considerada a mais rara espécie de árvore autóctone e como tal, tem vindo a ser bastante estudada, consideram que algumas destas árvores chegam a viver 300 anos.
ResponderEliminarhttp://es.wikipedia.org/wiki/El_%C3%A1lamo_negro_de_Babisnau
Neste link pode ver um álamo negro plantado em 1808 que ainda hoje demonstra grande vitalidade, além de ser um exemplar belíssimo.
Talvez eu tenho percebido mal o artigo e apenas diga que o álamo negro envelhece rápido e tem depois uma velhice prolongada... Se for esse o caso peço desculpa por apontar um erro inexistente.
ResponderEliminarCaro José Filipe
EliminarAcho que não percebeu mal. O problema é que esse choupo que referiu é um raridade e a maior parte dos exemplares de choupo envelhece muito rapidamente tal como é referido em muitos livros: "A fast-growing tree, reaching maturity in about 100 years and declining thereafter". A expressão que usei foi um bocado exagerada mas os choupos da cidade do porto com mais de 50 anos estão a ser cortados devido a questões de segurança publica.