sábado, 24 de dezembro de 2011

Scleroderma citrinum (Sclerodermataceae) e outras plantas
















Com os nossos votos de um santo Natal de 2011 e um próspero Ano 2012, para todos os nossos leitores e camaradas blogueiros, trazemos aqui o belíssimo cogumelo Scleroderma citrinum Pers., Syn. meth. fung. (Göttingen) 1: 153 (1801) (Sclerodermataceae, Boletales, Agaricomycetidae, Agaricomycetes, Basidiomycota, Fungi)
(http://www.speciesfungorum.org/Names/GSDSpecies.asp?RecordID=181865),
que encontrámos em 22 de Maio de 2003, num pinhal bravo de Pinus Pinaster (Pinaceae) com vegetação arbustiva baixa acidófila da classe Calluno-Ulicetea, incluindo Agrostis Curtisii (Gramineae), Calluna vulgaris (Ericaceae), Halimium alyssoides (Cistaceae), Monotropa Hypopitys (Ericaceae), Ulex minor (Leguminosae) ... no conc. de Moimenta da Beira, pr. de Alva.


E como Vénus traz a Paz e Júpiter traz a Alegria, e ambos brilham intensamente no céu, nesta noite de Natal, aqui ficam:
http://www.youtube.com/watch?v=oKvG0RU4_fI
http://www.youtube.com/watch?v=Nz0b4STz1lo
http://en.wikipedia.org/wiki/The_Planets

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Comemorando o Solstício de Inverno e o Natal (várias famílias)












Para comemorar devidamente o Solstício de Inverno (hoje) e o Natal (em breve), nada como apresentar algumas belas plantas que se apresentam actualmente em floração ou frutificação!
Assim, aqui ficam imagens das seguintes seis espécies, que podem, na sua maioria (exceptuando a Oxalis e a Pteris) surgir no seio dos carvalhais das classes de vegetação florestal Querco-Fagetea e Quercetea Ilicis:
Pteris vittata L., um feto pouco comum em Portugal (Pteridaceae);
Ilex aquifolium L., um fanerófito (Aquifoliaceae), o azevinho;
Arisarum simorrhinum Durieu, um geófito (Araceae);
Tamus communis L., um geófito (Dioscoreaceae);
Ruscus aculeatus L., um caméfito (Asparagaceae);
Oxalis pes-caprae L., um geófito, com capacidades invasivas (Oxalidaceae).

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Asclepias incarnata L. (Apocynaceae)





Ainda aqui não tinha sido postada esta beldade, a erva do leite dos pântanos ("swamp milkweed"), um endemismo exclusivamente norte-americano:
Asclepias incarnata L., Sp. Pl. 1: 215. 1753 [1 May 1753].


Pertencia tradicionalmente às Asclepiadaceae, mas agora faz parte das Apocynaceae, de acordo com o famoso e revolucionário APG III.

(http://www.ipni.org/ipni/idPlantNameSearch.do?id=94351-1
http://plants.usda.gov/java/profile?symbol=ASIN
http://en.wikipedia.org/wiki/Asclepias_incarnata)

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Tetrapanax papyrifer (Hook.) K.Koch (Araliaceae)








Ainda aqui não tinha aparecido esta araliácea: Tetrapanax papyrifer (Hook.) K.Koch = Aralia papyrifera Hook.
Trata-se de uma bela planta de jardim, muito ornamental, que cresce rapidamente e parece propagar-se bem, através de estolhos.
É nativa e endémica da Ásia Oriental: Japan - Ryukyu Islands; Taiwan
(http://www.ars-grin.gov/cgi-bin/npgs/html/taxon.pl?36394;
http://www.efloras.org/florataxon.aspx?flora_id=2&taxon_id=200015315).

sábado, 3 de dezembro de 2011

Coprinus comatus (Agaricaceae) e Lunularia cruciata (Lunulariaceae)







Estes belíssimos cogumelos, recentemente fotografados num jardim, parecem-nos ser Coprinus comatus (O.F. Müll.) Pers., Tent. disp. meth. fung. (Lipsiae): 62 (1797) = Agaricus comatus O.F. Müll., Fl. Danic. 5: tab. 834 (1780), espécie pertencente à família Agaricaceae, ordem Agaricales, subclasse Agaricomycetidae, classe Agaricomycetes, subdivisão Agaricomycotina e divisão Basidiomycota, do reino Fungi.
(http://www.indexfungorum.org/Names/NamesRecord.asp?RecordID=142713)

É também possível observar uma bela hepática, bem verde, possivelmente a Lunularia cruciata (L.) Dumortier, 1822 (a única espécie do género Lunularia Adans. e da família Lunulariaceae).
(http://plants.usda.gov/java/profile?symbol=LUCR5;
http://en.wikipedia.org/wiki/Lunularia)

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Duas notas sobre Pittosporum (Pittosporaceae) I

Duas espécies de Pittosporum são amplamente cultivadas nos nossos jardins: o P. undulatum e o P. tobira. O primeiro tem origem australiana, o segundo é indígena do Japão e China. Ambas espécies têm um porte arbustivo, por vezes arbóreo, e uma copa sempreverde, densa e brilhante, de grande valor ornamental, com proveito para construir sebes altas. O P. undulatum tem folhas de margens onduladas, e o P. tobira folhas espatuladas. As flores são grandes, esbranquiçadas, com o mesmo número de sépalas, pétalas e estames. No P. tobira exalam uma agradável fragrância citrina. Os frutos são verdes e depois amarelos e laranjas em P. undulatum, ou castanhados em P. tobira. As sementes apresentam uma cobertura carnuda e resinosa apetecida pelas aves, que sobresai, pela cor, na deiscência do fruto. O P. undulatum é uma das mais destrutivas invasoras dos Açores. Para além do velho argumento tautológico de que as ilhas têm nichos vagos e que por isso são permeáveis a fenómenos de invasão, parece claro que o P. undulatum se dispersou rapidamente nos Açores com a ajuda do pombo-torcaz, uma ave endémica do arquipélago, e que o uso de fertilizantes incrementou o poder competitivo da planta, já de si elevado.  O P. undulatum é uma planta pioneira de solos eutróficos que não teria a gravidade que tem não fora o uso maciço de fertilizantes nas pastagens açoreanas. Depois prefere solos ácidos e húmidos, que nos Açores não faltam. Para cúmulo as sementes germinam sem tratamento.
A constatação da agressividade desta planta, na região conhecida por incenso, nas encostas vizinha à Fajã de Santo Cristo, na formosíssima Ilha de S. Jorge, foi uma das experiências botânicas que mais me impressionaram nos Açores:

domingo, 27 de novembro de 2011

Aristolochia gigantea (Aristolochiaceae)

Ao ler um dos últimos posts do ZG lembrei-me de uma outra curiosa e sugestiva trepadeira do género Aristolochia, de origem brasileira, que em tempos fotografei no Jardim Botânico do Funchal.
Aqui está ela:

Aristolochia gigantea

O brasileiros chamam-lhe papo-de-perú; faz sentido. Como muitas outras Aristolochia é polinizada por moscas e liberta, por isso, um odor desagradável.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Tremella mesenterica (Tremellaceae)








Este belo fungo epífito membranáceo, de cor amarela bem viva,
ainda aqui não tinha sido postado.
Pensamos que se trata da Tremella mesenterica Retz. (1769), da família Tremellaceae, pertencente à ordem Tremellales, à classe Tremellomycetes, à subdivisão Agaricomycotina e à divisão Basidiomycota do reino Fungi.
(http://en.wikipedia.org/wiki/Tremella_mesenterica)

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Opuntia elata Salm-Dyck



Fotos: Duarte Silva
As Opuntia, vulgarmente designadas como figueiras-do-diabo, são dos géneros mais complicados do Novo Mundo. Este género possui cerca de 200 espécies, que se distribuem desde a América do Norte à América do Sul, numa grande diversidade de ambientes. Apercebi-me da dificuldade em identificar estas plantas quando tive como tarefa identificar a coleção do jardim botânico do Porto. A experiência foi positiva já que me permitiu conhecer com mais profundidade as Cactaceas e rapidamente constatei que a revisão do género feita para a Flora Ibérica estava muito incompleta. Uma das espécies que ocorre mais frequentemente no Norte de Portugal tinha sido incorretamente identificada desde a sua introdução há mais de um século. Depois de a identificar, contactei um dos especialistas do género, o falecido curador do jardim botânico de Berlim, o Dr. Beat Ernst Leuenberger, que confirmou a minha identificação. A Opuntia elata é originaria do sul do Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina, ocorrendo em ambientes semi-xerófilos mas que podem ter alguma humidade durante parte do ano. Ao contrário da Opuntia maxima, antigamente denominada Opuntia ficus-indica, espécie que também ocorre no vale do Douro, o calor estival da Terra Quente deixa a Opuntia elata em stress hídrico e no verão a planta pode perder a turgidez natural.

sábado, 19 de novembro de 2011

Laphangium luteoalbum (L.) Tzvelev (Compositae)



Vamos postar aqui hoje uma composta (Asterácea), que nos parece ser o Laphangium luteoalbum (L.) Tzvelev in Bjull. Moskovsk. Obšč. Isp. Prir., Otd. Biol. 98(6): 105. 1994 = Gnaphalium luteoalbum L., Sp. Pl.: 851. 1753 = Helichrysum luteoalbum (L.) Rchb. in Mössler, Handb. Gewächsk., ed. 2: 1460. 1829 = Pseudognaphalium luteoalbum (L.) Hilliard & B. L. Burtt in Bot. J. Linn. Soc. 82: 206. 1981,
de distribuição eurasiática, africana e austral (http://euromed.luomus.fi/euromed_map.php?taxon=416430&size=medium; http://www.ars-grin.gov/cgi-bin/npgs/html/taxon.pl?411038).
Pode encontrar-se entre nós como planta ruderal, no meio das pedras das calçada!

sábado, 12 de novembro de 2011

Aristolochia kaempferi (Aristolochiaceae)









Para comemorar um dia tão extraordinário como o dia 11.11.2011, aqui fica uma verdadeira maravilha, da família Aristolochiaceae:
Aristolochia kaempferi Willdenow, Sp. Pl. 4: 152. 1805.
Syn.: Aristolochia chrysops (Stapf) E. H. Wilson ex Rehder,
um endemismo da Ásia Oriental e uma excelente planta decorativa trepadora lenhosa!
(http://www.efloras.org/florataxon.aspx?flora_id=2&taxon_id=200006616)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Algumas considerações sobre o choupo-negro


Foto: Duarte Silva
O carácter autóctone do choupo-negro (Populus nigra) em Portugal sempre foi muito discutido, dificilmente havendo consenso entre os diversos especialistas. Em termos ecológicos, a sua estratégia de vida é completamente diferente da das árvores ripícolas com as quais convive no nosso território. Ecologicamente comporta-se como uma “árvore ruderal”, crescendo rapidamente e produzindo imensas sementes com uma capacidade de dispersão enorme. Rapidamente envelhece, sendo que um choupo-negro com cem anos é uma árvore velhíssima. Árvores com o freixo, o amieiro ou o lódão podem viver durante centenas de anos e comportam-se mais como especialistas no seu habitat, tendo uma grande capacidade para resistir a eventos extremos e ao stress ambiental causados por esses eventos. O habitat do choupo parece ser locais sujeitos a inundações catastróficas periódicas resultantes das chuvas invernais ou causadas por degelos repentinos na primavera. Na Península Ibérica, um dos poucos rios que apresenta essas características é o Ebro, e um estudo recente da variação do DNA cloroplastidial desta espécie (Cottrell et all., 2005) mostra que este rio foi um dos principais refúgios para esta espécie durante as glaciações. Se neste momento parece não existir dúvidas que o choupo-negro é autóctone da Península, resta saber se ele chegou ao nosso território através da migração natural, ou foi trazido pelo Homem.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Um cogumelo e mais algumas plantas (várias famílias)





Trazemos hoje aqui uma foto de um curioso cogumelo, não identificado, acompanhado por diversas plantas da época, mais ou menos identificadas.
Assim, nas vizinhanças do curioso fungo, podem reconhecer-se:


Cotula australis (Spreng.) Hook. f., Fl. Nov.-Zel. 1: 128. 1852 (Compositae ou Asteraceae), uma pequena erva exótica, ligeiramente invasora, de origem australiana e neozelandesa;
Cercis siliquastrum L., Sp. Pl.: 374. 1753 (Leguminosae ou Fabaceae), representada por um fruto - uma vagem que parece pertencer a esta espécie (http://en.wikipedia.org/wiki/Cercis_siliquastrum);
Galium murale (L.) All., Fl. Pedem. 1: 8. 1785 (Rubiaceae), um endemismo euro-mediterrânico (http://ww2.bgbm.org/EuroPlusMed/PTaxonDetail.asp?NameCache=Galium%20murale&PTRefFk=7200000);
Pyracantha sp. (Rosaceae), um fruto vermelho deste arbusto exótico espinhoso frequentemente cultivado em sebes;
Ochlopoa annua (L.) H. Scholz in Ber. Inst. Landschafts-Pflanzenökologie Univ. Hohenheim, Beih. 16: 58. 200 = Poa annua L., Sp. Pl.: 68. 1753 (Gramineae ou Poaceae)
(http://ww2.bgbm.org/EuroPlusMed/PTaxonDetail.asp?NameId=7711786&PTRefFk=7100000),
embora não possamos garantir que se trate desta espécie, evidentemente...

Todo este elenco florístico faz parte da chamada vegetação ruderal urbana, que surge, neste caso particular, por entre os blocos calcários que constituem uma calçada bem portuguesa.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Hispidella hispanica Lam. (Compositae)









Hispidella hispanica Lam. (Syn.: Arctotis hispidella Juss. ex DC.; Bolosia piloselloides Pourr. ex Willk.), uma planta frequente nas nossas montanhas, é uma belíssima composta endémica exclusiva da Península Ibérica e a única espécie do género Hispidella Lam.
(http://www.theplantlist.org/tpl/record/gcc-108184; http://www.ipni.org/ipni/idPlantNameSearch.do?id=224947-1; http://ww2.bgbm.org/EuroPlusMed/PTaxonDetail.asp?NameCache=Hispidella%20hispanica&PTRefFk=7000000)

Os bichos, bem interessantes, não fazemos ideia do que sejam, para além de serem Insectos, evidentemente...

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Os garranos e a biodiversidade



Garranos a pastar no planalto da serra de Arga (foto: João Gomes)

O pastoreio de equídeos (garranos) no Norte de Portugal é resultado da nova política europeia de apoio às raças autóctones. Apesar de tudo não é algo novo, pois no século XIX eram milhares os animais que circulavam nas serras nortenhas. O seu número era mais controlado pelas populações humanas que iam periodicamente recolher os potros, do que pelo lobo, o predador típico destes animais. Os garranos pastavam livremente na serra durante o Inverno, sendo depois condicionados para as áreas marginais durante a primavera, quando os prados húmidos de maior qualidade eram necessários para o gado bovino. Ora os cavalos e as vacas pastam de maneira diferente, introduzindo oportunidades para espécies com diferentes características funcionais. Os cavalos comem essencialmente gramíneas fibrosas, evitando dicotiledóneas com grande presença de metabólitos secundários. Conseguem comer rente ao solo devido à sua dupla dentição, arrancado mesmo algumas ervas mais fibrosas como Agrostis curtisii e Nardus stricta. As vacas não conseguem pastar vegetação muito curta porque precisam de puxar a vegetação com a língua para a poderem cortar com os dentes, sendo menos seletivas em relação às plantas que comem. Este duplo regime criou pastagens muito diversas, sendo muito importante para um habitat em particular, o cervunal. Os cervunais têm uma diversidade florística muito grande, sendo essa diversidade dependente do tipo de pastoreio. As ovelhas produzem cervunais pobres em espécies, dominados pelo cervum (Nardus stricta), espécie que evitam devido à sua baixa palatabilidade e reduzido conteúdo nutricional. Isso é notório tanto nos cervunais da Escócia como nos da serra da Estrela. Cavalos e vacas produzem cervunais ricos em espécies quando em regime misto, ou seja, pastados por equídeos no inverno e bovinos no verão. O grande problema é que neste momento os cavalos são largados no monte sem qualquer tipo de seguimento, sendo que o controle das crias em muitos casos só é feito para ver se há baixas causadas pelo lobo. No século XIX, o garrano era muito importante na economia agrícola e pastoril, sendo muito utilizado pelas populações. Neste momento, representa para muitos um importante recurso apenas em termos de subsídio. Os garranos pastam durante o ano todo nos cervunais, provocando alterações muito significativas nas gramíneas dominantes. Se a isto for adicionado alterações provocadas pela adição de fosfatos ao sistema, devido à escorrência de cinzas resultantes dos incêndios, o caso torna-se ainda mais complicado. Na serra de Arga, é possível nalguns locais contar os pés de cervum, a gramínea que supostamente devia dominar estas comunidades. A Quercus tem em mãos um projeto que visa recuperar este habitat que é claramente moldado pelas atividades humanas, e que será um caso de estudo muito interessante nos anos vindouros.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Processos de invasão biológica



Gamochaeta simplicicaulis (Willdenow ex Sprengel) Cabrera (foto: Marisa Graça)

As espécies do género Gamochaeta são originárias das Américas e encontram-se neste momento em expansão na Europa, com comportamento invasor. Como se pode comprovar por este artigo, da autoria de um dos contribuidores deste blog, a maior parte das espécies deste género foi introduzida em Portugal nos últimos 60 anos, tendo tido um êxito considerável. Este género tem muitas semelhanças com o género Gnaphalium, tanto a nível morfológico como ecológico, colonizando habitats similares. O facto de só existirem duas espécies de Gnaphalium em Portugal Continental (G. uliginosum e G. luteo-album), permitiu às espécies do género Gamochaeta menos competição na maior parte dos territórios colonizados. A esta baixa competição associa-se a facilitação pelas actividades humanas, dado que as espécies de ambos os géneros colonizam facilmente os interstícios das estradas calcetadas. Na maior parte dos casos muito dos processos de invasão podem ser explicados por estes dois processos, baixa competição e facilitação humana. E se fizermos a analogia para a mimosa (Acacia dealbata), temos que nos lembrar que não existem na nossa flora espécies com estratégias e adaptações ecológicas similares. E quanto à facilitação basta pensar que ainda nos anos 90 se plantavam mimosas nos taludes das auto-estradas, para estabilização dos solos.

domingo, 2 de outubro de 2011

Glycine max (Fabaceae), a planta mais perigosa do mundo III

A evolução fez-nos heterotróficos e no que ao metabolismo das proteínas e do azoto diz respeito, dependentes da ingestão de proteínas de origem animal ou vegetal. A proteína foi sempre crítica na alimentação humana pré-industrial. Não há muito tempo, conforme descrevem os higienistas da primeira metade do séc. XX, a alimentação no Portugal rural baseava-se no pão, que chegava a suprir 90% das necessidades energéticas diárias. Fartura de carne só em dia de festa; no dia-a-dia o homem do campo bastava-se com o sabor do osso que fervia dias a fio no pote da sopa. Alguma leguminosa de horta mitigava a escassez crónica de proteína.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades ... e os menús.

Hoje, a proteína é barata e a carne uma componente crescente da alimentação humana. A soja é a fonte mais barata de proteína. Se a procura de proteína animal aumenta a área cultivada de soja segue o mesmo padrão, na devida proporção.

Adequabilidade para o cultivo da soja a tecnologias intermédias

Contrapondo a figura anterior (mais informação aqui) com a seguinte, constata-se que alguns dos espaços, à escala global, mais favoráveis ao cultivo da soja são áreas de elevada diversidade de plantas vasculares (e.g. SE dos EUA e Centro Oeste do Brasil). Mais importante ainda, muitos estes territórios possuem uma flora rica em plantas relíquia, com taxa supraespecíficos endémicos (e.g. Madagáscar ou Cerrado Brasileiro).

Diversidade de plantas com semente por 10.000km^2 (imagem extraída daqui)

Investigadores da Universidade de S. Paulo provaram, nos anos 50 do séc. XX, a utilidade agrícola dos solos do Cerrado após a aplicação de fósforo e a correcção da acidez com calcário. Estava aberto o caminho para a colonização definitiva do Centro-Oeste brasileiro, idealizada por Getúlio Vargas e pela República Nova no final da década de 30.
A resolução da infertilidade natural dos solos do Cerrado foi o primeiro passo. A partir dos anos 60, apoiada por uma sistema eficiente de investigação agrária e uma política agressiva de subsídios, a agricultura da soja (e do milho) espalhou-se como uma mancha de óleo pelo Cerrado. O cultivo da soja no Brasil é a maior alteração da geografia agrícola global das últimas décadas.
No Cerrado onde não se cultiva soja ou milho faz-se pasto. A correcção das deficiências nutritivas dos solos do Cerrado facilita também as Brachiaria e outras gramíneas pratenses C4 de origem africana. A flora do Cerrado, que durante milhares de anos evoluiu num ambiente de escassez de fósforo, elevada acidez e toxicidade pelo alumínio, mingua de dia para dia, enquanto a agricultura e as exóticas pratenses, inexoravelmente, preenchem os solos melhorados pelo homem.
A expansão da soja a habitats de elevada diversidade biológica é o primeiro elemento de perigosidade da soja mas não é o mais importante. A dependência da agricultura da soja no fósforo é absoluta; o fósforo é finito e falta pouco tempo para sentirmos os efeitos da sua escassez (ver aqui). A economia do fósforo está condenada à extinção, provavelmente ainda antes da economia do petróleo.

Hypericum perforatum (Hypericaceae) e Origanum virens (Labiatae)






Deixamos hoje aqui mais duas plantas em floração actualmente: Origanum virens Hoffmanns. & Link (Labiatae ou Lamiaceae) e Hypericum perforatum L. (Hypericaceae), duas afamadas espécies aromáticas e decorativas.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Comemorando o equinócio, com Crocus serotinus (Iridaceae), Calamintha nepeta (Lamiaceae) e dois insectos

















Embora com uma semana de atraso, motivada sobretudo por alguns problemas de cariz informático, não queremos deixar de comemorar a entrada do Outono!
Trazemos assim uma bela flor outonal, de Crocus serotinus Salisb. (Iridaceae) e ainda dois bichos bem interessantes: um bicho-pau ou fasmídeo (da ordem Phasmatodea) e uma borboleta (ordem Lepidoptera), com duas fotos e uma curiosa forma de avião!
A bela labiada que acompanha o Crocus parece ser a Calamintha nepeta (L.) Savi = Clinopodium nepeta (L.) Kuntze = Melissa nepeta L. (Lamiaceae ou Labiatae).

Quaisquer identificações serão bem vindas, por parte dos ilustres entomólogos visitantes!

domingo, 25 de setembro de 2011

Gramíneas e diatomáceas I

O planeta Terra pode ser compreendido como um organismo vivo que, por uma qualquer razão inexplicável, foi sempre capaz de repor equilíbrios ameaçados em favor do biota (a totalidade dos seres vivos). Por poucas palavras, esta é a ideia fundamental da teoria de Gaia de James Lovelock, pelo menos na sua formulação original. Se a Terra, no seu todo, é um organismo, a capacidade de se manter em equilíbrio em torno de condições ambientais óptimas para a vida (homeostasia) teria que resultar de um processo interactivo de tentativa e erro, submetido a selecção. A selecção natural actua ao nível do gene e do indivíduo, como poderia, saltando os níveis de complexidade do ecossistema e do bioma, estender-se à escala do planeta? A noção teleológica do funcionamento do sistema Terra que assiste a teoria de Gaia não é aceitável em ciência. A teoria de Gaia é uma metáfora.
A Terra tem, ainda, vida porque assim foi; calhou. O facto de a vida ser na Terra, e de uma espécie terráquea, a nossa, deter a capacidade de a conceptualizar e explorar, tolda-nos a razão, fazendo-nos crer que a existência é, por si só, um argumento suficiente da necessidade de ser. A vida pode até ter povoado os planetas Marte e Vénus, mas ambos foram "incapazes" de a manter. Retroacções positivas poderão ter causado a evaporação para o espaço dos oceanos de Marte, e a subida da temperatura da atmosfera de Vénus, a valores incompatíveis com a vida. Sem água líquida e temperaturas compatíveis com a química do carbono dificilmente poderá ocorrer vida. A leis físicas que explicam a retenção da vida na Terra, são as mesmas que explicam a sua não presença, ou extinção, em Vénus e Marte. Se há vida na Terra, então a vida poderá acontecer noutro local do universo. A regras que explicam a vida estão na Terra e fora dela, o que, no meu entender, torna um pouco interessante, quase irrelevante, a busca de vida extraterrestre.
James Lovelock, dizem tanto os seus seguidores como os seus detractores, teve um papel fundamental na compreensão das relações atmosfera-litologia-vida à escala geológica. A vida, desde a sua emergência há mais de 3,7 mil milhões de anos, interage com a atmosfera e com as rochas; a atmosfera e os substratos rochosos, por sua vez, interferiram na evolução da vida. As bactérias fotossintéticas e as plantas verdes foram determinantes na composição química da atmosfera, na meteorização das rochas e na formação de depósitos geológicos; os animais tiveram um papel por regra passivo, limitaram-se a obedecer às plantas, adaptando-se.
Gosto desta designação: "Grande Oxidação". Refere-se a um evento ocorrido há 2,4 mil milhões de anos, no início do Proterozóico (éon que decorre 2,5 mil milhões - 542 milhões de anos). No Hadeano e no Arqueano, éons anteriores ao Proterozóico, a atmosfera manteve-se fortemente redutora (diz Lovelock que este facto é essencial para explicar a emergência da vida). A maquinaria fotossintética das bactérias azul-esverdeadas produz um temível subproduto: o oxigénio. A paulatina acumulação deste gás na atmosfera - supõe-se, sem evidência directa, que pela acção das bactérias azul-esverdeadas (os mecanismos envolvidos na grande oxidação não são consensuais, alguns autores defendem que a explicação encontra-se na tectónica de placas, outros na produção bacteriana de metano) - redundou numa mudança catastrófica da química da atmosfera. Um dos efeitos mais dramáticos da acumulação atmosférica de oxigénio foi a precipitação do ferro suspenso nos mares arqueanos em extensos depósitos de ferro de grande valor económico. O oxigénio tem uma importante propriedade química: o oxigénio é um fortíssimo oxidante, aliás poucas substâncias são mais oxidantes do que o oxigénio. O oxigénio de rédea solta, sem controlo bioquímico, pode destruir as estruturas celulares, oxidando-as. Se dominado pela respiração, o mecanismo inverso da fotossíntese, permite extrair mais energia da matéria orgânica do que a fermentação. Com mais energia os animais podem ser maiores (as despesas energéticas são proporcionais à dimensão), e as plantas também. A Grande Oxidação abriu o caminho à explosão da vida animal nos mares câmbricos e, um pouco mais tarde, no Devónico, à conquista da Terra emersa, primeiro pelas plantas e logo a seguir pelos animais.
Perdi-me na escrita. Inicialmente queria discutir a forma como as gramíneas controlaram a composição do fitoplâncton marítimo e a evolução dos mamíferos herbívoros no Cenozóico. As gramíneas são apenas um dos muitos actores da vida na Terra que influenciaram e se deixaram influenciar pelas suas extraordinárias capacidades, pelo seu extraordinário sucesso evolutivo. Sem um contexto um pouco mais lato, recuando até à Grande Oxidação, poderia parecer que as gramíneas foram únicas a manipular os macro-caminhos da evolução. Sem compromissos de datas, essa história fica para depois.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Linaria vulgaris (Plantaginaceae) e mais alguns bichos (Insecta)





















O post de hoje, como o nome indica, é sobre a belíssima Linaria vulgaris Mill., Gard. Dict., ed. 8: no. 1. 1768 [16 Apr 1768]
= Antirrhinum linaria L., Sp. Pl.: 616. 1753 ("Habitat in Europae ruderatis.")
= Linaria linaria (L.) H. Karst., Deut. Fl. (Karsten) 947. 1882 [Nov 1882] ; Wettst. in Engl. & Prantl, Naturl. Pflanzenfam. iv.3b (1891) 59
= Linaria vulgaris lutea, flore majore Bauh., pin.: 212
vol. 2 - Caroli Linnaei ... Species plantarum - Biodiversity Heritage Library

Esta excelente planta perene, superornamental, pertencente à nobilíssima tribu das Antirrhineae (http://bibdigital.rjb.csic.es/spa/RJBvistapag.php?pag=../Imagenes/F(46AND)VAL_Fl_And_Occid_2/VAL_Fl_And_Occid_2_507.pdf), constitui, ao que supomos, a espécie-tipo do género Linaria Mill., e encontra-se naturalizada em todos os estados dos Estados Unidos da América!
PLANTS Profile for Linaria vulgaris (butter and eggs) | USDA PLANTS,
sendo espontânea em grande parte da Eurásia, frequentemente como planta ruderal
Linaria vulgaris information from NPGS/GRIN
Linaria vulgaris in Flora of China @ efloras.org
Image/JPEG: Scrophulariaceae
Linaria vulgaris - Wikipedia, the free encyclopedia
Infelizmente, não se encontra espontânea em Portugal, embora viva em quase todos os países da Europa (http://euromed.luomus.fi/euromed_map.php?taxon=308396&size=medium).

É vernacularmente conhecida por "linária", "linária vulgar", "butter and eggs", "common toadflax", "osyride", "pajarita", "pajaritas", "yellow toadflax" e muitos outros nomes
PLANTS Profile for Linaria vulgaris (butter and eggs) | USDA PLANTS
The Euro+Med Plantbase Project
(Marhold, K. (2011): Scrophulariaceae. – In: Euro+Med Plantbase - the information resource for Euro-Mediterranean plant diversity).

Estas fotos -as da linária (nas quais é possível também vislumbrar um Rubus (Rosaceae) exibindo as saborosas amoras)- são de origem francesa, mais concretamente da Normandia
Longues-sur-Mer - Wikipédia;
As borboletas e a mosca, contudo, são bem portuguesas!

Como acompanhamento animal, vamos deixar aqui uma mosca (Diptera) e duas borboletas (Lepidoptera), uma das quais sobre Myosotis sp. (Boraginaceae), para os ilustres peritos entomólogos que visitam este blog identificarem, se assim lhes aprouver!
(Ficam desde já os nossos sinceros agradecimentos!)

Como sugestão musical deixamos esta maravilha, da autoria de G. Gershwin, Wilson, Bennett, "Nothing but Love"
Brian Wilson Reimagines Gershwin - Wikipedia, the free encyclopedia,
interpretada pelo grande Brian Wilson:
Brian Wilson - Nothing But Love - YouTube

domingo, 11 de setembro de 2011

Campanula herminii (Campanulaceae) e mais algumas beldades




















Como o nome do post indica, trazemos hoje aqui a bela Campanula herminii Hoffmanns. & Link, Fl. Portug. 2: 9. 1820 (Campanulaceae), uma planta serrana e um raro endemismo exclusivamente ibérico (http://euromed.luomus.fi/euromed_map.php?taxon=311911&size=medium), fotografada a mais de 1700 m, numa excursão estrelense, já há algum tempo.

A saxífraga, do mesmo local, deverá ser a Saxifraga spathularis Brot., Fl. Lusit. 2: 172. 1805 (Saxifragaceae),
uma bela "Estrela da Serra", conforme a muito apropriada sugestão que encontrámos neste óptimo blog Dias com árvores: Estrela da serra,
e um precioso endemismo ibero-irlandês (http://ww2.bgbm.org/EuroPlusMed/PTaxonDetail.asp?NameCache=Saxifraga spathularis&PTRefFk=7200000)

Ainda do mesmo local, sobre granito, fica um interessante líquen foliáceo, cuja identidade desconhecemos...

A venusta borboleta camuflada é das terras baixas e fica para identificação por algum dos ilustres lepidopterólogos que têm a amabilidade de nos visitar!

Como sugestão musical deixamos hoje esta pérola do excelente Roy Orbison: You Got it
Roy Orbison You Got it - YouTube

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Microrrhinum minus (Plantaginaceae), uma Campanula (Campanulaceae) e uma borboleta (Lepidoptera)





















Como o nome do post indica, trazemos hoje mais algumas beldades, animais e vegetais:
Microrrhinum minus (L.) Fourr. in Ann. Soc. Linn. Lyon 17: 127. 1869
= Antirrhinum minus L., Sp. Pl.: 617. 1753
= Chaenorhinum minus (L.) Lange in Willk. & Lange, Prodr. Fl. Hispan. 2: 577. 1870
= Linaria minor (L.) Desf., Fl. Atlant. 2: 46. 1798
uma bela e subtil planta anual, pertencente à tribo Antirrhineae das antigas Escrofulariáceas, que se encontra distribuída por quase toda a Europa e Região Mediterrrânica (http://euromed.luomus.fi/euromed_map.php?taxon=310672&size=medium; (Marhold, K. (2011): Scrophulariaceae. – In: Euro+Med Plantbase - the information resource for Euro-Mediterranean plant diversity),

uma Campanula (Campanulaceae) alpina, que não nos atrevemos a nomear, na companhia de um Galium (Rubiaceae),

e uma borboleta (Lepidoptera), com e sem flash, para alguma alma generosa identificar!

Propomos ainda uma breve viagem até Montreal, June 17, 2011, para ouvir o excelente Brian Wilson:
Brian Wilson live In Montreal June 17, 2011 - YouTube