quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Outra planta misteriosa (Convolvulaceae)
Fotografámos neste Verão passado ainda outra planta misteriosa - também não sabemos a que género ou família pertence!
Deixamos aqui as fotos da dita planta, tão ornamental, na esperança de que os ilustres leitores deste blog forneçam pistas para a sua identificação!
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Mais uma planta misteriosa (Theaceae)
Fotografámos ontem uma planta tão misteriosa que nem sequer conseguimos indicar a família a que pertence! Trata-se de uma árvore ou arbusto ornamental e não pertence à nossa flora, embora frutifique muito bem (frutos globosos duros, polispérmicos e deiscentes, abrindo em forma de estrela) e produza sementes bastante volumosas e de cor castanha. As folhas são verdes e bastante lustrosas, tal como os frutos quando jovens. Aceitamos sugestões para a sua identificação!
Afinal, será provavelmente uma Camellia, da família Theaceae e ordem Ericales.
Pois, poderá ser mesmo a Camellia sinensis (L.) Kuntze -- Trudy Imp. S.-Peterburgsk. Bot. Sada 10: 195. 1887 = Thea sinensis L. -- Sp. Pl. 1: 515. 1753 [1 May 1753] (IPNI Plant Name Query Results).
Afinal parece ser antes a Camellia japonica L. -- Sp. Pl. 2: 698. 1753 [1 May 1753] (IPNI Plant Name Query Results).
Etiquetas:
Outras famílias de angiospérmicas,
Plantas ornamentais
domingo, 26 de setembro de 2010
Epilobium angustifolium e E. hirsutum (Onagraceae)
Nos passados 21 a 24 de Setembro decorreu em Bragança uma Conferência Internacional de Ecologia da Paisagem-IUFRO, subordinada ao tema "Forest Landscapes and Global Change" (vd.aqui e aqui).
A palestra de abertura foi entregue à Drª Monica Turner, uma conhecida ecóloga norte-americana que há décadas estuda o efeito do fogo e das explosões de escolitídeos na estrutura e função dos ecossistemas de Yellowstone (ver aqui). A palestra versou, essencialmente, o impacto dos fogos que devassaram o mais antigo Parque Nacional do planeta em 1988, e os brutais ataques de escolitídeos que se lhe seguiram Os resultados obtidos pela equipa da Drª Turner são claros: nem os fogos de copa massivos, nem os "outbreaks" de escolitídeos são desastres ecológicos em Yellowstone; estes dois tipos de perturbação são parte integrante da história, e do funcionamento dos ecossistemas e das paisagens deste imenso território. Tudo voltará a ser como dantes, desde que o clima e os padrões de perturbação se mantenham estáveis.
A passagem da conferência que mais me impressionou foi o relato da descoberta do facto de os ecossistemas de Yellowstone conservarem eficazmente o azoto (N) após fogo. Não fazia ideia. Nas fotos que ilustraram a palestra identificavam-se muito bem, por entre os guiços ardidos de gimnospérmicas arbóreas, mares de flores rosadas de uma famosa, e formosa, planta: o Epilobium angustifolium. Trata-se de uma planta nitrófila de distribuição holártica, raríssima em Portugal (apenas está citada para Serras do Gerês e Montesinho). De acordo com a Drª Turner, esta e outras plantas subnitrófilas de orla e clareira de bosque são os agentes da conservação do N após fogo. Entretanto, a regeneração das árvores - em Yellowstone de Pinus contorta, P. albicaulis, Picia engelmannii e Abies lasiocarpa - reduz rapidamente o habitat destas plantas preferencialmente heliófilas (de ambientes ensolarados), e os nutrientes inicialmente por elas retidos acabam por ser capturados pelas árvores. Então, a presença de plantas subnitrófilas facilita a regeneração das árvores porque o N geralmente é o nutriente mais escasso, e que mais controla a produtividade dos ecossistemas naturais. Que mecanismo maravilhoso! No nosso rectângulo, desempenham uma função semelhante, entre muitas outras plantas, várias espécies dos géneros Asphodelus (Xanthorrhoeaceae), Urtica (Urticaceae) «urtigas», Senecio (Asteraceae) e Cirsium (Asteraceae).
A conservação do N nas paisagens de matriz florestal não resultou de um desenho cuidado de mosaicos de ecossistemas pela mão da evolução, ou de um ente superior. A selecção natural, não esqueçamos, só actua à escala do gene, do indivíduo ou, quando muito, de pequenos grupos de indivíduos [não mais de 25, dizem-nos Levin & Kilmer (1974)]. A cíclica, e brusca, disponibilização de N por eventos de perturbação nas florestas criou oportunidades de especiação que por sua vez redundaram em benefício das essências florestais. Faz todo o sentido, mas não estava a priori previsto, creio.
A palestra de abertura foi entregue à Drª Monica Turner, uma conhecida ecóloga norte-americana que há décadas estuda o efeito do fogo e das explosões de escolitídeos na estrutura e função dos ecossistemas de Yellowstone (ver aqui). A palestra versou, essencialmente, o impacto dos fogos que devassaram o mais antigo Parque Nacional do planeta em 1988, e os brutais ataques de escolitídeos que se lhe seguiram Os resultados obtidos pela equipa da Drª Turner são claros: nem os fogos de copa massivos, nem os "outbreaks" de escolitídeos são desastres ecológicos em Yellowstone; estes dois tipos de perturbação são parte integrante da história, e do funcionamento dos ecossistemas e das paisagens deste imenso território. Tudo voltará a ser como dantes, desde que o clima e os padrões de perturbação se mantenham estáveis.
A passagem da conferência que mais me impressionou foi o relato da descoberta do facto de os ecossistemas de Yellowstone conservarem eficazmente o azoto (N) após fogo. Não fazia ideia. Nas fotos que ilustraram a palestra identificavam-se muito bem, por entre os guiços ardidos de gimnospérmicas arbóreas, mares de flores rosadas de uma famosa, e formosa, planta: o Epilobium angustifolium. Trata-se de uma planta nitrófila de distribuição holártica, raríssima em Portugal (apenas está citada para Serras do Gerês e Montesinho). De acordo com a Drª Turner, esta e outras plantas subnitrófilas de orla e clareira de bosque são os agentes da conservação do N após fogo. Entretanto, a regeneração das árvores - em Yellowstone de Pinus contorta, P. albicaulis, Picia engelmannii e Abies lasiocarpa - reduz rapidamente o habitat destas plantas preferencialmente heliófilas (de ambientes ensolarados), e os nutrientes inicialmente por elas retidos acabam por ser capturados pelas árvores. Então, a presença de plantas subnitrófilas facilita a regeneração das árvores porque o N geralmente é o nutriente mais escasso, e que mais controla a produtividade dos ecossistemas naturais. Que mecanismo maravilhoso! No nosso rectângulo, desempenham uma função semelhante, entre muitas outras plantas, várias espécies dos géneros Asphodelus (Xanthorrhoeaceae), Urtica (Urticaceae) «urtigas», Senecio (Asteraceae) e Cirsium (Asteraceae).
Como não encontro as minhas fotos de E. angustifolium, aqui vai um primo, o Epilobium hirsutum, comum de Norte a Sul nos depósitos vasosos que marginam as nossas linhas de água.
A conservação do N nas paisagens de matriz florestal não resultou de um desenho cuidado de mosaicos de ecossistemas pela mão da evolução, ou de um ente superior. A selecção natural, não esqueçamos, só actua à escala do gene, do indivíduo ou, quando muito, de pequenos grupos de indivíduos [não mais de 25, dizem-nos Levin & Kilmer (1974)]. A cíclica, e brusca, disponibilização de N por eventos de perturbação nas florestas criou oportunidades de especiação que por sua vez redundaram em benefício das essências florestais. Faz todo o sentido, mas não estava a priori previsto, creio.
Etiquetas:
Onagraceae,
Stress ou perturbação,
Xanthorroeaceae
sábado, 25 de setembro de 2010
Vicia narbonensis (Fabaceae) e Vicia faba (Fabaceae)
Evidências recentes datadas de 10º milénio BP (antes do presente), reunidas por Tanno & Willcox (2006), indiciam que a faveira (Vicia faba) foi domesticada no Crescente Fértil pouco depois do início do Holocénico.
O antepassado da faveira não está identificado. Alguns autores admitem que o ancestral da faveira está extinto; outros propõem que a faveira é um domesticado de V. narbonensis ou de V. galilaea, embora o número de cromossomas não seja coincidente.
As primeiras faveiras produziam sementes pequenas. Os botânicos colocaram estas plantas numa var. minor. A fava graúda que iremos semear dentro de dias, ou que encontramos nos mercados, é um seleccionado recente, talvez obtido por volta do ano 1000 d.C., na última etapa da Idade Média.
O nome Vicia faba foi atribuído por Lineu a plantas de sementes grandes originárias do Egipto. Por essa razão as faveira de sementes graúdas actuais pertencem à var. faba. O nome varietal var. major designa a mesma planta: é um sinónimo de var. faba. Portanto, o trinome Vicia faba var. major não pode ser usado. Enquanto a var. minor tem os seus autores [var. minor (Harz) Beck], a variedade tipo não leva autorias. Esta trica nomenclatural é de cumprimento obrigatório, assim o diz o Código Internacional de Nomenclatura Botânica. Já agora, estas regras não são aplicadas aos taxa subescíficos de Pinus pinaster «pinheiro-bravo» porque ninguém sabe o que é o P. pinaster var. pinaster (pelo menos até a planta ser tipificada; não sei se entretanto já o foi).
Já vi mais de uma vez a atribuição de autorias a taxa subespecíficos que ficam com o tipo nomenclatural, i.e. a nomes do tipo V. faba var. faba. Convém evitar.
Esta curta história da domesticação da V. faba é um pretexto para publicar uma foto de uma planta extraordinária:
A V. narbonensis é tudo menos abundante em Portugal. Vi-a meia dúzia de vezes, uma delas num olival de um colega, como muito vezes acontece com as espécies deste género, aproveitando a sombra da árvore e a pequena ilha de fertilidade que se cria à sua volta.
O antepassado da faveira não está identificado. Alguns autores admitem que o ancestral da faveira está extinto; outros propõem que a faveira é um domesticado de V. narbonensis ou de V. galilaea, embora o número de cromossomas não seja coincidente.
As primeiras faveiras produziam sementes pequenas. Os botânicos colocaram estas plantas numa var. minor. A fava graúda que iremos semear dentro de dias, ou que encontramos nos mercados, é um seleccionado recente, talvez obtido por volta do ano 1000 d.C., na última etapa da Idade Média.
O nome Vicia faba foi atribuído por Lineu a plantas de sementes grandes originárias do Egipto. Por essa razão as faveira de sementes graúdas actuais pertencem à var. faba. O nome varietal var. major designa a mesma planta: é um sinónimo de var. faba. Portanto, o trinome Vicia faba var. major não pode ser usado. Enquanto a var. minor tem os seus autores [var. minor (Harz) Beck], a variedade tipo não leva autorias. Esta trica nomenclatural é de cumprimento obrigatório, assim o diz o Código Internacional de Nomenclatura Botânica. Já agora, estas regras não são aplicadas aos taxa subescíficos de Pinus pinaster «pinheiro-bravo» porque ninguém sabe o que é o P. pinaster var. pinaster (pelo menos até a planta ser tipificada; não sei se entretanto já o foi).
Já vi mais de uma vez a atribuição de autorias a taxa subespecíficos que ficam com o tipo nomenclatural, i.e. a nomes do tipo V. faba var. faba. Convém evitar.
Esta curta história da domesticação da V. faba é um pretexto para publicar uma foto de uma planta extraordinária:
A V. narbonensis é tudo menos abundante em Portugal. Vi-a meia dúzia de vezes, uma delas num olival de um colega, como muito vezes acontece com as espécies deste género, aproveitando a sombra da árvore e a pequena ilha de fertilidade que se cria à sua volta.
Etiquetas:
Fabaceae,
Nomenclatura botânica,
Plantas cultivadas
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Scilla autumnalis (Asparagaceae)
Para assinalar devidamente o Equinócio e a entrada do Outono, aqui fica a belíssima Scilla autumnalis L. -- Sp. Pl. 1: 309. 1753 [1 May 1753] = Prospero autumnale (L.) Salisb. -- Gen. Pl. [Salisbury] 28. 1866 [Apr-May 1866] ou ainda Prospero autumnale (L.) Speta -- in Veröff. Int. Clusius-Forschungsges. Güssing, 5: 4 (1982) (IPNI Plant Name Query Results), de distribuição eurasiática e norte-africana, que em Portugal não é rara, florescendo nesta época do ano.
Esta excelente planta ornamental bulbosa tem sido incluída tradicionalmente nas Liliáceas ou nas Hiacintáceas, mas parece actualmente pertencer à família das Asparagáceas, por razões filogenéticas (cf. APG III, 2009).
domingo, 19 de setembro de 2010
Pisum sativum (Fabaceae)
A ervilheira foi uma das primeiras plantas domesticadas no Médio-Oriente e no SW da Ásia central (e.g. Turquemenistão), no final do Dryas recente ou no Holocénico inicial [o Dryas recente foi uma pequena pulsação fria ocorrida, aproximadamente, de 12800-11500 cal. BP (antes do presente, em datas calibradas), que marca o final do Pleistocénico].
Pisum sativum subsp. sativum «ervilheira-cultivada»
A ervilheira faz parte do "founder crops package" - conceito cunhado por Zohary & Hopf (Domestication of Plants in the Old World, 2000) - isto é do primeiro grupo de plantas domesticadas, que incluía cereais – Triticum monoccocum, T. diccocum e Hordeum vulgare «cevada» –, leguminosas para grão – Lens culinaris «lentilha», Cicer arietinum «grão-de-bico», Pisum sativum «ervilheira» e Vicia ervilia –, e uma fibra, o Linum usitatissimum «linho». Vale a pena referir que a combinação de plantas produtora de amido (cereais, raizes ou tubérculos) com leguminosas é um padrão comum a todos os centros de origem das plantas cultivadas, seja este conceito assumido como um território concreto ou uma grande região de fronteiras difusas. A explicação é simples: os cereais esgotam rapidamente o azoto do solo; as leguminosas refazem com maior ou menor eficiência essa pool de azoto determinante da produtividade vegetal.
Pisum sativum subsp. elatius «ervilheira-brava»
Ao contrário de outras plantas cultivadas (e.g. milho, o alho e a faveira) a ervilha ainda se assemelha muito ao seu ancestral - o Pisum sativum subsp. syriacum.
Em Portugal continental é relativamente frequente o P. sativum subsp. elatius, uma subespécie quase idêntica à oriental subsp. syriacum, própria de orlas de bosques pernifólios ou de escarpas bem conservadas, invadidas por matagal. Na Primavera, aqui em Trás-os-Montes, colhem-se no campo as vagens de P. sativum subsp. elatius, que se consomem como as ervilhas-de-quebrar.
Quando deparo com o P. sativum subsp. elatius, e admiro as suas enormes e apetitosas vagens, é-me inevitável pensar que na Ibéria mediterrânica abundam plantas "domesticáveis". Faltou um estímulo externo e um ambiente cultural adequado para que essa revolução de máxima grandeza que foi o Neolítico aqui tivesse tido início.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Trifolium tomentosum (Fabaceae)
Nos prados de sequeiro com trevos-subterrâneos (T. subterraneum), naturais ou semeados, quando os anos são húmidos abundam as plantas de solos temporariamente encharcados, conforme referi neste post. Se os anos forem secos ganham dominância plantas mais xerófilas (melhor adaptadas à secura do solo), entre as quais se conta este trevo anual:
Este pequeno trevo é uma das espécies do género Trifolium, indígenas de Portugal, de ciclo biológico mais curto, e mais resistentes ao pisoteio e à compactação do solo. Primavera meada não passa desapercebido em prados, margens de caminhos, estradas e passeios, com as suas frutificações esféricas prontas a rebolar pelo solo ao sabor do vento, até se encravarem numa pequena reentrância entre os paralelos de uma estrada rural ou num tufo seco de gramíneas. A anemocoria (dispersão pelo vento) neste trevo, à semelhança do T. resupinatum (vd. aqui), resulta da presença de cálices acrescentes (que crescem) após a fecundação, e colaescem numa infrutescência de grande volume e pouco peso.
Trifolium tomentosum (Fabaceae)
Este pequeno trevo é uma das espécies do género Trifolium, indígenas de Portugal, de ciclo biológico mais curto, e mais resistentes ao pisoteio e à compactação do solo. Primavera meada não passa desapercebido em prados, margens de caminhos, estradas e passeios, com as suas frutificações esféricas prontas a rebolar pelo solo ao sabor do vento, até se encravarem numa pequena reentrância entre os paralelos de uma estrada rural ou num tufo seco de gramíneas. A anemocoria (dispersão pelo vento) neste trevo, à semelhança do T. resupinatum (vd. aqui), resulta da presença de cálices acrescentes (que crescem) após a fecundação, e colaescem numa infrutescência de grande volume e pouco peso.
Etiquetas:
Biologia da dispersão,
Fabaceae,
pastagens semeadas
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Nelumbo nucifera (Nelumbonaceae)
Encontrei recentemente esta maravilha num jardim, e não vou resistir a postá-la aqui, pela sua beleza e interesse botânico: Nelumbo nucifera Gaertn. -- De Fructibus et Seminibus Plantarum 1 1788 (APNI), como se pode consultar aqui:
IPNI Plant Name Query Results
Abundante e interessante informação acerca desta planta vascular muito notável pode ser encontrada nesta utilíssima enciclopédia:
Nelumbo nucifera - Wikipedia, the free encyclopedia
Etiquetas:
Outras famílias de angiospérmicas,
Plantas ornamentais
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Espiguetas dobradas em T. aestivum (Poaceae) «trigo-mole»
Há uns meses atrás, enquanto aguardava pelo menu do almoço num restaurante de Vimioso, dei por mim a desfazer distraidamente as espigas de trigo-mole (Triticum aestivum) do arranjo floral que decorava o centro da mesa. No meio de uma animada conversa com um amigo reparei, subitamente, que a espiga que tinha em mãos era distinta de todas as que tinha alguma vez observado (desfeito). Apresentava uma característica invulgar: espiguetas dobradas, i.e. nós com duas espiguetas. O fenómeno está descrito na bibliografia e pode, inclusivamente, ser frequente em alguns trigos; nos trigos cultivados em Trás-os-Montes nunca vi tal coisa. Sem que o dono reparasse surripiei a espiga e tirei-lhe umas fotos em casa. Aqui estão elas devidamente legendadas:
1ª foto) Espiga de espiguetas de T. aestivum; n.b. as espiguetas foram retiradas dos nós inferior. 2ª foto) Espiga de espiguetas de T. aestivum; n.b. inserção alterna das espiguetas na espiga e presença de nós com duas espiguetas (espiguetas dobradas). 3ª foto) Flor destacada de uma espigueta [fotos C. Aguiar]
Etiquetas:
Morfologia vegetal,
Plantas cultivadas,
Poaceae
sábado, 4 de setembro de 2010
Os custos do generalismo
A flor é a estrutura mais diversificada, mais estudada e mais fascinante das plantas com flor (= angiospérmicas), passe a redundância. É também a fonte da maior parte dos caracteres taxonómicos usados em sistemática de angiospérmicas.
Como em tempos aqui referi (ver aqui), a flor é um ramo curto de crescimento determinado, com funções reprodutivas, muito modificado pelas forças da evolução. As folhas inseridas neste ramo desempenham muitas funções. Geralmente, as sépalas protegem a flor na fase de botão e desempenham a função fotossintética, as pétalas atraem os polinizadores, os estames produzem pólen, e os carpelos escondem no seu interior os primórdios seminais. Os carpelos, organizados em um ou mais pistilos, darão origem ao fruto após a fecundação dos primórdios seminais e o início da formação das sementes.
Muito bem, esta lenga-lenga, por vezes acompanhada de alguns erros (e.g. confundir carpelo com pistilo ou chamar flor à estrutura reprodutiva das gimnospérmicas), faz parte dos livros de biologia dos ensinos básico e secundário.
O tema do post é outro.
Quem se dispuser a observar numa manhã solarenga o trabalhos das abelhas forrageadoras (como se diz no Brasil) - estas abelhas estão tão empenhadas na recolecção de néctar e pólen que não reagem ao toque, não picam - poderá reparar que não se abstêm de visitar flores de várias espécies: a abelha é um polinizador generalista. O generalismo é mais frequente do que a priori supunham os biólogos, e atinge níveis mais elevados na relação planta-insecto polinizador do que na relação planta-insecto herbívoro. Atendendo ao que acabei de referir é expectável que o pistilo das flores entomófilas (polinizadas por insectos) que observamos no campo seja incensado com uma panóplia de grãos de pólen incapazes de germinar na sua superfície. Por conseguinte, surge naturalmente uma importante questão: o tapete de pólen que se cria na superfície do estigma pode prejudicar a fecundação dos primórdios seminais e a formação de sementes? Isto é, prejudica o sucesso reprodutivo (= fitness) das plantas com flor?
Não sou de perto nem de longe especialista na biologia e na evolução da flor. Porém, a internet tem destas coisas, esbarrei-me uma destas noites com um interessante paper sobre as consequências evolutivas da partilha de polinizadores, da autoria de Morales & Traveset (2008). Dizem-nos estes autores que sim, que tem custos, que muito pólen "entope" os estigmas e prejudica a germinação dos grãos de pólen. Mais ainda: que um insecto generalista ao visitar muitas plantas dilui os pólens e reduz a eficácia da recepção e doação do pólen ente indivíduos (plantas) da mesma espécie. Portanto, as plantas capazes de cativar polinizadores menos promíscuos, através de uma peculiar morfologia floral estão, aparentemente, em vantagem frente às plantas com flores polinizadas pelos tais generalistas. Este mecanismo evolutivo terá desempenhado um importante papel na evolução da flor e na diversificação das angiospérmicas; ajuda a explicar por que razão, à escala da comunidades de plantas, coexistem plantas com mecanismos de polinização por insectos muito diversificados.
Fico maravilhado como as perguntas de investigação se encadeiam em biologia: há sempre uma pergunta seguinte, uma questão que emerge pela lógica de conhecimentos prévios e que necessita de ser ser modelada e testada experimentalmente.
A curiosidade é um comportamento infantil, assim o diz Konrad Lorenz, mas sem dúvida uma causa fundamental no progresso da ciência.
Para decorar o post escolhi o Thymus caespititius (Lamiaceae), uma planta relativamente frequente no NW de Portugal. Lá estão as flores bilabiadas "pacientemente" à espera de um polinizador: pagam com néctar e para maior comodidade do polinizador oferecem uma elegante pista de aterragem (lábio inferior da flor).
As plantas e os animais têm uma biologia e uma ecologia muito, muito diferentes, mas assemelham-se na importância (evolutiva) que atribuem ao sexo.
Como em tempos aqui referi (ver aqui), a flor é um ramo curto de crescimento determinado, com funções reprodutivas, muito modificado pelas forças da evolução. As folhas inseridas neste ramo desempenham muitas funções. Geralmente, as sépalas protegem a flor na fase de botão e desempenham a função fotossintética, as pétalas atraem os polinizadores, os estames produzem pólen, e os carpelos escondem no seu interior os primórdios seminais. Os carpelos, organizados em um ou mais pistilos, darão origem ao fruto após a fecundação dos primórdios seminais e o início da formação das sementes.
Muito bem, esta lenga-lenga, por vezes acompanhada de alguns erros (e.g. confundir carpelo com pistilo ou chamar flor à estrutura reprodutiva das gimnospérmicas), faz parte dos livros de biologia dos ensinos básico e secundário.
O tema do post é outro.
Quem se dispuser a observar numa manhã solarenga o trabalhos das abelhas forrageadoras (como se diz no Brasil) - estas abelhas estão tão empenhadas na recolecção de néctar e pólen que não reagem ao toque, não picam - poderá reparar que não se abstêm de visitar flores de várias espécies: a abelha é um polinizador generalista. O generalismo é mais frequente do que a priori supunham os biólogos, e atinge níveis mais elevados na relação planta-insecto polinizador do que na relação planta-insecto herbívoro. Atendendo ao que acabei de referir é expectável que o pistilo das flores entomófilas (polinizadas por insectos) que observamos no campo seja incensado com uma panóplia de grãos de pólen incapazes de germinar na sua superfície. Por conseguinte, surge naturalmente uma importante questão: o tapete de pólen que se cria na superfície do estigma pode prejudicar a fecundação dos primórdios seminais e a formação de sementes? Isto é, prejudica o sucesso reprodutivo (= fitness) das plantas com flor?
Não sou de perto nem de longe especialista na biologia e na evolução da flor. Porém, a internet tem destas coisas, esbarrei-me uma destas noites com um interessante paper sobre as consequências evolutivas da partilha de polinizadores, da autoria de Morales & Traveset (2008). Dizem-nos estes autores que sim, que tem custos, que muito pólen "entope" os estigmas e prejudica a germinação dos grãos de pólen. Mais ainda: que um insecto generalista ao visitar muitas plantas dilui os pólens e reduz a eficácia da recepção e doação do pólen ente indivíduos (plantas) da mesma espécie. Portanto, as plantas capazes de cativar polinizadores menos promíscuos, através de uma peculiar morfologia floral estão, aparentemente, em vantagem frente às plantas com flores polinizadas pelos tais generalistas. Este mecanismo evolutivo terá desempenhado um importante papel na evolução da flor e na diversificação das angiospérmicas; ajuda a explicar por que razão, à escala da comunidades de plantas, coexistem plantas com mecanismos de polinização por insectos muito diversificados.
Fico maravilhado como as perguntas de investigação se encadeiam em biologia: há sempre uma pergunta seguinte, uma questão que emerge pela lógica de conhecimentos prévios e que necessita de ser ser modelada e testada experimentalmente.
A curiosidade é um comportamento infantil, assim o diz Konrad Lorenz, mas sem dúvida uma causa fundamental no progresso da ciência.
Para decorar o post escolhi o Thymus caespititius (Lamiaceae), uma planta relativamente frequente no NW de Portugal. Lá estão as flores bilabiadas "pacientemente" à espera de um polinizador: pagam com néctar e para maior comodidade do polinizador oferecem uma elegante pista de aterragem (lábio inferior da flor).
As plantas e os animais têm uma biologia e uma ecologia muito, muito diferentes, mas assemelham-se na importância (evolutiva) que atribuem ao sexo.
Etiquetas:
biologia da reprodução,
Evolução,
Lamiaceae
Subscrever:
Mensagens (Atom)