Duas fotografias das estruturas reprodutivas de Betula celtiberica tiradas no ano passado, por esta altura, na região de Bragança.
Betula celtiberica «bidoeiro». N.b. amentos masculinos (pêndulos), amentos femininos (erectos) e infrutescências formadas a partir dos amentos femininos do ano anterior (pêndulas e de cor escura) [foto C. Aguiar]
Betula celtiberica «bidoeiro». N.b. amento feminino e infrutescência preste a desfazer-se e a libertar as sementes [foto C. Aguiar]
A B. celtiberica apesar de ter uma área de ocupação escassa em Portugal continental é parte integrante de pelo menos 4 tipos de bosques de óptimo supratemperado. Entre estes bosques os mais interessantes serão talvez os bidoais ripícolas temperados. Quando subirem as montanhas mais altas do Norte e centro do País reparem que a entrada no andar supratemperado, por volta dos 800-1000 altitude, é marcada pela substituição do amieiro e do freixo pelo bidoeiro nas margens das linhas de água permanente.
W. Rothmaler, num curioso artigo de 1941, defendeu que os nomes vulgares “vido” e “vidoeiro” não devem ser usados porque são uma invenção lisboeta ! A B. celtiberica, em vernáculo, chama-se «bidoeiro»! Alguns florestais adoptaram, recentemente, o nome vulgar "noiva-da-floresta", diga-se, de gosto bastante duvidoso.
E razão tinha Rothmaler quanto à grafia e pronúncia! O sistema consonântico do Português arcaico (tal o como o Castelhano contemporâneo) não fazia uso do som "v" fricativo labiodental, mesmo que tal letra fosse usada na grafia; em seu lugar utilizava-se a plosiva bilabial "b" que se escuta pelo Nordeste Português — vaca pronunciava-se "baca", Victor pronunciava-se "Bictor", &c. A "pronúncia do Norte" assemelha-se hoje mais à pronúncia original Galaico-Portuguesa do que a pronúncia de Lisboa.
ResponderEliminarQuando a capital do Reino se transferiu para Lisboa, o som original da letra v, a tal consoante fricativa labiodental, foi recuperado para o idioma Português graças à influência das populações moçárabes de Lisboa, que a haviam conservado. À medida que a pronúncia moçárabe de Lisboa, com os seus V fricativos bem acentuados, foi sendo assimilada pela aristocracia urbana, o uso fricativo do V passou a ser socialmente prestigiante; tão prestigiante, de facto, que os fidalgos e os burgueses começaram a ser hipercorrectos: não só só recuperaram a pronúncia V onde a grafia etimológica assinalava a consoante (por exemplo: voar, de "volare"), como no afã de se distanciarem da pronúncia provinciana começaram a transformar em V os antigos B etimológicos: foi assim que passámos a ter árvore em lugar de árbore, erva em lugar de herba, livro em lugar de libro, cavalo em lugar de cabalo, e Vidoeiro em lugar de Bidoeiro (sendo este último uma evolução fonética espontânea, nada "snob", de Betula, tendo-se dado a habitual conversão de t em d).
É curioso comparar as evoluções do Português e do Castelhano quanto à pronúncia do V. A mudança da capital portuguesa desde Coimbra para Lisboa, cruzando a isoglossa B/V que corre por um paralelo a norte de Pombal, prestigiou politicamente a pronúncia do "V". A mudança da capital castelhana de Valladolid para Madrid não deixou o espaço da pronúncia exclusiva do B, já que a isoglossa B/V passa a Sul desta última cidade. Como resultado, o sotaque politicamente prestigioso pronuncia todos os V como B; pronunciar fricativamente o V, como fazem os lisboetas e os andaluzes, é sinal de provincianismo em Castela.
Caro Pedro, "caí" aqui hoje (12 anos depois desta sua escrita, a propósito de uma brincadeira num site. E não é que vim aprender que farta?! Grande abraço.
EliminarObrigado, Pedro. Comentário rico, como sempre.
ResponderEliminarAs bétulas têm outro interesse acrescido para mim: os cogumelos. Nas montanhas onde existem manchas de bétulas, é comum haver outras folhosas e coníferas. Debaixo delas, no final do Verão começam a aparecer um sem fim de cogumelos silvestres deliciosos, como leccinuns, boletos, russulas ou cantarelos. Surgem ainda outros exemplares, muito interessantes e alguns tóxicos (até dos mesmos géneros que referi), como amanitas por exemplo. Logo, há que ter sempre cuidado com as identificações e colheitas para fins gastronómicos.
ResponderEliminarNas bétulas fracas, nos seus cepos ou madeira caída, nasce ainda um cogumelo muito curioso, o Piptoporus betulinis, ou políporo do bidoeiro. Acho que ocorre só nesta árvore. Parece uma ameijoa gigante e tem utilizações terapêuticas.
Até breve!
Manel
Só mais uma coisa. Os bidoeiros são incrivelmente fotogénicos, durante as quatro estações. No inverno o seu ar tranquilo e austero, sem folhagem, evidenciando a beleza daquela casca em tons brancos e prateados. Na primavera exibem um verde fresco cheio de vida. Pelo verão o verde escurece, mas não há nada melhor do que descansar debaixo da sua sombra fresca que filtra a luz intensa e onde se ouve a brisa nas suas copas. No outono é uma celebração em tons dourados.
ResponderEliminarTenho imagens de cogumelos e bidoeiros no meu blogue aromâncias (etiquetas cogumelos e árvores).
Até breve!
Manel
acho que devia ter tudo para por exemplo apresentaer um trabalho
ResponderEliminarnada nada
deixem-se de conices , bétula é suficiente em português (portugueses complicados-nomes estúpidos)
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