quarta-feira, 13 de maio de 2009

Digitalis amandiana (Plantaginaceae)

Gonçalo Sampaio descreveu em 1905 para o vale do Douro uma dedaleira, como é costume
 dizer, nova para a ciência: a Digitalis amandiana.
Esta espécie está iconografada na Flora Portuguesa, de 1946, e na Iconografia Selecta da Flora Portuguesa, de 1949. Também Pereira Coutinho a refere, por exemplo, nas suas Adições à Flora de Portugal de 1935.
Gonçalo Sampaio era um botânico cuidadoso. Numa troca de correspondência com Júlio Henriques, possivelmente escrita em 1908, refere que cultivou a planta e constatou que os seus carateres eram estáveis (vd. aqui).


Ainda assim a Digitalis amandiana, lentamente, caiu no esquecimento. Os taxa vão e vêm ao sabor do nosso saber.
Recentemente, o Dr. Paulo Alves do Inst. Bot. da Univ. do Porto apercebeu-se da bondade deste taxon. Pouco depois, a Flora Ibérica incluiu-a no volume das Scrophulariaceae, embora a tenha subordinado com a categoria de subespécie, incorrectamente, assim me parece, à Digitalis purpurea.
Aqui está, então, uma dedaleira endémica de Portugal, exclusiva da porção mediterrânica do vale nacional do Rio Douro e dos troços finais dos seus afluentes maiores.

Digitalis amandiana (Plantaginaceae) [foto C. Aguiar]

A D. amandiana, felizmente, é fácil de observar em escarpas mais ou menos sombrias, em afloramentos rochosos no interior de bosques perenifólios, nos muretes dos mortórios (vinhas abandonadas durante a crise da filoxera, no final do séc. XIX) ou nos taludes dos vinhedos durienses. Os mentores da elevação do Alto Douro Vinhateiro a Património Mundial certamente deverão gostar desta constatação: a armação tradicional do terreno das vinhas durienses oferece um habitat secundário a um importante endemismo lusitano, a extraordinária Digitalis amandiana !!! E, já agora, a outros endemismos que a seu tempo referirei ;-)

9 comentários:

  1. Bela planta, e endémica, sem dúvida!
    zg

    ResponderEliminar
  2. E de que forma é possível distinguir as duas?

    ResponderEliminar
  3. E já agora que se fala de dedaleiras Carlos, se assim o posso tratar, qual a forma mais espedita de diferenciar a D. purpurea subsp. carpetana que ocorre na serra da Estrela nas cotas de maior altitude'

    ResponderEliminar
  4. A D. amandiana distingue-se pelos caules glabros e pelas folhas brilhantes, verde-claro e dentadas. As restantes Digitalis da região têm pêlos no caule e folhas baças.

    Quanto à D. purpurea subsp. carpetana ... de facto no territórios estrelenses aparecem dedaleiras de grande tamanho que me ensinaram a designar por D. carpetana. A Flora Iberica defende que este taxon tem origem híbrida: D. purpurea x D. thapsi e, por essa razão, apresenta caracteres intermédios (http://www.floraiberica.es/floraiberica/texto/pdfs/13_144_17_Digitalis.pdf)

    ResponderEliminar
  5. Distinto e notável táxone, sem qualquer sombra de dúvida.

    ResponderEliminar
  6. Vendo um exemplar de «Iconografia Selecta da Flora Portuguesa», 1949. monicascherl@gmail.com

    ResponderEliminar
  7. Já venho tarde, mas deixarei o meu comentário.
    Sem desvalorizar a Amandiana (vou tratá-las assim, para manter a ambiguidade de classificação), num site aqui 'linkado' li uma subestimação do quanto a Thapsi é distinta. É uma planta que conheço bem, e as principais diferenças não se resumem a pormenores das folhas, as quais já por si são notáveis. As Thapsi vivem muitos anos, resistindo perfeitamente aos incêncios, raramente se vendo uma nascida (enquanto as Purpureas nascem 'aos montes' no fim do verão). Por isso, com a idade convertem-se em 'pom-poms' com várias dezenas de hastes (frequentemente mais de 50).

    ResponderEliminar
  8. 'Submeter' a amandiana à thapsi (p.ex. como subespécie ou raça) é completamente descabido, são em tudo o oposto.
    Por outro lado, todas elas (purpurea, amandiana, thapsi) hibridam. Nas regiões de transição encontram-se (como o mais comum e não a excepção) intermédios entre as raças. Em Baião e Seia o mais comum é encontrar intermédios de purpurea e thapsi, no vale do Tua é muitíssimo fácil encontrar intermédios entre purpurea e amandiana, e no vale da Estação de Almendra encontra-se um intermédio de thapsi e amandiana.
    Todas estas dedaleiras são da espéce D. purpurea num contexto de objetividade e exigência, mas no contexto da necessidade de preservação há pressão para considerá-las como espécies.

    ResponderEliminar