A justificação de uma região biogeográfica Macaronésica assenta, tradicionalmente, na presença de alguns taxa peculiares de carácter reliquial, e.g. Myrica faya, Dracaena draco, Laurus e Euphorbia subsect. Pachycladae, e na partilha (muito desigual) de uma radiação adaptativa em alguns géneros, entre os quais se contam os inevitáveis Echium (Boraginaceae), mas também Artemisia (Asteraceae), Euphorbia (Euphorbiaceae), Globularia (Plantaginaceae), Sonchus (Asteraceae), Tolpis (Asteraceae), Erysimum (Brassicaceae), Lotus (Fabaceae), Festuca (Poaceae) ou Deschampsia (Poaceae). Embora os arquipélagos da Madeira, Selvagens e Canárias tenham um elemento florístico e "vegetacional" comum assinalável, a semelhança da sua flora e coberto vegetal com os Açores, a Norte, ou com Cabo Verde, a Sul, é marginal. Não vale a pena sequer perder tempo a procurar pontes entre a flora e a vegetação tropical árida a desértica de Cabo Verde, e o verde luxuriante dos Açores.
Fiz uma leitura rápida das Floras e das checklists das plantas-com-flor dos arquipélagos de Cabo Verde, Canárias, Madeira e Açores e encontrei uma única espécie indígena comum a todos eles, a Dracaena draco. Isto, partindo do princípio que não andam por aí perdidas uma, ou mais, Dracaena por descrever.
Dracaena draco (Ruscaceae) «dragoeiro», algures nos Açores
Muito interessante!!
ResponderEliminarDragoeiros selvagens ainda nos Açores?? Que espectáculo! E que ignorância minha, pensava que já só existiam na Madeira no estado selvagem... Ou será alguma descoberta recente?
ResponderEliminarE estão perto da extinção como na Madeira ou ainda são em número suficiente para se aguentarem?
Um ano de topo para todos!
Abraço!
Indígena dos Açores, sem dúvida, Miguel. O H. Schafer, entre outros autores, também admite que a D. draco é indígena dos Açores.
ResponderEliminarQue surpresa! Uma maneira contudente de começar o ano.
ResponderEliminarUma foto excelente!!
ResponderEliminarDesse bosque de dragoeiros tenho boas e más memórias. Estava eu a subi-lo, por indicação do Carlos, quando se soltou uma rocha de uns 100 kg e acertou na pessoa que vinha na minha vertical, umas dezenas de metros mais abaixo e ficou 'apenas' com uma enorme nódoa negra na coxa e um braço esfolado.
ResponderEliminarAs classificações devem sempre ser sujeitas à crítica. Eu próprio, um fitossociólogo praticante, não concordo muito com algumas das classificações das classes fitossociológicas que muitas vezes não reflectem a ecologia das espécies. Um dos casos mais interessantes é o da classe Cytisetea scopari-striati, que tem como elemento unificador o facto de as plantas terem fisionomia retamoide, dando o exemplo das giestas. Se olharmos para a ecologia e ciclo de vida da giesta branca (Cytisus multiflorus), é fácil constatar que se trata de um arbusto com uma estratégia de vida que apresenta mais semelhanças com plantas como o rosmaninho e a esteva, do que com as giestas propriamente ditas.
ResponderEliminarEu tenho sempre medo de classificações... mesmo das espécies; pois parece-me que há grupos que nunca ficarão resolvidos uma vez que estão em plena especiação, portanto qualquer classificação quedaria algo arbitrária!
ResponderEliminarSem dúvida que classificar está inerente na natureza do homem, dá-nos "conforto" ver uma ordem na natureza, e ainda mais conforto dar nomes aos padrões dessa ordem; mas na realidade, como as coisas são contínuas, é preciso muita cautela! Claro que a abordagem da classificação é óptima para transmitir o conhecimento e portanto sempre será útil, mas era fino haver um método mais expedito para lidar com gradientes contínuos, seja ao nível das espécies ou das comunidades. Não faço ideia como tal poderia ser feito!