O GPWG (Grass Phylogeny
Working Group) publicou, no início do corrente ano, um novo paper de filogenia das gramíneas (aqui). A topologia da árvore filogenética das gramíneas pouco mudou nestes últimos 11 anos, desde o GPWG (2001, aqui): três grupos basais (Anomochlooideae, Pharoideae e Puelioideae) de corologia tropical, aninhados em série, sucedidos por dois grandes clados irmãos, BEP e PACMAD. O
BEP inclui as subfamílias Bambusoideae (bambus), Ehrhartoideae (e.g. Oryza sativa «arroz») e Pooideae (subfamília da maioria das gramíneas indígenas de Portugal). O clado
PACMAD agrega Panicoideae (e.g. Sorghum bicolor «sorgo» e Zea mays «milho-graúdo»), Arundinoideae (e.g. Arundo donax «cana»), Chloridoideae (e.g. Cynodon dactylon «grama»), Micrairoideae (grupo tropical ausente de Portugal), Aristidoideae
(grupo tropical ausente de Portugal) e Danthonioideae (e.g. Cortaderia selloana «cortaderia»).
Enquanto revisitava a árvore filogenética da Poaceae fiquei curioso, e googlei em busca da história da descoberta da Anomochlooideae, o grupo mais primitivo de todas as gramíneas. Nestas coisas da filogenia é inevitável, a atenção foge para a base das árvores, onde radicam os taxa ancestrais, e para os taxa mais evoluídos, ricos em caracteres derivados. A descrição da primeira espécie de Anomochlooideae - a Anomochloa marantoidea - deve-se a Adolphe-Théodore Brongniart [1801-1876], um botânico francês, afincado estudioso da Flora da Nova Caledónia, citado nos livros, e na Wikipedia, como o pai da paleobotânica. Interessante, Paris está inscrita como localidade clássica da tropical A. marantoidea, porque a planta que lhe serviu de tipo encontrava-se cultivada num jardim botânico da capital de França. Durante mais de um século multiplicaram-se os exemplares de herbário de A. marantoidea, todos com a mesma proveniência: um punhado de sementes que alguém trouxe, em data desconhecida, de algures, no Brasil. A agrostóloga argentina, Cleofe Carderon, naturalista no Sminthsonian National Museum, reecontrou-a em 1976, numa plantação de cacaueiros no Estado da Baía, 125 anos depois da descrição de Brongniart. Esta curiosa história é contada aqui. Não é única do tipo.
É muito curioso - dois posts independentes sobre gramíneas no mesmo dia!!
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