Uma Salicornia, outro género halófilo (de plantas adaptadas a solos ricos em sais) frequente nos sapais externos nacionais:
Salicornia ramosissima (Amaranthaceae)
[Sapal da Baía do Monte de Saint-Michel, foto C.Aguiar]
As Salicornia são amarantáceas anuais de caules carnudos e articulados (atenção, as Sarcocornia e os Arthrocnemum são perenes). Trata-se de um género difícil ao que parece com uma única espécie, muito polimórfica, em Portugal: a S. ramosissima. Esta posição conservadora assumida pela Flora Iberica não é aceite por todos os autores.
Taxonomias à parte, as Salicornia são muito interessantes pela sua ecologia. Estas espécies habitam áreas perturbadas (e.g. pelo pisoteio e pela deposição de sedimentos) nos sapais externo baixo (e.g. comunidades Sarcocornia perennis subsp. perennis), externo médio (e.g. comunidades de S. perennis subsp. alpini, de S. fruticosa ou de Halimione portulacoides) e, por vezes, de prados-juncais e outras comunidades halófilas. Vamos ainda encontrá-las em salinas e nas margens dos canais que sulcam os sapais (os maiores e mais largos chamam-se esteiros) e estão submetidos, duas vezes por dia, à acção mecânica das marés.
Nos Verões mais secos e prolongados, nos sapais atlânticos (eurossiberianos), verifica-se uma subida assinalável do teor em sal nos solos que não contactam directamente com a água do mar (e.g. solos dos prados-juncais). Existem evidências que algumas das plantas que colonizam estes solos não conseguem tolerar a subida da pressão osmótica do solo (i.e. do teor em sais), morrem, penetrando as Salicornia em sua substituição. O inverso ocorre nos Verão húmidos. Que belo mecanismo de co-existência!
Nos sapais encontramos então uma vegetação anual - que os fitossociólogos colocam na classe Thero-Salicornietea - adaptada a preencher áreas perturbadas. Curioso, o mesmo acontece em algumas comunidades dunares (dunas secundária e terciária), e nos solos não compensados hidricamente em toda a região mediterrânica (excepto nas montanhas mais altas). Este tema merece ser aprofundado um dia destes.
O Mont Saint-Michel (et ses environs) é uma verdadeira maravilha!!
ResponderEliminarzg
Já há um agricultor do Baixo Mondego a explorar esta planta como substituto do sal, actualmente exporta para alguns países nórdicos.
ResponderEliminarClaramente a vegetação de Thero-Salicornietea é tipicamente mediterrânica. A maior precipitação nas zonas eurosiberianas faz com que haja uma maior lixiviação dos sais acumulados. E por essa razão, existe uma enorme de variedade de espécies e tipos funcionais característicos desta vegetação nas zonas mediterrânicas. Pelo contrário, nas zonas do norte da Europa, as plantas anuais de ambientes halófitos em sapais não são específicas de Thero-Salicornietea e são "emprestadas" por outras classes, como é o caso da Sagina maritima.
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