segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A marcescência das folhas em Quercus faginea (Fagaceae)


Exemplar de carvalho-alvarinho semi-caducifólico em S. Pedro de Moel.

Num excelente post anterior do meu amigo Carlos Aguiar, falou-se no conceito de marcescência e semi-caducifolia e deu-se como exemplo Quercus faginea e Quercus pyrenaica. É complicado referir que uma determinada espécie do género Quercus é marcescente ou semi-caducifólica porque se trata de género com multi-espécies que hibridam nas zonas de contacto e portanto podem partilhar haplótipos facilmente. A semi-caducifolia é típica das zonas temperadas húmidas na costa Este dos continentes e nas zonas subtropicais enquanto a marcescência ocorre em zonas montanhosas interiores em clima mediterrânico. O carvalho-cerquinho (Quercus faginea) é uma espécie típica das zonas mais continentais da Península Ibérica (Quercus faginea subsp. faginea). A sua presença no quadrante Sudeste da Península Ibérica (Quercus faginea subsp. broteroi), em zonas litorais parece ser uma contradição da ecologia desta espécie. Contudo a sua capacidade para absorver mais nutrientes durante o Outono, uma característica típica da marcescência, permitiu-lhe colonizar os solos pobres calcários do maciço estremenho, ocupando um nicho ecológico vago, já que sobreiro é incapaz de ocupar solos básicos. O centro Oeste do litoral Ibérico possui algumas áreas com um andar bioclimático e ombroclima (mesomediterrânico inferior húmido) com algumas semelhanças com as zonas temperadas húmidas, e que permitem o aparecimento dos louriçais mais exuberantes da nossa laurissilva incipiente. Neste contexto climático alguns exemplares de Quercus faginea e Quercus robur são claramente semi-caducifólicos, deixando parte das folhas verdes durante todo o ano. O facto de nesta região o carvalho-alvarinho e o carvalho cerquinho partilharem alguns haplótipos (especialmente na zona compreendida entre a Serra da Boa Viagem e Valongo), juntamente com as enormes populações de Quercus x coutinhoi (híbrido entre as duas espécies) da zona da Serra de Sicó, parecem indicar que estas estratégias evolutivas não são características intrínsecas das espécies mas sim o resultado de uma extensa troca de genes seguida de uma selecção positiva.

6 comentários:

  1. Muito convincente, esta tua hipótese em torno das vantagens competitivas de um alargamento ao Outono - quando a chuva está de volta - do período de actividade radicular das árvores climácicas. Excelente post. Volta mais vezes, p.f.

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  2. Espero voltar muitas vezes, mesmo que seja para ler os teus textos excelentes. No mês passado fui ao Kew Gardens e fiquei pasmado com a colecção do género Quercus. Na zona Oeste dos Estados Unidos, o Quercus garryana possui muitas semelhanças ecológicas com os nossos carvalhos marcescentes...

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  3. Já agora, coloco aqui o link para consultarem a tese da Teresa Azevedo, com quem tive o prazer de colher amostras de folhas de carvalho.
    http://www2.fc.up.pt/pessoas/aseneca/Teresa%20Azevedo%20Tese.pdf

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  4. Atenção que em vez de sudeste deve querer dizer sudoeste

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