sábado, 20 de novembro de 2010

Cereal-pousio: erosão com o apoio da UE

Imagens como esta continuam a ser frequentes em Trás-os-Montes e em todo o sequeiro mediterrânico português:


Preparação do solo - para trigo, talvez - no sentido do maior declive

Mesmo em declives suaves, qualquer que seja o número, a época ou o sentido das mobilizações, a rotação cereal-pousio herdada da Roma clássica origina enormes perdas de solo por erosão (para entender o porquê proponho a leitura do capítulo IV deste livro):

Seara de centeio [PNM, Carragosa, Outubro de 2010]


A terra acaba por se esvair. Sobra um solo de palmo, com a mesma profundidade a que se desloca a relha da charrua:

Restolho de Trigo [Concelho de Macedo de Cavaleiros]


A rotação cereal-pousio é apoiada financeiramente pela UE porque - é senso comum - terá um papel essencial na conservação de uma certa biodiversidade animal. Faz sentido trocar um recurso não renovável - o solo - por um hipotético efeito benéfico em espécies cuja área de ocupação actual é um produto da perturbação antrópica holocénica? Para mim não faz, e duvido que as gerações futuras agradeçam tamanho empenho. A rotação cereal-pousio é anacrónica.

7 comentários:

  1. Belas fotos, num tópico bem interessante!

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  2. Serão rochas ultrabásicas as da foto de baixo?

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  3. Não, ZG, rochas básicas de um tipo que me escapa.

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  4. Interessante. Obrigado pela resposta, Carlos!

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  5. Pois é. Mas a verdade é que grande parte das medidas propostas para agricultura com vista a "salvaguardar" a biodiversidade são dirigidas para conservar espécies da fauna e da flora que sem essa perturbação antrópica teriam uma distribuição (natural/original) reduzida. Aliás, a biologia dessas espécies, incluindo a sua dinâmica populacional, está mesmo adaptada à ocupação de habitats temporários, que, com a agricultura se tornaram habitats permanentes.
    Parece-me que isto é fruto de uma visão, demasiado comum, da conservação da natureza tipo jardim zoológico e jardim botânico, que deixa de fora a funcionalidade e as complexas dinâmicas dos ecossistemas e acha que a natureza é uma colecção de plantas e animais. É só ver os inúmeros projectos de conservação onde abundam as re-introduções de espécies da fauna ou que preconizam medidas de gestão com o objectivo de tornar habitats temporários em habitas "permanentes" para conservar determinadas flora ou fauna que, obviamente, está muito bem adaptada ao carácter temporário da sua existência. Enfim, parece-me que o apoio na União tem raiz ou apoio na Conservação; pelo menos da visão mais comum da conservação.

    Luís Moreira

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  6. Luís, tens toda a razão. Depois, a "necessidade" de perenizar os habitats temporários, preconizado pelo dito modelo conservação da natureza "tipo jardim zoológico e jardim botânico", é convertida em argumento de políticas. Não admira, por isso, que o papel da agricultura na conservação da natureza europeia esteja sobrevalorizado.

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  7. Gostaria de pedir a vossa opinião: acham que este é um caso em que falta conhecimento cientifico aos legisladores ou onde o conhecimento até pode existir mas a política sobrepõem-se?

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