Billhete postal novecentista do Parque Siebold em Nagasaqui, Japão (fonte: Wikipedia commons).
É sempre uma ocasião especial ser-nos dado observar um tipo nomenclatural. Relembro que se trata de um exemplar de herbário ao qual está associado indelevelmente o nome científico de uma planta. Quaisquer que sejam as reviravoltas na classificação e nomenclatura - mudanças de género, fusões, divisões (de espécies), mudanças de categoria, combinações, substituição de nomes - o tipo está lá, sempre associado ao nome original (chama-se basiónimo, por isso) e vai viajando ao sabor das tentativas de estabilização nomenclatural e de obtenção de um modelo taxonómico coerente - ora entre parêntesis, ora fora, ora relegado para sinónimo. Não é o caso desta 'hortênsia', que - por enquanto - foi descrita e ficou como tal desde então.
Este fotografei-o numa exposição dedicada a Philipp Franz von Siebold (1796-1866), médico e naturalista alemão ao serviço do governo holandês que descreveu esta espécie de hortênsia- Hydrangea paniculata - e aliás, muita da flora e fauna do Japão: país onde viveu vários anos. (Descreveu a salamandra-gigante japonesa, por exemplo).
Está também ligado a certos exemplares de herbário, a história de quem os colheu. Por ter tido acesso a mapas cedidos pelo astrónomo-chefe do Império e cartografado uma parte do Norte do Japão, P. F. Siebold foi acusado de alta traição pelos japoneses. Ofereceu-se para nunca mais deixar o país e por honradez, assim nunca revelar os segredos de estado. Os japoneses apreciaram de tal modo o gesto, que ele e a sua colecção foram autorizados a deixar o Japão a bordo do famoso navio Batavia e regressar à Holanda.
Como de costume, está ligado aqui o artigo da wikipedia relativo à biografia deste botânico.
Veja aqui um site com variedades hortícolas de hortênsias 'paniculata'
Impressiona a qualidade deste tipo. É fantástico como sobreviveu, incólume, a uma viagem de alto mar entre o Japão e a Europa, a revoluções, e tudo o mais (basta ler a entrada da wikipedia que propões). Sobretudo quando constatamos a dificuldade em manter os herbários actuais, num ambiente de paz e de abundância de recursos (à escala da sociedade). A dedicação, o esmero, a picuinhice de botânicos como o Siebold é notável!
ResponderEliminarBem observado, actualmente a situação dos herbarios é pouco brilhante... e no futuro... quem sabe? - pois a paz e sobretudo a abundância de recursos (à escala da sociedade) poderão não perdurar...
ResponderEliminarabraço,
ZG