Todos os anos visito uma certa charca na Serra de Nogueira para rever o Eryngium viviparum. Este ano foi terrível para as plantas anuais adaptadas a solos temporariamente encharcados. Mesmo assim o E. viviparum conseguiu cumprir o seu ciclo biológico, e produzir sementes.
Eryngium viviparum (Apiaceae) [foto C. Aguiar]
O E. vivaparum é um endemismo, de distribuição muito pontual nas fachadas atlânticas de Portugal, Espanha e França. Em Portugal estava há muito citado para três localidades nos arredores do Porto (e.g. Sr. da Pedra, Vila Nova de Gaia). Os terrenos localizados a norte de Leça da Palmeira (Matosinhos), hoje ocupados pela refinaria de petróleos do Cabo do Mundo, deveriam ser particularmente favoráveis a esta espécie. Muito botânicos percorreram nos últimos 15 anos, sem sucesso, os arredores do Porto em busca do E. viviparum. As populações douro-litorais foram certamente extirpadas pela enorme pressão urbanística e industrial a que os arredores do Porto estão submetidos.
Deambulava eu um dia, solitariamente, pela Serra de Nogueira quando dei de caras com uma pequena depressão húmida em rochas básicas, provavelmente construída pelos serviços florestais, ao longe assinalada por pequenos tufos de Juncus effusus. Amarrei-me, como se diz em Trás-os-Montes, e detectei, por entre as plantas de Mentha pulegium (Lamiaceae), as pequeninas e características folhas e inflorescências espinhosas de um grácil Eryngium anual. Como tive a sorte de observar, pela mão da Prof. Dalila do Espírito-Santo, o E. galioides no Algarve, a identificação foi imediata: E. viviparum.
Depois de uns pulos de alegria, de umas fotos e da cuidadosa colheita de 2 exemplares, estendi-me num tapete de Agrostis x fouilladei (Poaceae) com uma palhinha nos dentes a usufruir o sol ameno do início de Verão na montanha , e questionei-me. Como aparece o E. viviparum em Trás-os-Montes? Ainda por cima numa charca artificial? É possível que tenha viajado, de charca em charca, deste tempos imemoriais por esta Serra. A ser verdade os biólogos dirão que o E. vivaparum tem uma dinâmica metapopulacional na Serra de Nogueira. Porém, nunca vi outra população de E. viviparum por estas bandas! O mais provável é que uma ou mais sementes tenham sido acidentalmente transportadas por uma ave, a partir das populações do vizinho Lago de Sanábria. O mais sério candidato para este serviço de dispersão será o pato-real (Anas platyrhynchus). Desde que não seja pertubada esta espécie nidifica facilmente em pequenos charcos, ainda que secos no Verão.
Agora todos os cuidados são poucos. É essencial que os serviços oficiais tomem conhecimento da localização da única localidade portuguesa de E. viviparum, e que se preocupem com a sua conservação. É fácil. Basta deixar estar como está, e não estragar.
Fascinante! É realmente parecido com o E. galioides, e a acção dos patos é notável!!
ResponderEliminarzg
Como se lle chama comunmente ao Eryngium viviparum?
ResponderEliminarEste ano já produziu sementes? Ano passado, início de Maio, ainda estava por baixo da água... Tem chovido tão pouco também em Trás-os-Montes? Abraços, Udo Schwarzer
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