segunda-feira, 20 de abril de 2009

Canárias, os extremos da mediterraneidade

Foto3. Andar oromediterrânico na base do vulcão do Teide (aprox. 2400 m de altitude): Juniperus cedrus subsp. cedrus, um dos zimbros das Canárias; S. Mesquita, 2003)


Foto2. Floresta de til (Ocotea foetens, Gomera, Canárias; S. Mesquita, 2003).


Foto 1. Euphorbia canariensis, Tenerife, Canárias (S. Mesquita, 2003)


Alexander von Humboldt
(1769-1859), o naturalista viajante mais brilhante do final do século XVIII, princípios de XIX, descreve na Narrativa Pessoal de uma Viagem às Regiões Equinociais do Novo Continente (1814-1825) a sua primeira paragem fora da Europa continental e relata o seu espanto com o contraste climático da ilha de Tenerife, nas Canárias: desde o nível do mar até ao cume da alta montanha vulcânica do Teide (3.718 m de altitude) sucedem-se quase todos os andares bioclimáticos possíveis no clima mediterrânico, desde o infra-mediterrânico desértico nas baixas altitudes com vegetação megatérmica de caules suculentos (foto1); passando, á vez, pelo mesomediterrânico hiper-húmido com laurissilva mesofítica na zona das nuvens (foto 2); à vegetação oromediterrânica semi-árida já acima do nível altitudinal das nuvens (foto 3). A ilha de Tenerife é de facto um paradigma bioclimático e vegetacional da mediterraneidade. Independentemente da quantidade total de precipitação em cada andar, existe um traço comum ao ritmo da precipitação: seja qual for a quantidade de chuva anual, o Verão é sempre seco. A resposta vegetacional compõe-se a partir de uma pool de espécies simultaneamente herdada da vegetação tropical do Terciário pré-mediterrânica e também numa especiação muito intensa desde então, aliás uma característica de todas as ilhas.
Como este é também um blogue de pessoas, eu apareço empoleirado num til (Ocotea foetens).

2 comentários:

  1. Olá Jorge, concordo com a mediterraneidade regional da ilha de Tenerife, que não conheço. Mas as chuvas ocultas não transportam (biogeograficamente falando) as altitudes do andar mesomediterrânico hiperhúmido para um lugar algures a meio caminho entre os Açores e a Irlanda? Será a laurissilva realmente mediterrânica? Sem o fresco gotejar estival não teríamos tamanha diferença para os andares imediatamente superior e inferior, assim como cá no continente não teríamos os belos abetos sintrenses... Outliers geográficos, como os charcos temporários mediterrânicos na New Forest de Inglaterra... Saudações, JPinho

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  2. Isso seria verdade se essa a flora temperada holártica lá tivesse chegado. O que aconteceu foi que a flora sub-tropical 'foi ficando' e em parte evoluiram caracteres adaptativos à mediterraneidade (folhas mais coriáceas, etc.) por selecção positiva das plantas que já os tinham ou por convergência posterior. Uma parte da laurissilva é temperada hiper-oceânica o que não é muito diferente de sub-tropical. Na Madeira, toda a encosta Norte e a Sul dos 900 m para cima é temperado. Nas Canárias não existe temperado de todo. Assim, a secura estival é compensada pela precipitação horizontal (oculta)permanente, que não só contribui para compensar hidricamente o solo e também pelas que nuvens diminuem a evapotranspiração potencial. Por isso, a floresta mesofítica está na faixa das nuvens (1000 - 1500 m) ou então - em pleno clima mediterrânico - MAS no nas ribeiras (biótopos edafo-higrófilos). Nas Canárias não há bosques de Ocotea foetens climatófilos, só edafo-higrófilos. Os climatófilos (ex. Peninsula de Anaga, Tenerife ou Gomera, em média altitude) são todos de árvores claramente mediterrânicas: Arbutus, Apollonias (tal como na Madeira), Ilex, etc...

    Saudações cordiais, João.
    JC.

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