João Manuel António Paes do Amaral Franco o patriarca da botânica portuguesa, autor da sua última flora, faleceu em Lisboa no dia 8 de Maio de 2009, aos 87 anos de idade.
Nasceu a 25 de Junho de 1921 em Santos-o-Velho, Lisboa tendo representado ao longo da sua vida como botânico uma linha de mais de um século de insignes botânicos do Instituto Superior de Agronomia e da Botânica portuguesa.
Foi professor de Botânica de várias gerações de engenheiros agrónomos e silvicultores tendo sido responsável pelas disciplinas de botânica no Instituto Superior de Agronomia de 1950 até à sua jubilação em 1991. Foi ainda membro de uma grande parte dos júris de doutoramento, e outros, dos botânicos portugueses seniores da actualidade.
O seu curriculum inclui mais de 150 publicações sendo o exemplo do trabalho profícuo de um taxónomo e sistemata. Realizou centenas de descrições, redescrições, aperfeiçoamentos em descrições anteriores, alteração de corologias, traduzindo nos herbários que estudou, particularmente em LISI, a mais significativa das mais valias.
O Professor João Amaral Franco iniciou a sua actividade científica ainda como aluno e prolongou-a pelos últimos 67 anos.
O primeiro período (1940 a 1950) da sua vida científica corresponde à precoce introdução à taxonomia vegetal sobretudo através de estudos de dendrologia de coníferas. Durante este período inicia a sua longa carreira académica como docente ao ser contratado como segundo assistente no Instituto Superior de Agronomia.
Depois de 1950, e até 1960, já como Professor agregado, continua a publicação de diversas notas sobre coníferas datando deste período um consistente alargamento do horizonte taxonómico dos seus interesses e publicações a que não serão alheios os períodos passados em Kew e no Museu de História Natural de Londres. Nesta década publica diversas notas sobre a flora de Portugal algumas de índole biogeográfica, a par da principal linha de investigação em taxonomia vegetal.
A década de 60 fica marcada pela sua colaboração com o projecto Flora Europaea e pelas notas publicadas em colaboração com o A. R. Pinto da Silva bem como com a M. L. Rocha Afonso. Ainda na década de 60 foi nomeado professor extraordinário do 1º grupo de disciplinas do Instituto Superior de Agronomia.
A partir de 1971 João Amaral Franco iniciou (por sugestão do Prof. V. Heywood e do Prof. T.G. Tutin) a publicação da Nova Flora de Portugal, da qual publica o primeiro volume. Ainda na década de 70 inicia a colaboração com a iniciativa Atlas Florae Europaeae e colabora no terceiro e quarto volume da Flora Europaea. Datam deste período as suas principais contribuições na fitogeografia e corologia da flora de Portugal, mantendo assinalável produção científica taxonómica patente nas Notulae Systematicae
Na década de 80 vê o seu curriculum científico e académico reconhecido tendo sido nomeado professor Catedrático do 1º grupo de disciplinas do Instituto Superior de Agronomia. Neste período alarga os seus estudos sobre monocotiledóneas sobretudo gramíneas grupo sobre o qual publica diversos artigos e notas. Publica o segundo volume da Nova Flora de Portugal e a Distribuição de Pteridófitos e Gimnospérmicas em Portugal. Mantém a colaboração como o Atlas Florae Europaeae datando deste período a sua colaboração com a Med-Checklist projecto de que foi Conselheiro Nacional, e no projecto Flora Ibérica do qual é editado o primeiro volume.
Após a sua jubilação 1991, continua a colaborar activamente no herbário e Departamento de Protecção de Plantas e de Fitoecologia do Instituto Superior de Agronomia, bem como nos projectos Flora Ibérica e Atlas Florae Europaeae. Em 1994 publica, em colaboração com M.L. Rocha Afonso o primeiro fascículo do terceiro volume da Nova Flora de Portugal, bem como diversos artigos e notas resultado da preparação do segundo fascículo dedicado às gramíneas.
Nos primeiros anos do novo milénio vê a luz do dia o terceiro (e último) fascículo do terceiro volume Nova Flora de Portugal. Nestes anos João Amaral Franco continuou a manter intensa actividade de revisão de material herborizado no herbário LISI, tendo revisto para nova edição o primeiro Volume da Nova Flora de Portugal.
Foi autor de cerca de 160 novos taxa ou combinações tendo-lhe sido recentemente dedicadas as espécies Teucrium francoi e Festuca francoi.
O seu exemplo e a sua obra na produção de revisões e monografias, na publicação de novidades florísticas ou taxonómicas, reflecte o trabalho de uma vida na taxonomia, a sua Flora foi, e é, uma ferramenta de excelência, primando pelo rigor da linguagem pelas extensas descrições. A Botânica portuguesa deve-lhe muito pois a sua obra exemplar possuio sempre um rumo coerente, contínuo e pertinaz, características exemplares de um curriculum que contribui para o progresso da ciência e da taxonomia vegetal em particular.
Recordo o Professor João Amaral Franco no antigo herbário LISI debruçado sobre algum espécimen enquanto centenas de outros esperavam o momento de serem escrutinados, que esta imagem de labor contínuo e o resultante curriculum nos sirvam de exemplo.
A sua obra perdurará.
Miguel Pinto da Silva Menezes de Sequeira, Funchal, 12 de Maio de 2009.
Bonito texto dirigido a quem a botânica portuguesa muito deve.
ResponderEliminarBonita e necessária homenagem.
ResponderEliminarA sistemática tem esta característica: o passado está sempre presente. Lineu, Boissier, Brotero, R.T. Lowe, Xavier Pereira Coutinho, Gonçalo Sampaio, Pinto da Silva, Amaral Franco, e todos os outros grandes botânicos, serão sempre recordados. E não é só a regra da prioridade que a isso obriga. A erudição dos antigos botânicos é essencial para a prática dos florista e sistematas actuais.
O pianista Sequeira Costa, presidente do juri do concurso de piano 'Viana da Mota', há vários anos que só atribui segundos prémios ex aequo. Diz que se pode ser um excelente tocador de piano - que tem visto muitos e muito bons - mas é preciso muita erudição e cultura em todas as áreas do saber para se ser pianista. J. do Amaral Franco era um botânico.
ResponderEliminarUm homem verdadeiramente extraordinário!
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