terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Azolla pinnata subsp. africana (Azollaceae) e Marsilea coromandeliana (Marsileaceae)

O arroz é o alimento base dos guineenses.
Tradicionalmente o ciclo de arroz segue o ciclo das chuvas. Começa a chover em Maio-Junho. Em Outubro a convergência intertropical migra para sul, e começa a seca. Portanto em Junho mobilizam-se os canteiros nas bolanhas (terras-baixas) e fazem-se os viveiros. A plantação do arroz decorre em Julho-Agosto, e a colheita em Novembro.
Um dos segredos da produtividade do arroz nos trópicos está num dos dois fetos! desta foto:


Dois fetos salviniales: Azolla pinnata subsp. africana (Azollaceae) [flutuante de cor castanha] e Marsilea coromandeliana (Marsileaceae) [semelhante a um trevo de 4 folhas]

É que escondido nas folhas das azolas está um ser muito peculiar, uma bactéria azul-esverdeada, de nome Anabaena azollae. Este microscópico simbionte tem no seu arsenal bioquímico uma enzima muito especial, exclusiva de alguns poucos procariotas, a nitrogenase, que consegue quebrar a irredutível ligação tripla do azoto molecular atmosférico, reduzindo-o a amónia. O mais difícil fica feito porque qualquer planta é depois capaz de construir aminoácidos (as peças de lego das proteínas) juntando amónia a cadeias carbonadas, direta ou indiretamente, provenientes da fotossíntese.
A A. azollae fixa azoto; a azola cresce e reproduz-se; a azola morre; o azoto mineral entra no agroecossistema arrozal; o arroz absorve o azoto mineral, cresce e produz grão ... e as gentes alimentam-se.

5 comentários:

  1. Muito interessante e empiricamente invisível para quem o planta e colhe; suponho que noutras partes do planeta onde é cultivado, outros seres, diferentes destes, intervenham na cadeia/ciclo do azoto?

    Obrigado pelo conhecimento
    Carlos M. Silva

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  2. Bom dia Carlos,

    muito interessante o teu post. Uma dúvida: a azola que temos por cá (A. filiculoides), também apresenta simbiose com alguma bactéria fixadora de azoto?
    Obrigado
    AC

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  3. Mais um belíssimo post, com dois fetos aquáticos raros e belos, que se encontram então de alguma forma associados ao arroz - presumo que seja a mesma espécie de arroz que se utiliza por cá...

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  4. Carlos, a simbiose azola & Anabaena é muito importante (a fixação biológica de N assemelha-se, em condições óptimas, a um campo de leguminosas temperadas), mas a história é mais complexa. Uma diversa flora microbiológica participa na fixação biológica nos arrozais tropicais. O pouco que ainda li sobre o assunto está neste fantástico texto: http://dspace.irri.org:8080/dspace/bitstream/10269/207/2/971220068X_content.pdf. O tandem arroz-Azolla é incontornável para explicar o sucesso reprodutivo do H. sapiens no SW asiático (p.f. lê as páginas 172 e 173 do livro do Pierre Roger).
    Sim, AC, a nossa A. filiculoides também coopera com a Anabaena, aliás parece que com mais sucesso (em termos de fixação biológica do N) do que a A. pinnata. Haja fósforo na água e tudo corre de feição.
    ZG, em África cultivam-se duas Oryza: a O. sativa de origem asiática e a O. glaberrima de domesticação africana. Sei que as duas ocorrem na Guiné, mas não consegui perceber onde se cultiva a O. glaberrima. Pagava para a ver.

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