quarta-feira, 30 de maio de 2012

Trevos, anafes e luzernas de Portugal

A publicação deste livro dependente do número de pré-reservas.
P.f. demonstre o seu interesse através do endereço trevoseanafes@ipb.pt 

O professor Vasco Garcia, conhecido por "o pipetas", décadas a fio professor de Microbiologia do Instituto Superior de Agronomia (ISA), costumava fazer uma pergunta tão simples, como de árdua resposta. O professor perguntava qualquer coisa do tipo: "que aconteceria ao mundo se as leguminosas desaparecessem ". Os deslumbrados e simples alunos do primeiro ano, desconhecedores da complexa mente do Prof. Garcia, discorriam, então, alongadamente sobre a interação simbiótica leguminosa-rizóbio, quando o professor, inquieto, pedia apenas uma lapidar resposta: "a morte".
Sim, sem leguminosas os ecossistemas terrestres, pouco produtivos, apenas poderiam contar com o escasso azoto proveniente das descargas atmosféricas, e das bactérias diazotróficas que habitam, livres, esse complexo habitat que é o solo. A complexidade da vida animal que hoje povoa a Terra não existiria.
Sem a incorporação de leguminosas a agricultura nunca teria sido o que foi, e a população humana o que é. E os sistemas de agricultura do futuro terão, obrigatoriamente, que incluir leguminosas e uma componente animal que as coma e digira.
Mas para trabalhar a agricultura do futuro é preciso saber coisas, muitas coisas, e entre elas conhecer profundamente esta família angular que são as leguminosas.
Boas notícias para todos.
Três autores de nomeada, do Instituto Superior de Agronomia, Maria Edite Sousa, Maria Lisete Caixinhas e Paulo Forte preparam-se para atirar para cá para fora um livro que a todos nos ajudará: ao agricultor, ao naturalista amador, ao agrónomo, ao botânico, ao curioso.
Chama-se ele: Trevos, anafes e luzernas de Portugal.

Eis o resumo:

Trabalhos sobre o conhecimento botânico das espécies forrageiras têm sido efectuados por muitos investigadores não apenas da União Europeia mas também do resto do mundo. No entanto, em Portugal, somente em 1962 foi publicado pelo Serviço de Informação Agrícola da Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas da Secretaria de Estado da Agricultura – Ministério da Economia – da autoria do Professor João de Carvalho e Vasconcellos do Instituto Superior de Agronomia, o livro intitulado “Ervas Forrageiras”.
Em 1990, Portugal enviou para a “FAO International”o relatório nacional das espécies da flora portuguesa potencialmente importantes, entre as quais foram mencionadas algumas forrageiras.Como aparece agora este trabalho, considerado como Manual Universitário a ser adoptado em Instituições Universitárias Agronómicas, Veterinárias e por Técnicos Agrícolas?Em 1995, foi apresentada uma tese de doutoramento sobre o tema: “Pastagens da Região de Setúbal” (Sousa, 1995), em que foram efectuados 422  levantamentos florísticos o que  permitiu às autoras a selecção das espécies a serem estudadas nesta obra.Em 2001, foi publicado a 3ª edição de um livro (Caixinhas et al., 2001) em que foram divulgadas 200 espécies de plântulas de espécies adventícias das culturas. Entre estas foram incluídas 28 espécies de Leguminosas consideradas também como forrageiras.As cerca de 70 espécies agora apresentadas tidas como forrageiras importantes são estudadas desde a sua emergência após germinação até à formação da vagem com sementes.Pela experiência que temos desde há  quatro décadas no Instituto Superior de Agronomia, baseada em respostas a consultas efectuadas por alunos de Agronomia ou Veterinária e por Técnicos destas áreas, sobre a identificação de espécies forrageiras, justifica-se que o seu conhecimento é tanto mais útil quanto mais jovens elas são; daí o interesse da sua identificação no estado de plântula. Também as aulas em que colaborámos nas disciplinas de Agricultura nos levaram à conclusão ser indispensável o conhecimento botânico de forrageiras desde os primeiros estados de desenvolvimento, enquanto ainda possuem cotilédones (planta jovem) – plântula.A obra agora apresentada é o resultado de um estudo iniciado em2003, em que se tem vindo a fotografar e descrever, desde então, algumas espécies de Medicago L., Melilotus Mill. e Trifolium L consideradas mais relevantes em Portugal como forrageiras.Foi adoptada a nomenclatura científica da Flora Ibérica (Castroviejo et al., 2000) e para os nomes vulgares adoptámos os divulgados por Rocha (1996).Na metodologia seguida, no que concerne ao estudo de cada espécie, menciona-se: a origem geográfica, a distribuição em Portugal, o habitat e referências ecológicas mais relevantes.Em cada descrição da plântula mencionam-se os caracteres morfológicos dos cotilédones, primeira, segunda e por vezes a terceira e as seguintes folhas. Sempre que a observação o permitiu, foram descritos: o hipocótilo, os cotilédones, o epicótilo e as folhas verdadeiras. Para os cotilédones e folhas verdadeiras seguiu-se geralmente a seguinte ordem: inserção (só para folhas verdadeiras), dimensões, forma geral, margem, ápice, base, textura, cor, indumento, superfície e nervação.Para as plantas adultas mencionam-se o tipo fisionómico de acordo com a classificação de Raunkjaer (1934) e a descrição morfológica do caule, folhas, inflorescências, flores, frutos e sementes bem como o início e final da floração.Para algumas espécies descreve-se  também o seu valor económico, refere-se a sua importância no controlo da erosão do solo e o seu interesse como potencial fonte genética em programas de melhoramento de pastagens, como leguminosas proporcionam um enriquecimento do solo em azoto e fornecem elevada concentração de proteína à forragem.Actualmente, com a crescente importância da manutenção da biodiversidade, são fundamentais estudos botânicos que permitam a conservação e cultura de prados e pastagens para o incremento da produção forrageira.

domingo, 27 de maio de 2012

Mulches de ferro

Haja água e calor e qualquer solo, pobre ou fértil, é rapidamente colonizado por plantas. Nas fitocenoses naturais e semi-naturais, a morte das plantas anuais e a folhada mantêm uma cobertura orgânica, quase contínua, do solo. Grandes extensões de solo nú (n.b. a rocha nua não é solo), que não resultem da acção directa do homem, são raras nas nossas latitudes.
Nos sistemas de agricultura industriais, pelo contrário, mantém-se o solo nu para reduzir o efeito da competição das ervas-daninhas, e, assim, disponibilizar espaço e concentrar a água, nutrientes e luz nas  plantas cultivadas.
Cobrir o solo com resíduos vegetais, embora rara, era uma técnica praticada nos sistemas de agricultura tradicionais. Onde vivo, no NE de Portugal, cobriam-se com palha os alhos no final do Outono, ou as entrelinhas da batateira Primavera adentro, por exemplo. E não deixam de ser um tipo de mulch, os blocos de xisto que recobrem os solo das vinhas do Douro.
O mulch reduz-se as perdas de água por evaporação, elimina o efeito de splash (o poder de desagregação das partículas do solo) das gotas da chuva, ou da rega por aspersão, e o poder erosivo do escorrimento superficial da água das chuvas. Protegido o solo, a água da rega compacta menos, deprimem-se as infestantes, e as minhocas e outros organismos benéficos trabalham mais próximo da superfície do solo. Os mulches orgânicos, têm um efeito benéfico nos teores de matéria orgânica do solo. 
Muitas vantagens, uma grande desvantagem: o custo.

Na falda sul da Serra de Reboredo, Moncorvo, encontrei um extraordinário tipo de mulch, algo que nunca antes tinha visto: vinhas, olivais e amendoais cobertos por uma densa, espessa e contínua camada de calhaus de hematite, sem nesga de solo à vista. Extraordinário.

Não estou seguro como se formou este  manto de hematite, não sou geólogo. Vou arriscar, aqui vai uma hipótese. Durante milhões de anos, resvalaram, de lá de cima, dos afloramentos de ferro do topo da Serra do Reboredo, blocos de hematite, entretanto esborcelados e polidos pelo atrito e pela meteorização química. O arado e a charrua puxaram-nos à superfície.  A eliminação da vegetação pelo fogo, roça e mobilização amplificou o arrastamento das partículas finas do solo, por erosão laminar, da camada superficial do solo. Os óxidos de ferro produzidos pela meteorização química facilitaram o processo, porque rapidamente se desagregam e suspendem na água da chuva.
Poucas plantas conseguem sobreviver neste pavimento de pedras roladas, esbraseante nos dias de forte radiação solar, que se expande, contrai, move, com o calor e o frio.

sábado, 26 de maio de 2012

Carex lusitanica (Cyperaceae)

Ciclicamente escrevo sobre lameiros. Se buscarem a palavra lameiro no "pesquisar neste blogue" foram 13 os posts, nestes três anos e pico de "Das plantas e das pessoas". Vivo em Trás-os-Montes, sou agrónomo e gosto de plantas - era inevitável.
Num dos posts (aqui) referi os riscos de uma gestão relaxada dos lameiros. O dono descuida-se, não fena, não arranca as ervas-daninhas à enxada, não limpa muros e agueiras, e rapidamente se espandem plantas indígenas pouco produtivas, de baixa palatibilidade. Tenta-se o fogo, o herbicida, mas a certa altura a boa flora pratense só é recuperável com uma mobilização seguida de ressementeira.
Hoje trago uma das infestantes mais perniciosas dos lameiros mal-tratados, o Carex lusitanica (Cyperaceae):


C. lusitanica, com o passar dos anos, desenvolve uma toiça densa, em altura, com uma grande quantidade de folhas secas na base:

O fogo é uma forma de conter o alastramento da espécie a partir das linhas de água. Para que os cárices lusitanos ardam  o prado tem que estar bem seco, e a humidade relativa baixa.
Nestas condições o risco de ignição de matos e matas vizinhos aos lameiros, a partir das queimadas é grande.


Depois do fogo as plantas tomam este extraordinário aspecto:




Os cadáveres das toiças de C. lusitanica fazem lembrar, por exemplo, as  Xanthorrhoeaceae australianas (foto de Xanthorrhoeaceae, Jardim Botânico da Universidade do Porto) .


De fora considerações filogenética, o C. lusitanica tem logo uma irremediável diferença em relação aos seus análogos tropicais: suporta bem o frio; fazia um frio de rachar quando foram gravadas as fotos  da espécie aqui apresentadas.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Papaver dubium L. (Papaveraceae)


Esta bela planta ornamental e ruderal, espontânea e muito comum em Portugal, da família das Papaveráceas, ainda aqui não tinha sido postada: Papaver dubium L., Sp. Pl. 2: 1196. 1753 [1 May 1753]. Foi fotografada hoje mesmo, junto de outras plantas ruderais como Lapsana communis L. (Compositae) e Fumaria muralis W.D.J.Koch (Papaveraceae/ Fumariaceae).

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Crocus chrysanthus (Herb.) Herb. (Iridaceae)

Uma belíssima espécie de Crocus (Iridaceae) das montanhas calcáreas do sul da Anatólia (24.III.2010): Crocus chrysanthus (Herb.) Herb. = Crocus annulatus var. chrysanthus Herb. (Basion.) (http://www.theplantlist.org/tpl/record/kew-327214)

domingo, 20 de maio de 2012

Filogenia de poáceas

GPWG (Grass Phylogeny Working Group) publicou, no início do corrente ano, um novo paper de filogenia das gramíneas (aqui). A topologia da árvore filogenética das gramíneas pouco mudou nestes últimos 11 anos, desde o GPWG (2001, aqui): três grupos basais (AnomochlooideaePharoideae Puelioideaede corologia tropical, aninhados em série, sucedidos por dois grandes clados irmãos, BEP e PACMAD. O  BEP inclui as subfamílias Bambusoideae (bambus), Ehrhartoideae (e.g. Oryza sativa «arroz») e Pooideae (subfamília da maioria das gramíneas indígenas de Portugal). O clado  PACMAD agrega Panicoideae (e.g. Sorghum bicolor «sorgo» e Zea mays «milho-graúdo»), Arundinoideae (e.g. Arundo donax «cana»), Chloridoideae (e.g. Cynodon dactylon «grama»), Micrairoideae (grupo tropical ausente de Portugal), Aristidoideae  (grupo tropical ausente de Portugal) e Danthonioideae (e.g. Cortaderia selloana «cortaderia»)
Enquanto revisitava a árvore filogenética da Poaceae fiquei curioso, e googlei em busca da história da descoberta da Anomochlooideae, o grupo mais primitivo de todas as gramíneas. Nestas coisas da filogenia é inevitável, a atenção foge para a base das árvores, onde radicam os taxa ancestrais, e para os taxa mais evoluídos, ricos em caracteres derivados. A descrição da primeira espécie de Anomochlooideae - a Anomochloa marantoidea - deve-se a Adolphe-Théodore Brongniart [1801-1876], um botânico francês, afincado estudioso da Flora da Nova Caledónia, citado nos livros, e na Wikipedia, como o pai da paleobotânica. Interessante, Paris está inscrita como localidade clássica da tropical A. marantoidea, porque a planta que lhe serviu de tipo encontrava-se cultivada num jardim botânico da capital de França. Durante mais de um século multiplicaram-se os exemplares de herbário de A. marantoidea, todos com a mesma proveniência: um punhado de sementes que alguém trouxe, em data desconhecida, de algures, no Brasil. A agrostóloga argentina, Cleofe Carderon, naturalista no Sminthsonian National Museum, reecontrou-a em 1976, numa plantação de cacaueiros no Estado da Baía, 125 anos depois da descrição de Brongniart. Esta curiosa história é contada aqui. Não é única do tipo.

Lolium perenne L. (Poaceae ou Gramineae)

Mais uma beldade do Reino Vegetal, fotografada hoje mesmo: Poaceae: Lolium perenne L. Sp. Pl. 1: 83. 1753 [1 May 1753] View page [BHL] Links: basionym of:Poaceae Festuca perennis (L.) Columbus & J.P.Sm. Aliso 28: 65 (-66). 2010 [21 May 2010] Original Data: Notes: Europ.; As. temp. (http://www.ipni.org/ipni/idPlantNameSearch.do?id=407493-1)

terça-feira, 15 de maio de 2012

Anagallis monelli L. (Primulaceae)

Fotografámos hoje esta beldade no CW. calc. (entre Botão e Souselas) e vamos postá-la aqui: Primulaceae: Anagallis monelli L., Sp. Pl. 1: 148. 1753 [1 May 1753] basionym of: Lysimachia monelli (L.) U.Manns & Anderb. Willdenowia 39(1): 52. 2009 [7 Jul 2009] (http://www.ipni.org/ipni/idPlantNameSearch.do?id=700104-1)

sábado, 12 de maio de 2012

Caixas florais pintadas à mão (várias famílias)

Já há muito tempo que aqui não se postava nada, por isso fica hoje um post, bastante diferente dos habituais, neste caso sobre arte botânica, com três fotos de caixas florais pintadas à mão, incluindo imagens das seguintes espécies: Na foto com duas caixas, de cima para baixo: Apocynaceae: Vinca difformis Pourr., Mem. Acad. Toul. iii. (1788) 333. basionym of: Vinca major L. subsp. difformis (Pourr.) M.Laínz, Aport. Conoc. Fl. Gallega 6: 22. 1968 [26 Oct 1968]. Ranunculaceae: Hepatica nobilis Mill., Gard. Dict., ed. 8. Hepatica no. 1 [textus s.n.]. 1768 [16 Apr 1768] Type Information: native of North America; cultivated in UK. Convolvulaceae: Calystegia sepium ( L. ) R.Br., Prodr. Fl. Nov. Holland. 483. 1810 [27 Mar 1810] basionym: Convolvulus sepium L., Sp. Pl. 1: 153. 1753 [1 May 1753]. Na foto com três caixas, de cima para baixo: Orchidaceae: Cypripedium calceolus L., Sp. Pl. 2: 951. 1753 [1 May 1753] Distribution: Europe, Asia & North America Type Information: Type Specimen: Dodoens, Stirp. Hist. Permpt. ed. 2, 180, fig. 1, 2. 1616. Plantaginaceae: Kickxia spuria ( L. ) Dumort., Florula Belgica 1827 = Antirrhinum spurium L., Sp. Pl. 2: 613. 1753 [1 May 1753] Kickxia spuria (L.) Dumort. subsp. integrifolia (Brot.) R. Fern. = Antirrhinum spurium L. var. integrifolium Brot. Plantaginaceae: Linaria triornithophora ( L. ) Cav., Elench. Pl. Horti Matr. 21 (1803); cf. Rothm. in Fedde, Repert. xlix. 52(1940). = Antirrhinum triornithophorum L., Sp. Pl. 2: 613. 1753 [1 May 1753], um endemismo exclusivo da Península Ibérica. E, na foto com seis caixas, no sentido dos ponteiros do relógio: Solanaceae: Solanum dulcamara L., Sp. Pl. 1: 185. 1753 [1 May 1753] Type Location: lectotype LINN (NO. 248.7). Oxalidaceae: Oxalis acetosella L., Sp. Pl. 1: 433. 1753 [1 May 1753] Type Information: Locality: "Habitat in Europae borealis sylvis." Alismataceae: Alisma sp., flores brancas de uma bela planta aquática, espontânea em Portugal, em locais frescos e húmidos. Iridaceae: Moraea sisyrinchium (L.) Ker Gawl., Ann. Bot. [König & Sims]. 1(2): 241. 1804 [1 Sep-6 Nov 1804] = Iris sisyrinchium L., Sp. Pl. 1: 40. 1753 [1 May 1753] Original Data: Notes: Reg. Mediterr.; Oriens; Afghan = Gynandriris sisyrinchium (L.) Parl., Nuov. Gen. Sp. 52. = Helixyra sisyrinchium (L.) N.E.Br. Geraniaceae: Geranium sanguineum L., Sp. Pl. 2: 683. 1753 [1 May 1753] Distribution: "Europae pratis siccis umbrosis"; introduced in North America Type Information: lectotype BM (HERB. CLIFFORD 343). Myrsinaceae: Trientalis europaea L., Sp. Pl. 1: 344. 1753 [1 May 1753] Type Information: Locality: "Habitat in Europae borealis sylvis & juniperetis." Informações provenientes de IPNI: http://www.ipni.org/ipni.