quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sarcocornia perennis vrs. S. fruticosa (Amaranthaceae)

Continuando pelo litoral ...
Num post recente (aqui) apresentei dois géneros fundamentais na estrutura da vegetação de sapal: Sarcocornia e Arthrocnemum. Pertencem ambos à família Amaranthaceae (inc. Chenopodiaceae) e mostram uma morfologia semelhante: plantas perenes de caules carnudos e articulados. O Arthrocnemum macrostachyum, a única espécie do género em Portugal, habita sapais mediterrânicos não sendo por isso conhecido dos sapais a norte do Rio Mondego. A Sarcocornia fruticosa sobe um pouco mais a norte, até ao sistema lagunar do Vouga. A S. perennis é frequente em todos os sapais nacionais.

Antes de explorar a estrutura da vegetação dos sapais, tema que abordarei um destes dias, é necessário distinguir bem Sarcocornia perennis de S. fruticosa, e as duas subespécies de S. perennis.

O arbusto prostrado em primeiro plano é a Sarcocornia perennis subsp. perennis; em segundo plano, à esquerda, temos a Sarcocornia fruticosa, e, à direita, outra importante planta de sapal, o Halimione portulacoides. As plantas da foto estão cobertas de uma fina película de limo porque são visitadas pelas marés duas vezes por dia .


Pormenor de Halimione portulacoides (Amaranthaceae). Nos sapais eurossiberianos, a Norte de Aveiro, são frequentes comunidades quase extremes desta espécie.

A Sarcocornia perennis distingue-se facilmente da S. fruticosa pelos seus artículos caulinares em forma de barril e por enraizar nos nós (necessariamente do caule porque só os caules têm nós), como se constata na figura seguinte:

Pormenor de Sarcocornia perennis subsp. perennis (Amaranthaceae). N.b. raizes adventícias inseridas nos nós de caules submergidos na vasa (plantas arrancadas para o efeito).

As subespécies portuguesas de S. perennis são muito semelhantes. A S. perennis subsp. perennis é um pequeno arbusto sufruticoso (= sufrútice) rasteiro de caules flexuosos (até 20 cm de altura); a S. perennis subsp. alpini tem caules mais rígidos e ergue-se a maior altura (até 60-80 cm de altura).
[fotos C. Aguiar]

6 comentários:

  1. Os sapais são um dos ecossistemas mais fantásticos que conheço. Como até já comentámos, na Ria Formosa, a Sarcocornia fruticosa surge frequentemente é na beira dos canais interiores do sapal e não se estende pelo sapal baixo na 'frente do sapal' como parece ser o caso na foto. Normalmente são as comunidades de Sarcocornia perennis a primeiras nessa posição, logo a seguir às Spartina, a contar da água. A posição relativa no xadrez do sapal vai mudando à medida que vais subindo para Norte, grosso modo. Certo é que Sarcocornia perenis e S. alpini depois voltam a re-assumir dominência ecológica no Sado. Assunto para os fitossociólogos vocacionados para a micro-geomorfologia dos sapais, pois aí residirá a explicação... :-)

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  2. Jorge, a foto é do Sapal de Aljezur. Há uma ou duas semanas conversavamos sobre algumas das originalidades fitocenóticas deste sapal: a dominância da S. fruticosa e a escassez de Spartina são invulgares, assim como a ausência de S. alpini (não a vi, pode ser ser que lá esteja). Este duas características do sapal de Aljezur estão, provavelmente, relacionados com o facto da água se retirar de grande parte do sapal durante a maré baixa, restando uma grande superfície quase plana a seco. Esta é uma evidência de que o sapal está em regressão por colmatação. Os barcos subiam até à vila no séc. XIII, suponho. É muito provável que os amiais paludosos (pântanos de amieiro) que se avistam da estrada para a praia da Amoreira ocupem áreas há pouco séculos cobertas por sapal.

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  3. Fiquei com uma dúvida: como distinguir entre Sarcocornia fruticosa e Sarcocornia perennis subsp. alpini ?

    Devia ter colocado fotos de ambas as espécies lado a lado!

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  4. Caro anónimo. As subsp. alpini e subsp. perennis, de S. perennis, são semelhantes (diferem sobretudo no porte). Portanto, os critérios para distinguir S. perennis subsp. perennis e S. perennis subsp. alpini, de S. fruticosa são os mesmos. Resumido. S. perennis: caules enraizantes nos nós, artículos caulinares em forma de barril, flor das inflorescências parciais de três flores de tamanho semelhante. S. fruticosa: caules não enraizantes, artículos +/- cilíndricos, flor central muito maior do que as duas laterais.

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  5. Estou atraz de informações sobre a 'Sarcocornia perene'. Sou estudante brasileiro e tenho pretensões de cultivar esta espécie com efluentes salinos, rico em nutrientes. Estou interessado em conhecer melhor esta planta, e também compartilhar o pouco que sei e que descobrir durante minhas pesquisas. Ficaria muito agradecido se vcs do blog ou qualquer interessado em trocar informações entrassem em contato comigo pelo email robsonmpereira@hotmail.com.

    Desde já agradeço pela atenção, e parabenizo pelo blog que é muito interessante!!

    Abraços.

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