No início do Verão é fácil de distinguir das restantes árvores de fruto da família das rosáceas: dá cerejas :-) Reune, é claro, uma ampla combinação original de caracteres morfológicos que permite a sua identificação em qualquer altura do ano, e.g.: a casca, prateada, descataca-se por tiras horizontais; as flores são brancas, com numerosos estames inseridos na margem de um hipanto alargado, uma espécie de taça onde se acumula o néctar que escorre das suas paredes internas; o ovário é súpero com um único primórdio seminal; nas árvores jovens as pernadas e braças têm uma inserção verticilada (mais de uma por nó); na copa desenvolvem-se ramos grossos, rugosos, os mais velhos muito compridos e rectos, especializados na produção de flores e frutos, conhecidos em fruticultura por esporões.
Esporões com 3 anos em Prunus avium «cerdeiro» [foto C. Aguiar]
Queria, porém, chamar a vossa atenção para um interessante pormenor que passa facilmente desapercebido nesta espécie: os nectários extraflorais. No «cerdeiro», como em muitas outras espécies (e.g. «salgueiros» e «maracujazeiros»), os nectários extraflorais situam-se no limbo ou no pecíolo das folhas. Segregam soluções açucaradas que servem de recompensa em relações mutualistas com insectos. Conforme o nome indica, os nectários extraflorais situam-se no exterior da flor, por conseguinte, não se destinam a "pagar" o serviço polinização. O mais provavel é que a suas secreções paguem aos batalhões de formigas que diariamente percorrem os seus ramos um serviço de defesa contra insectos herbívoros, sobretudo contra afídeos e lagartas de borboletas. Na Natureza "não há almoços de graça"!
Folhas de Prunus avium «cerdeiro» [foto C. Aguiar]. N.b. nectários extraflorais no encontro do pecíolo com o limbo da folha.
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