Por duas razões maiores.
Por um lado são seres insaciáveis. Embora os micróbios que habitam o complexo sistema digestivo dos grandes herbívoros domésticos sejam capazes de digerir a celulose - a molécula mais abundante no reino vegetal - em favor dos seus mamíferos simbiontes, as plantas são alimentos de baixa qualidade e têm que ser consumidas em grande quantidade (e.g. uma vaca consome em média 15 kg de matéria seca/dia) para cobrir os enormes custos energéticos da maquinaria bioquímica animal.
Por outro lado, a boca, a língua e os dentes destes animais são instrumentos maravilhosos de arranque e corte de matéria verde. Percebi isto mesmo quando vi ovelhas a comer rebentos de Genista hystrix - uma giesta de caules rijos e aguçados - sem arranharem o focinho húmido e sensível, burros a deleitarem-se com Rubus «silvas», vacas Barrosãs e Maronesas a consumir com apetite Ulex minor «tojo-molar», e garranos a pastar o assanhado Ulex europaeus «tojo-arnal» sem castigar a boca e a língua. Eu não consigo colher amostras destas espécies sem picar as mãos, quanto mais debicar amoras de silva e cinorrodos (o fruto ...) de roseira com os dentes!
"Rastejar" é uma solução "lógica" para escapar aos efeitos da herbivoria. Mais do que as folhas há que manter bem rentes ao solo os meristemas (aglomerados de células que mantêm a capacidade de se dividir, geralmente situados na extremidade dos caules ou na axila das folhas), as flores e as sementes. Assim acontece em três dos trevos mais conhecidos da nossa flora: o T. subterraneum, o T. glomeratum e o espantoso T. suffocatum.
T. suffocatum, um dos trevos morfologicamente mais originais da flora portuguesa. N.b. hábito prostrado; flores sésseis (sem pedicelo) aglomeradas na axila das folhas; folhas de limbo delgado e pecíolo longo e esguio, energeticamente baratas (fáceis substituir), adaptadas a atravessar densas matas de plantas rasteiras e emergir à sua superfície em busca da luz solar (fotos CA)
Mais um belíssimo trevo da nossa flora!
ResponderEliminar