A palestra de abertura foi entregue à Drª Monica Turner, uma conhecida ecóloga norte-americana que há décadas estuda o efeito do fogo e das explosões de escolitídeos na estrutura e função dos ecossistemas de Yellowstone (ver aqui). A palestra versou, essencialmente, o impacto dos fogos que devassaram o mais antigo Parque Nacional do planeta em 1988, e os brutais ataques de escolitídeos que se lhe seguiram Os resultados obtidos pela equipa da Drª Turner são claros: nem os fogos de copa massivos, nem os "outbreaks" de escolitídeos são desastres ecológicos em Yellowstone; estes dois tipos de perturbação são parte integrante da história, e do funcionamento dos ecossistemas e das paisagens deste imenso território. Tudo voltará a ser como dantes, desde que o clima e os padrões de perturbação se mantenham estáveis.
A passagem da conferência que mais me impressionou foi o relato da descoberta do facto de os ecossistemas de Yellowstone conservarem eficazmente o azoto (N) após fogo. Não fazia ideia. Nas fotos que ilustraram a palestra identificavam-se muito bem, por entre os guiços ardidos de gimnospérmicas arbóreas, mares de flores rosadas de uma famosa, e formosa, planta: o Epilobium angustifolium. Trata-se de uma planta nitrófila de distribuição holártica, raríssima em Portugal (apenas está citada para Serras do Gerês e Montesinho). De acordo com a Drª Turner, esta e outras plantas subnitrófilas de orla e clareira de bosque são os agentes da conservação do N após fogo. Entretanto, a regeneração das árvores - em Yellowstone de Pinus contorta, P. albicaulis, Picia engelmannii e Abies lasiocarpa - reduz rapidamente o habitat destas plantas preferencialmente heliófilas (de ambientes ensolarados), e os nutrientes inicialmente por elas retidos acabam por ser capturados pelas árvores. Então, a presença de plantas subnitrófilas facilita a regeneração das árvores porque o N geralmente é o nutriente mais escasso, e que mais controla a produtividade dos ecossistemas naturais. Que mecanismo maravilhoso! No nosso rectângulo, desempenham uma função semelhante, entre muitas outras plantas, várias espécies dos géneros Asphodelus (Xanthorrhoeaceae), Urtica (Urticaceae) «urtigas», Senecio (Asteraceae) e Cirsium (Asteraceae).
Como não encontro as minhas fotos de E. angustifolium, aqui vai um primo, o Epilobium hirsutum, comum de Norte a Sul nos depósitos vasosos que marginam as nossas linhas de água.
A conservação do N nas paisagens de matriz florestal não resultou de um desenho cuidado de mosaicos de ecossistemas pela mão da evolução, ou de um ente superior. A selecção natural, não esqueçamos, só actua à escala do gene, do indivíduo ou, quando muito, de pequenos grupos de indivíduos [não mais de 25, dizem-nos Levin & Kilmer (1974)]. A cíclica, e brusca, disponibilização de N por eventos de perturbação nas florestas criou oportunidades de especiação que por sua vez redundaram em benefício das essências florestais. Faz todo o sentido, mas não estava a priori previsto, creio.
Servir de reservatório de N é muita generosidade da parte dos belos epilóbios, assim como da parte dos nossos simpáticos asfodelos, círsios, jacobeias, senécios e urtigas!
ResponderEliminarBoa tarde Jorge,
ResponderEliminarIndicaram-me o seu nome como alguém que me pode ajudar a identificar esta espécie de jasmim que tenho no quintal.
Ao fim de 5 anos deu estas "mangas". Será um jasmim manga?
Obrigada
Lurdes Soares
http://biodivers-cidade.blogspot.com/2010/09/jasmim-manga.html
http://www.facebook.com/profile.php?id=100001296684763
27 de Setembro de 2010 13:34
Extraordinário, Carlos!
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