sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Sapal externo vrs. sapal interno

Se gosta de botânica, e de geobotânica (= ciência da vegetação), tem, quanto antes, de se iniciar na exploração dos nossos sapais. Aprender a distinguir as plantas halófilas e sub-halófilas, e perceber a forma como se organizam ao longo dos gradientes ecológicos prevalecentes no sapal é uma experiência indispensável Acredite, nem se dá pelo passar das horas.
Como começar?
Para entender os sapais é necessário, em primeiro lugar, identificar os dois gradientes fundamentais que controlam a organização da vegetação de sapal. O primeiro é um gradiente de salinidade, de montante para jusante; horizontal, portanto. O segundo, um gradiente vertical, microtopográfico, chamemos-lhe assim.
O primeiro gradiente é fácil de discernir nos sapais abastecidos por cursos de água doce. A jusante, na direcção do mar, onde o teor em sal do solo e da água é mais elevado, situa-se o sapal externo, dominado por gramíneas e por amarantáceas de caules carnudos e articulados. A montante, quando a influência da água do mar se rarefaz, encontra-se o sapal interno, geralmente colonizado por plantas não a moderadamente halófilas, muitas delas de fisionomia graminóide (i.e. com a forma de gramíneas) e de grande biomassa. Exemplos: Bolboschoenus (Scirpus) maritimus (Cyperaceae) «triângulo», Arundo donax (Poaceae) «cana», Phragmites australis (Poaceae) «caniço» e Typha latifolia (Typhaceae) «tabúa-larga».


Neste sapal alentejano observa-se em primeiro plano um sapal externo médio de Sarcocornia fruticosa orlado, lá trás, por uma comunidade de Arundo donax (Poaceae) «cana». Neste exemplo, a lavagem dos sais pelas águas de escorrência superficial e subsuperficial, concatenada com a acumulação de um pequeno coluvião, são suficientes para que se diferencie uma estreita faixa de solo adequada ao desenvolvimento de uma comunidade característica do sapal interno.

Bolboschoenus maritimus (Cyperaceae) «triângulo»

Bolboschoenus maritimus (Cyperaceae) «triângulo», pormenor da inflorescência


Phragmites australis (Poaceae) «caniço»

Typha latifolia (Typhaceae) «tabúa-larga»

Para saber mais sobre este tema haverá que ler a ficha Rede Natura 2000 dedicada aos estuários (clicar aqui).


Ficha Rede Natura 2000 dedicada aos estuários realizada pela ALFA-Associação Lusitana de Fitossociologia


O dito gradiente microtopográfico fica para o próximo post ;)
[fotos C. Aguiar]

3 comentários:

  1. Muito bom. Ficamos à espera dos posts seguintes.JCapelo

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  2. Excelente, de facto!!

    Uma dúvida, porém: nos sapais existem verdadeiros sapos?
    ou a origem do nome "sapal" não terá a ver com os ditos batráquios?

    um abraço,
    ZG

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