terça-feira, 13 de abril de 2010

Celtis australis (Cannabaceae)


Flores hermafroditas (à esquerda) e masculinas (à direita) de Celtis australis, que aparecem simultaneamente com as folhas (Portugal, Lamego, foz do rio Varosa).
Destacam-se os grandes estigmas sésseis e os estames epitépalos (dispostos sobre as tépalas da
flor). [foto TiagoMH]


A Celtis australis L. (Cannabaceae) está agora em plena floração. Esta árvore caduca identifica-se facilmente pelo seu ritidoma (casca) liso, acinzentado e quase sem fissuras, pelas folhas longamente acuminadas (terminando em ponta estreita e comprida) e trinérveas na base. A espécie foi tradicionalmente colocada na família das Ulmaceae (muito próxima filogeneticamente, que se caracteriza pelas sementes muito achatadas) e mesmo numa família distinta, as Celtidaceae. No Angiosperm Phylogeny Website encontram-se justificações (e referências bibliográficas) para a inclusão do género Celtis na família das Cannabaceae (agrupando os géneros Celtis, Humulus, Cannabis, entre outros). Ao que parece, estes géneros partilham caracteres que não estão presentes nos antepassados comuns com as Ulmaceae (apomorfias), tais como: flores incompletas, pêlos unicelulares normalmente micropapilosos, nervação palmada, etc. (mas note-se que as flores incompletas existem também em algumas Ulmaceae e que a Celtis australis, por exemplo, possui flores completas; atente-se igualmente para o facto de a nervação da C. australis não ser verdadeiramente palmada). A proposta filogenética actual torna difícil descrever a morfologia comum aos géneros da família das Cannabaceae. Talvez estudos futuros possam trazer mais luz sobre o assunto.

5 comentários:

  1. Belíssima árvore - também é uma das minhas preferidas!

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  2. Afinal, discutir filogenia não é coisa exclusiva de zoólogos! Post fantástico, Tiago.

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  3. "A proposta filogenética actual torna difícil descrever a morfologia comum aos géneros da família das Cannabaceae. Talvez estudos futuros possam trazer mais luz sobre o assunto."

    Este interessante post levanta-me 2 questões:

    Se não se consegue perceber a morfologia comum às Cannabaceae, então como é que se podem utilizar as chaves dicotómicas para identificar as espécies?

    Será relevante ir cegamente atrás da proposta filogenética actual? Ou podemos esperar pela próxima?

    AC

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  4. Caro AC:

    Respondendo à primeira pergunta, existem outras famílias (e até géneros; e mesmo espécies!) onde acontece o mesmo e a solução é simples: as chaves têm caminhos diferentes que nos levam à mesma família (género ou espécie). Nada de grave e compreensível, ou seja: filogeneticamente as espécies estão muito próximas, mas uma pequena alteração morfológica pode obrigar-nos a uma chave um pouco mais estendida.
    Em relação à segunda pergunta, convém compreender que a solução actual é a melhor que a ciência conseguiu produzir (excepto tenha ocorrido alguma situação excepcional que nos seja desconhecida e que invalide os resultados obtidos). A solução que se encontra em muitas floras recentes que incluem o género Celtis nas Ulmaceae ("Nova Flora de Portugal", "Flora iberica") é também ela algo insatisfatória, já que o desencontro morfológico se mantém com os géneros Ulmus, Zelkova etc.
    No entanto, em ciência, é possível que apareçam soluções ainda melhores, baseadas igualmente em estudos químicos e genéticos. A inclusão do género Celtis numa família própria (e.g. Celtidaceae) soa bem, mas esperemos por ulteriores estudos que eliminem o teor especulativo desta minha última afirmação.

    Cumprimentos.

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  5. Não consigo conter o comentário meramente estético: que estigmas espectaculares. Nunca tinha reparado neles.

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