terça-feira, 6 de abril de 2010

Calendula vulgaris (Asteraceae)

As listas de plantas características das classes de vegetação nitrófilas e seminitrófilas ibérica (vd. aqui) mostram-nos que uma parte muito significativa da nossa flora - as contas estão ainda por fazer - habita margens de caminhos, pousios, muros e taludes.
A identificação da flora nitrófila e seminitrófila não é fácil, bem pelo contrário. Alguns dos géneros mais representativos deste enorme grupo ecológico são muito diversos, e as suas espécies morfologicamente semelhantes. O bom florista não pode evitar a flora infestante e ruderal: tem que investir muitas e boas horas de intensivo treino, por exemplo, com dicotiledóneas ruderais dos géneros Carduus, Erodium, Fumaria, Sonchus, Spergularia, Silene, Trifolium, ou Vicia, ou com gramíneas dos géneros Avena, Bromus ou Hordeum.
A mestria florística de um botânico não se testa com plantas raras de morfologia exuberante, ou de ecologia e área de distribuição concreta e reduzida! Felizmente, a identificação das plantas ruderais e infestantes, não é menos exaltante do que a identificação de uma orquídea: os coleccionistas, de cromos a selos, entendem, certamente, como é gratificante a descoberta de uma planta nunca vista, por mais comum que ela seja. Depois, muitas destas plantas detêm pormenores entusiasmantes de biologia ou ecologia que vale a pena explorar.

Para decorar esta pequena reflexão trago hoje a mais do que comum Calendula vulgaris (Asteraceae) «erva-vaqueira»:


Uma curiosidade.
Os frutos, i.e. as cipselas, da maioria das asteráceas portuguesas, têm um papilho de pêlos, e dispersam-se pelo vento:


Os frutos da erva-vaqueira não têm papilho, mas sim pequenos tubérculos e espinhos, que facilitam a sua dispersão suspensos no ventre de um animal, na asa de uma ave, ou nos interstícios de umas botas de montanha (dispersão zoocórica):

1 comentário:

  1. Será que lhe chamam «erva-vaqueira» por as vacas apreciarem comê-la?

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