Ao correr algumas das minhas fotos encontrei-me com o visco, que fotografei há já alguns anos na Normandia (França).
Viscum album (Santalaceae) a parasitar macieira. Trata-se de um hemiparasita (tendo clorofila, converte a energia solar em energia química [ATP] e poder redutor [NADPH]), dióico, de bagas (na realidade pseudobagas, o ovário é ínfero) brancas, de polpa muito viscosa e tóxica (parece que bastam 20 para varar um homem). Tanto quanto sei as citações portuguesas da espécie são antigas e duvidosas.
Os herbalistas atribuem-lhe inúmeros usos medicinais. À semelhança do Leontopodium alpinum (Asteraceae), a edelweiss, ou estrela-de-prata, como lhe chamaram alguns tradutores, o visco é mais conhecido pelos livros do Astérix.
Uderzo desenha Panoramix, o amigo druída de Astérix, a colher visco em carvalhais de Quercus robur com uma foice de ouro, porque "só assim a planta mantém os seus poderes mágicos". No Astérix o Gaulês, o primeiro livro da série, logo na terceira prancha, Astérix e Obelix procuram Panoramix no bosque pristino que envolve a aldeia gaulesa: na versão em Mirandês (Asterix L Goulés), diz Astérix que "el debe de star ne l meio de la rama a apanhar bizgo cul sou foucin d'ouro". O tema retorna, por exemplo, no Astérix e a Foice de Ouro, ou no Astérix e os Godos.
Goscinny, o argumentista das melhores histórias de Astérix, fantasia em torno do visco e de algumas práticas druídicas, directa, ou indirectamente, inspirado em duas conhecidas passagens do Naturalis Historia de Plínio-o-Velho [23-73 d.C.].
São elas (tradução do inglês):
"Alguns supersticiosos acreditam que o visco é mais eficaz se colhido de um carvalho numa noite de lua nova, sem usar ferro, e sem que ele toque o solo ..."(XXIV, 6);
"Os druidas nada consideram mais sagrado do que o visco e a árvore onde ele cresce, desde que essa árvore seja um carvalho. ... O visco, porém, é raramente encontrado no carvalho, quando tal acontece é colhido com a maior cerimónia no nono dia da lua ... preparam um sacrificio ritual e um banquete sob a árvore ... um sacerdote vestido de branco sobe à árvore com uma foice de ouro e corta o visco ..." (XVI, 95).
O Naturalis Historia termina num breve e pungente parágrafo, de extraordinária beleza (copy past da tradução portuguesa de Pompeia, uma novela de Robert Harris): "Salvé Natureza, mãe de toda a criação, atenta que apenas eu entre os homens de Roma te louvei em todas as tuas manifestações, sê misericordiosa comigo".
Uma planta fantástica - também é uma das minhas preferidas!
ResponderEliminarMuito se aprende neste blog: até sobre "Asterix L Goulés"!!
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