quarta-feira, 28 de abril de 2010

Hydrangea macrophylla (Hydrangeaceae)














Hoje deixo aqui uma foto da bela Hydrangea macrophylla (Thunb.) Ser. (Hydrangeaceae), nativa do Japão como se pode ver aqui:
Hydrangea macrophylla - Wikipedia, the free encyclopedia
Esta curiosa planta não é espontânea em Portugal continental, onde se costuma encontrar cultivada em jardins. No Arquipélago dos Açores é, porém, bastante comum, sendo habitual encontrá-la bordejando os verdes lameiros tão frequentes nas ilhas.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Flora do lameiro do Poulão IV: Taraxacum (Asteraceae)

Bom, um tema difícil: o género Taraxacum (Asteraceae) «dentes-de-leão».
À semelhança dos Rubus (Rosaceae) e Hieracium (Asteraceae), muitos Taraxacum são apomíticos (reprodução assexual por semente), ou misturam reprodução sexual com apomixia. Com plantas assim é difícil identificar taxa com combinações consistentes de caracteres no tempo e no espaço, e aplicar as regras lineanas de nomenclatura (ver este post).
Felizmente, acaba de ser colocada online pela Flora Ibérica uma revisão do género Taraxacum (vd. aqui).

No lameiro do Poluão identificam-se dois dentes-de-leão:


Taraxacum duriense Soest. (Asteraceae). N.b. folhas partidas com os segmento terminal curvado para trás (sagitado, pouco visível na imagem), frutos oliváceos (cor de azeitona) e brácteas involucrais externas (as que se apresentam enroladas na base da inflorescência) com uma estreita margem hialina (branca e translúcida)

Taraxacum erythrospermum Besser (Asteraceae). N.b. folhas divididas em numerosos segmentos muito estreitos côncavos, de segmento terminal triangular; brácteas involucrais verdes; corpo das cipselas (frutos) ferrugíneo (cor de ferrugem)

Impressiona-me o facto destas duas espécies, embora muito semelhantes, não partilharem o mesmo habitat; nunca as vi misturadas. O T. duriense é uma planta dos lameiros de regadio; acompanha e floresce ao mesmo tempo que as Bellis «margaridas» e o Narcissus bulbocodium. O T. erythrospermum prefere pastagens mais secas, sobre coluviossolos bem drenados. Também a vejo em margens de caminhos, malhadas (comunidades Poa bulbosa e Trifolium subterraneum) e relvados urbanos. No género Sanguisorba (Rosaceae), e não só, acontece algo semelhante: a S. minor é característica de lameiros de regadio, a S. verrucosa habita lameiros de secadal.

domingo, 25 de abril de 2010

Flora do lameiro do Poulão III: Bellis perennis, Moenchia erecta, Lepidium heterophyllum, Ranunculus peltatus

Trago hoje 4 plantas de flores bancas que por estes dias florescem no lameiro do Poulão.
Primeiro a Bellis perennis (Asteraceae), a conhecida margarida, em floração deste o início de Abril, e que persistirá até ser abafada pelas gramíneas. A B. perennis distingue-se facilmente de outras compostas arrosetadas (com folhas concentradas na superfície do solo) pelas suas lígulas brancas, muito estreitas, frequentemente tintas de vermelho.



Como choveu muito, este ano é invulgarmente frequente nas partes mais altas e secas dos lameiros a Moenchia erecta (Caryophyllaceae), uma pequena e frágil planta com uma marcada preferência por solos temporariamente encharcados. Ao contrário da grande maioria das cariofiláceas a M. erecta tem geralmente 4 sépalas e 4 pétalas. As sépalas debruadas de branco são também inconfundíveis.


Em breve tentarei explicar por que razão os lameiros não são uma comunidade, mas sim um intrincado complexo de vegetação pratense, frequentemente enriquecido com vários tipos de vegetação nitrófila, semiterrestre (= anfíbia) e aquática. A planta que se segue, o Lepidium heterophyllum (Brassicaceae), é um conhecido indicador das versões mais secas dos chamados lameiros de regadio, a comunidade vegetal mais produtiva destes complexos de vegetação. Esta pequena crucífera perene coloniza ainda com facilidade margens de caminhos e taludes algo húmidos.


Nas valas e canais iluminados pelo sol, com águas permanentes lentas mas não estancadas, está em flor o Ranunculus peltatus (Ranunculaceae):



A revisão do José Pizarro (ver aqui) tem desenhos e chaves dicotómicas muito úteis para identificar os Ranunculus aquáticos (Ranunculus subgénero Batrachium) portugueses.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

A surpreendente Davallia do «Monte Buda»


O «Monte Buda», olhando o mar.

Foi um dia estranho, aquele. Depois de uma subida custosa de um eucaliptal pesado, estávamos finalmente na cumeada da Serra do Cercal, Baixo Alentejo. O «Monte Buda» via-se de todo o lado, era um afloramento rochoso imenso e imponente. Tinha de ter qualquer coisa, só não sabíamos o quê (embora várias vezes o pensamento tenha passado pelas Armerias).
Ainda andámos largos minutos de nariz pelo chão e pelas fendas da rocha sem frutos muito intensos. A expectativa e esperança já estavam em fase decrescente, dez minutos passados. Mas é justamente quando oiço a frase "Acho que vi Davallia..." [ninguém "acha que vê Davallia", pois não há confusão possível... a dúvida morreu antes de ter nascido]
E ali estávamos, no meio do Baixo Alentejo, num local aparentemente tão seco, quente, inóspito, sobre um afloramento impressionante que de um momento para o outro passou a ser mágico. Não podíamos negá-lo: as fendas estavam repletas de Davallia canariensis, um feto que estamos habituados a ver nos carvalhais húmidos e musgosos, sobre os troncos sombrios - e também em fendas de granitos é certo - mas isso no norte do país e em Sintra, não aqui!
A explicação deverá estar nas características particulares deste afloramento. O «Monte Buda» é a primeira grande elevação em frente ao mar, e a sua "face" está perfeitamente virada para o oceano. E, com certeza, todas as noites os ventos do mar trazem a humidade que condensará nesta rocha, fria enquanto noite, mesmo no verão.
Mas mais do que isso, estou convencido que o que hoje vemos no «Monte Buda» é um resto do que existiria na Serra do Cercal antes desta ser quase totalmente plantada com eucalipto. Estou convencido que nos sobreirais e carvalhais que lá existiriam, a Davallia canariensis cobria os ramos dos sobreiros em bosques fantásticos, tal como ainda faz em Sintra. Seria a Serra do Cercal como uma Sintra no sul?
Só me resta a pergunta: como pode ser que não haja Davallia em Monchique? Parece que esta é provavelmente a única população portuguesa a sul do Tejo, a cerca de 130 km de distância da população mais próxima... mas Monchique é uma serra tão particular, tão Sintra; o que haverá de "errado"?



Pormenor de uma colónia de Davallia. Nestas fendas, juntamente com Davallia, cresciam também Dianthus lusitanus (estranha companhia...) e Sedum brevifolium

Frente da parte superior do afloramento, notar as colónias de Davallia dispersas pelas fendas (clique para ampliar)


[Fotos: Ana Júlia Pereira e Miguel Porto]


quinta-feira, 22 de abril de 2010

Ephedra fragilis (Ephedraceae)




















Ainda faltava aqui uma Ephedra, curioso género representado em Portugal por apenas uma espécie, de distribuição algarvia e baixo-alentejana: E. fragilis Desf. (pertencente à família Ephedraceae Dumortier).
As efedras pertencem a uma das seguintes classes: Ephedropsida L.D. Benson ex Reveal, Gnetopsida Eichler ex Kirpotenko ou ainda Pinopsida Burnett.
A classe a que pertencem as efedras (seja ela qual for) inclui-se numa das seguintes divisões: Gnetophyta Bessey ou Pinophyta Cronquist.
As opiniões dos diversos autores variam um pouco em relação à posição taxonómica mais adequada para a família das Efedráceas.
Como exemplos de bibliografia internética para este género podemos citar os seguintes:
Ephedra (genus) - Wikipedia, the free encyclopedia e
http://www.floraiberica.es/floraiberica/texto/pdfs/01_031_01_Ephedra.pdf
(A síntese do género Ephedra na Flora iberica (Vol. I, 1986) é da autoria do ilustre botânico português Professor Amaral Franco)
Uma das fotos representa a planta portuguesa: E. fragilis Desf. Noutra das fotos, de uma planta murícola pertencente a outra espécie de Ephedra L., é possível observarem-se estames, que são característicos das plantas do sexo masculino. Os frutos, que ocorrem nas plantas femininas, são mais ou menos globosos e apresentam por vezes, quando maduros, uma cor avermelhada ou arroxeada.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Lameiro de Prados

Aproveitando o interessante post sobre o Lameiro do Poulão de autoria do Carlos Aguiar, apresento também, um lameiro, onde ocorre uma das espécies de narciso menos comum do nosso país.

Vista parcial do lameiro


Este lameiro, localizado numa área planáltica do Parque Natural da Serra da Estrela, a 1050 m de altitude, encerra a maior população desta espécie em Portugal. O solo com elevado nível de humidade edáfica, apresenta uma textura média, pH ácido e elevados níveis de matéria orgânica. É um prado meso-higrófilo submetido a fenação entre Julho e Agosto e pouco pastoreado nos meses posteriores.

Uma das primeiras plantas a iniciar o ciclo vegetativo neste lameiro, senão mesmo a primeira, é o Narciso-trombeta (Narcissus pseudonarcissus subsp. nobilis), acompanhado pelos também precoces Ranunculus ficaria e Narcissus bulbocodium. Esta espécie é um endemismo ibérico que no nosso país, segundo os últimos trabalhos de prospecção, se encontra distribuída por 7 populações no Noroeste de Portugal (MI, TM e BA), quase sempre em lameiros de feno húmidos e em solos de reacção ácida.

Esta espécie é um geófito, isto é, possui um bolbo a partir do qual despontam as folhas vegetativas, verde glaucas e oblogo-lineares. Ainda do bolbo, emerge o escapo (caule) oco que na porção superior suporta a espata (bráctea escariosa) que encerra a flor. As flores são solitárias e formadas por um perianto com seis segmentos amarelo-pálidos, algo contorcidos, e a coroa em forma de trombeta amarelo-dourada aloja seis estames dispostos numa única série e o estilete cilíndrico coroado por um estigma trilobado. O fruto é uma cápsula globosa trigonal.

Narcissus pseudonarcissus L. subsp. nobilis


A fenologia desta espécie é a seguinte: de Março a Maio ocorre a floração; de Maio a Junho verifica-se a senescência da parte aérea e início da gema terminal; em Junho dá-se a dispersão das sementes; de Agosto a Outubro inicia-se o desenvolvimento das raízes adventícias; de Outubro a Novembro, começam a despontar as folhas a partir do bolbo; de Novembro a Abril, despontam e tornam-se visíveis as folhas e também de Dezembro a Abril desenvolve-se a placa basal que ao dividir-se dá origem a um novo bolbo.

Uma das principais ameaças que recai sobre esta população é a colheita de bolbos em resultado da sua proximidade à rede viária.

Alguma da informação aqui deixada foi retirada da tese “Contribuição para a Conservação In Situ de Narciso-de-trombeta Narcissus pseudonarcissus L. subsp. nobilis (Haw.) A. Fernandes, em Portugal” de Duarte Moreira da Silva.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Cnicus benedictus (Asteraceae)

Três belas imagens do Cnicus benedictus «cardo-santo», uma apreciada planta medicinal - das tais que tem tantos, tantos usos, que fico na dúvida para que maleita realmente serve - comum aqui e ali, de norte a sul de Portugal continental (para saber mais ver aqui).



Cnicus benedictus «cardo-santo» (Asteraceae), fotos amavelmente cedidas por Mário Martins - Trepadeira Azul, e enviadas para o endereço deste blogue: dasplantasedaspessoas@ipb.pt

sábado, 17 de abril de 2010

Fossombronia sp. (Fossombroniaceae)


















Penso que ainda não havia por aqui quaisquer hepáticas (plantas briofíticas de aspecto algo figadoso), por isso aqui fica uma modesta foto na qual se pode ver uma Fossombronia (da família Fossombroniaceae, ordem Metzgeriales, classe Jungermanniopsida e divisão Marchantiophyta), com o seu aspecto repolhoso de alface e os seus belos esporocarpos globosos negros, e ainda um exemplar de Lunularia cruciata (L.) Dumort. (da família Lunulariaceae, ordem Marchantiales, classe Marchantiopsida e divisão Marchantiophyta), com as suas gemas dispostas numa cavidade de forma semi-lunar.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Flora do lameiro do Poulão II: Narcissus bulbocodium (Amaryllidaceae) e Luzula campestris (Juncaceae)

Entre as primeiras plantas a florir no lameiro do Poulão (ver aqui) contam-se estas duas conhecidas monocotiledóneas:

Narcissus bulbocodium (Amaryllidaceae)

Luzula campestris (Juncaceae)

As primeiras plantas a florir nos lameiros são curtas ou de hábito prostrado, e a maioria apresenta bolbos, rizomas ou um sistema radicular engrossado, rico em reservas. Para quê elevar as flores se as gramíneas ainda não encanaram (i.e. ainda não produziram entre-nós alongados), e a temperatura e a radiação luminosa são insuficientes para grandes acumulações de biomassa? Mais vale investir as reservas cuidadosamente escondidas no solo durante o Inverno num arranque vegetativo e reprodutivo precoce, sobrepor-se ligeiramente aos pseudocaules das gramíneas e conquistar quanto antes a atenção dos poucos polinizadores disponíveis. O tempo urge: a grande ameaça está em marcha.
[fotos CA]

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Anthoceros punctatus (Anthocerotaceae)















Ainda aqui não tinha aparecido esta amiga: Anthoceros punctatus L. (Anthocerotaceae, uma família que pertence à ordem Anthocerotales, à classe Anthocerotopsida e à divisão Anthocerotophytha, do reino Plantae).
Esta curiosíssima planta parece dar-se bem em sítios perturbados, por exemplo em companhia da pequena Tillaea muscosa L., também conhecida como Crassula tillaea Lester-Garland (Crassulaceae). É possível ainda observar algumas cápsulas lenhosas já abertas de Eucalyptus sp. (Myrtaceae).
Fica aqui uma referência com informação interessante sobre estas plantas:
Hornwort - Wikipedia, the free encyclopedia

terça-feira, 13 de abril de 2010

'A CRIAÇÃO' de EDWARD O. WILSON








Existe uma obra póstuma do ilustre planetólogo Carl Sagan (1934 - 1996): 'the varietes of scientific experience', que reúne um ciclo de conferências compiladas pela sua mulher Ann Druyan, a partir das cassetes então gravadas. É um livro acerca do encantamento e reverência pelo Universo e pela Natureza que decorrem do conhecimento científico. O capítulo final, dedica-o Sagan, a um apelo à união de esforços entre os cientistas e os líderes religiosos para lutar, sem tréguas, contra a perspectiva próxima de uma catastrófica perda de biodiversidade na Terra. O próprio título é uma paráfrase de um famoso tratado de antropologia e filosofia das religiões 'the varieties of religious experiences' de William James (1842 - 1910). A ideia principal de Sagan é que: a diferença cultural entre crentes e humanistas seculares poderia ser ultrapassada, neste particular, a bem de um valor maior de defesa da Vida e catalisada neste propósito a influência que ambas os magistérios têm na Humanidade. Em nome de ser salva a Bioesfera tal como a conhecemos.

É esse mesmo tema que o eminente biólogo, Edward O. Wilson (1929 - ),um dos maiores pensadores científicos do nosso tempo, retoma no seu livro 'A Criação'. Na qualidade de humanista secular e de cientista, dirige-se ao longo do livro, a um pastor evangélico do Sul dos E.U.A, expondo-lhe a maravilhosa diversidade da Vida e a catastrófica ameaça de extinção de um quarto das espécies da Terra, até ao fim do presente século, por via da acelerada e imparável destruição dos seus habitats. Uma imensidão de evidência científica suporta ser a diversidade de seres vivos o resultado do processo de Evolução em alternativa a um acto de um divino demiurgo; mas não é disso que o cientista quer convencer ou debater com o pastor, que acredita na literalidade bíblica da criação ex nihilo.

Apelando à união - neste desígnio - de dois domínios largamente irreconciliáveis por natureza: a Ciência e a religião, como as forças mais influentes na vontade humana, o cientista insta o pastor a juntar-se-lhe e pregar junto dos seus fieis, uma vez mais, o ensejo da salvação. Da salvação da 'Criação'.

Celtis australis (Cannabaceae)


Flores hermafroditas (à esquerda) e masculinas (à direita) de Celtis australis, que aparecem simultaneamente com as folhas (Portugal, Lamego, foz do rio Varosa).
Destacam-se os grandes estigmas sésseis e os estames epitépalos (dispostos sobre as tépalas da
flor). [foto TiagoMH]


A Celtis australis L. (Cannabaceae) está agora em plena floração. Esta árvore caduca identifica-se facilmente pelo seu ritidoma (casca) liso, acinzentado e quase sem fissuras, pelas folhas longamente acuminadas (terminando em ponta estreita e comprida) e trinérveas na base. A espécie foi tradicionalmente colocada na família das Ulmaceae (muito próxima filogeneticamente, que se caracteriza pelas sementes muito achatadas) e mesmo numa família distinta, as Celtidaceae. No Angiosperm Phylogeny Website encontram-se justificações (e referências bibliográficas) para a inclusão do género Celtis na família das Cannabaceae (agrupando os géneros Celtis, Humulus, Cannabis, entre outros). Ao que parece, estes géneros partilham caracteres que não estão presentes nos antepassados comuns com as Ulmaceae (apomorfias), tais como: flores incompletas, pêlos unicelulares normalmente micropapilosos, nervação palmada, etc. (mas note-se que as flores incompletas existem também em algumas Ulmaceae e que a Celtis australis, por exemplo, possui flores completas; atente-se igualmente para o facto de a nervação da C. australis não ser verdadeiramente palmada). A proposta filogenética actual torna difícil descrever a morfologia comum aos géneros da família das Cannabaceae. Talvez estudos futuros possam trazer mais luz sobre o assunto.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Flora do lameiro do Poulão I: Ranunculus hederaceus e R. ficaria (Ranunculaceae)

Inicio hoje uma série de posts, que se prolongará até ao início de Julho, sobre a flora deste lameiro:

Lameiro do Poulão (Portugal, Bragança, Nogueira).
41°46'42.71"N 6°47'47.92"W, 700 m altitude. Sedimentos neogénicos. Andar supramediterrânico sub-húmido. Vegetação Natural Potencial Climatófila: bosques de Quercus pyrenaica.

Durante o Inverno o lameiro do Poulão foi pastado de forma esporádica e extensiva, por ovelhas e vacas. Na semana passada, creio, foi fechado ao pastoreio. O solo está túrgido de água e chegou o calor. Os nutrientes arrastados dos terrenos vizinhos pela água da chuva estão a ser activamente absorvidos pelas raízes das plantas pratense (as raízes são activadas no final do Inverno, antes da parte aérea). A erva tem agora 3 a 3,5 meses para crescer, florir e produzir sementes, livre da herbivoria dos animais domésticos.
No início de Julho o lameiro será fenado, i.e. a sua erva será segada, seca ao ar, enfardada e transportada para um palheiro. Finda a vertigem reprodutora, as plantas pratenses descansarão até ao início das chuvas de Outono, estimuladas pelo encurtamento do comprimento do dia e o afundamento da tolha freática do solo.

Fez frio até ao final da semana que acaba de passar. Os ciclos fenológicos estão atrasados: escasseiam as flores. Encontrei dois Ranunculus em flor, e pouco mais:

Ranunculus hederaceus (Ranunculaceae), em águas paradas pouco profundas, expostas ao sol, moderadamente ricas em nutrientes, assentes num substrato enriquecido em argila e limo


Ranunculus ficaria, a primeira espécie de ranúnculo a florir, particularmente comum na vizinhança das cortinas arbóreas que marginam o lameiro. N.b. folhas cordadas (em forma de coração estilizado), cálice com 3 sépalas, corola com um número variável de pétalas (geralmente 7 a 9), estames infinitos (mais de 12) e gineceu apocárpico (de carpelos livres) evidente no centro da flor.

Mais duas ou três espécies de Ranunculus produzirão flores até ao fim do Verão: Ranunculus peltatus, nas linhas de água; R. bulbosus e, possivelmente, R. paludosus no prado. Vamos ver.
[fotos CA]

domingo, 11 de abril de 2010

Encephalartos sp. (Zamiaceae)
















Como ainda não estava por aqui nenhuma cicadófita, deixo aqui algumas imagens de um belíssimo e raro arbusto sul-africano pertencente ao género Encephalartos Lehm., da família Zamiaceae Horaninow (ordem Cycadales Dumort., classe Cycadopsida Brongn. e divisão Cycadophyta Bessey).
Esta curiosa planta lenhosa e perenifólia é dióica e produz sementes, sendo aparentemente algo semelhante a um feto ou a uma palmeira anã.
Possui evidente interesse ornamental, tal como é norma no vasto grupo das Gimnospérmicas.
O seu crescimento é lento e dá-se bem em climas temperados e subtropicais.
Alguma informação sobre este género pode encontrar-se aqui:
Encephalartos - Wikipedia, the free encyclopedia

sábado, 10 de abril de 2010

Ginkgo biloba (Ginkgoaceae)

















Esta bela árvore de jardim, natural da China, muito resistente e longeva (Ginkgo biloba L.) é a única espécie actualmente viva do seu género (Ginkgo L.), da sua família (Ginkgoaceae Engl.), da sua ordem (Ginkgoales Gorozh.), da sua classe (Ginkgoopsida Engl.) e da sua divisão (Ginkgoophyta Bessey), o que a torna particularmente singular.
É comummente cultivada em jardins públicos, encontrando-se actualmente em floração, como se pode verificar observando as fotos.
É possível encontrar muita informação sobre esta árvore por exemplo aqui:
Ginkgo biloba - Wikipedia, the free encyclopedia
ou aqui: Ginkgo - Wikipédia, a enciclopédia livre

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Os mirtilos de Portugal

Em Portugal são reconhecidas duas espécies de mirtilos espontâneas: Vaccinium myrtillus que ocorre nas serras de Gerês (MI), Trás-os-Montes (TM) e Estrela (BA) e Vaccinium uliginosum restrito à serra da Estrela.

V. uliginosum é considerado uma relíquia glaciária artico-alpina nas montanhas do Centro e Sudoeste da Europa. Neste continente a espécie ocorre nas áreas mais elevadas dos Pirinéus, Cordilheira Cantábrica, Montanhas Leonesas, Sistema Central Ibérico e Serra Nevada.

V. uliginosum caracteriza-se por apresentar ramos de secção circular e folhas inteiras e verde-azuladas, ao passo que V. myrtillus possui ramos de secção quadrangular e folhas finamente recortadas verde brilhantes.


Vaccinium uliginosum (esq.) e V. myrtillus (Ericaceae)
(fotos Alexandre Silva)

Na serra da Estrela conhecem-se dois núcleos de V. uliginosum localizados no andar orotemperado de ombroclima hiper-húmido, isto é a cotas altitudinais superiores aos 1700 m. Um dos núcleos, que ocupa uma superfície que não excederá 1 m2, vegeta sob o zimbral rasteiro de Juniperus communis subsp. alpina, que constitui a comunidade climácica da série climatófila do andar orotemperado desta serra. O segundo núcleo, com apenas 1 indivíduo, cresce entre as fissuras de um afloramento granítico acompanhado também pelo zimbro-rasteiro.

As principais ameaças que recaem sobre a espécie são a herbivoria provocada pelo pastoreio, que não permite que a espécie desenvolva o seu normal ciclo fenológico, as alterações climatéricas e a erosão genética.