Com o Outono meado, procurando aqui e ali, nos sítios (habitats) certos, lá se vai encontrando uma ou outra flor. Não há defeso para naturalista que gosta de plantas :-)
Por exemplo, nos entulhos de construção, um pouco por todo o país, é fácil observar esta curiosa planta:
Flores e frutos de Ecballium elaterium (Cucurbitaceae) «pepino-de-são-gregório» [foto C. Aguiar, Moncorvo]
Como pertence à família das cucurbitáceas, o E. elaterium produz um pseudofruto (fruto s.l. derivado de um ovário ínfero) baciforme (semelhante a uma baga), que os botânicos, por convenção, apelidam de pepónio. Portanto, são pepónios o melão, a melancia, e os frutos das demais cucurbitáceas cultivadas. O pepónio do pepino-de-são-gregório tem, porém, uma característica muito particular. Na maturação, naturalmente, ou quando perturbado pela passagem de um animal (e.g. homem), destaca-se do pedúnculo e, nesse instante, projecta violentamente as sementes a longa distância. Diz-se que o E. elaterium possui um pepónio espermabólico. Um engenhoso exemplo de dispersão autocórica, i.e. com meios próprios, da planta, é claro.
Aqui vai uma sequência de imagens a retratar o acto de dispersão das sementes nesta espécie (p.f. clicar para ampliar):
[fotos C. Aguiar: Moncorvo]
Experimentem percorrer, em passo acelerado, um "pepinal" de S. Gregório. Parece um dia de carnaval! Esguichos de sementes por todo o lado, em todas as direcções. Cuidado, podem atingir os olhos! Depois cumpram a vossa função de dispersores animais: sacudam a roupa nos entulhos de construção do vizinho ;-)
Se há planta que não compreendo é esta. Pergunto, existirá algum sítio no mundo onde esta planta apareça longe do homem, fora dos entulhos? Nem que seja só um sítio..? O que têm os entulhos das obras de tão especial, não lhe chegará um campo lavrado, uma berma de caminho, ou qualquer outro tipo de perturbação?
ResponderEliminarBem, podia dizer coisa semelhante de Nicotiana glauca, Datura stramonium e outras exóticas, mas estas, lá para a América, suponho que devam aparecer em sítios mais naturais.
Este "pepino" parece ser estritamente um especialista em entulhos das obras! Ou está-me a escapar alguma coisa?
Bela sequência de fotos, nunca me ocorreu sequer tentar capturar fenómeno tão rápido numa foto!
Um abraço.
Olá Miguel. Partilho da tua perplexidade.
ResponderEliminarVou inventar um bocadinho; estes pontos de encontro virtuais são óptimos para isso mesmo.
A Papaver somniferum subsp. somniferum é um arqueófito com uma ecologia similar ao E. elaterium. O mesmo acontece com outros arqueófitos, como referes. Se o E. elaterium fosse um arqueófito, nitrófilo-rupícola na sua terra de origem, então esta original ecologia já faria sentido. As nossas Floras de referência, porém, assumem que o o E. elaterium é uma espécie indígena de Portugal. Enfim, este "pepino" tem ainda muita história para contar ;-) Abraço.
A marvel!!
ResponderEliminarzg
E como se encaixa fitossociologicamente, esta maravilha de planta ruderal?
ResponderEliminarzg
Existirá um Ecbalietum? E em que classe se incluirá?
ResponderEliminarzg
gostei da corrida no pepinal !
ResponderEliminarBem, descobri este blog à mesmo pouco tempo mas a verdade é que estou a gostar mesmo muito... ainda sou um "puto" novo que gosta de plantas, da agricultura e da Natureza em geral!
ResponderEliminarObrigado a todos os que contribuem para a existência deste blog! :D
O entulho das obras deve ter uma molécula especial, que ainda não foi descoberta :P.
ResponderEliminarÉ fantastico só a encontro mesmo ai nesses locais.
Já estás linkado.
ResponderEliminarOlá Carlos!
ResponderEliminarÉ um caso bicudo - parece-me bem chamar este "pepino" de nitrófilo-rupícola; mas falta qualquer coisa mais. Não dormirei descansado se meter este "pepino" no mesmo saco da N.glauca, D.stramonium, etc. ;-)
Com este tipo de ecologia, porque não aparecem estas plantas nas margens rochosas e cascalhos de leito de cheia dos rios do Alentejo? À primeira vista não me parecem ser condições ambientais assim tão diferentes.
E estou agora também a pensar noutros dois géneros misteriosos para mim, Hyosciamus e Parietaria, aos quais, julgo eu, também encaixam perfeitamente esses dois adjectivos nitrófilo-rupícola. No entanto aparecem em locais em geral muito diferentes das anteriores.
Mas é melhor parar de mandar achas para a fogueira, pois as conversas de ecologia são intermináveis.
A família Cucurbitaceae é uma família estranha. (já agora vejam esta)
Abraço!
O texto e a sequência de fotos estão simplesmente fantásticas! Muitos Parabéns!
ResponderEliminarA família das Cucurbitáceas não só é estranha como é constituída por "familiares" com elevada capacidade adaptativa e evolutiva. Na minha opinião, isso deve-se à enorme variedade de genes do seu ancestral...uns são expressos, outros não mas isso confere às 'cucurbitas' uma grande diversidade de fenótipos, como sabemos.
Em todos os continentes, do Japão à Índia, passando pela Europa, África e América, há uma espécie de melão que deu (e dá) de comer a muita gente...
Este 'pepino' parece que não se come mas não quer passar despercebido...hehe
Tenho várias plantas de pepino de S. gregório no meu jardim. Com água abundante e boa terra atinge maiores dimensões em relação ao local de origem.Serve de grande divertimento às visitas, pois sempre que alguém lhe toca, desprende-se emitindo um ruido, tipo pequena explosão ,lançando um liquido pegajoso e pequenas sementes. Os vizinhos não acham tanta graça, pois aparece nos seus quintais dada a facilidade de reprodução .
ResponderEliminarEn la zona donde vivo (Ciudad Real-España), lo conocemos como pepinillo del diablo y cuando eramos pequeños hacíamos "pequeñas guerrillas" lanzándonos estas semillas. Qué buenos recuerdos me ha traido volver a ver esta planta en vuestro blog. Os felicito y la secuncia de imágenes es espectacular
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