terça-feira, 2 de junho de 2009

Vinhas do Sabor

O "Voyage en Portugal ..." (vd. este post) faz uma referência curiosa à videira-europeia (Vitis vinifera). O Conde de Hoffmansegg ao percorrer o termo de Brunhoso (concelho de Mogadouro) constatou que “caminhos difíceis atravessam uma espessa floresta onde cresce a vinha selvagem que sobe pelas árvores”. Esta passagem refere-se, claramente, a bosques não ripícolas.
Em 1867 as vinhas durienses foram invadidas por uma praga temível: a filoxera (Daktulosphaira vitifoliae, Homoptera). Pouco anos mais tarde, logo no início da década de 7o do mesmo século, a filoxera devastou por completo as vinhas durienses: a videira-europeia demonstra uma susceptibilidade absoluta a este insecto. A depressão económica subsequente só foi ultrapassada quando as videiras-europeias começaram a ser enxertadas em Vitis de origem norte-americana.
As videiras-europeias observadas pelo conde Hoffmansegg nos sobreirais, ou nos azinhais, sobranceiros ao rio Sabor não sobreviveram à filoxera. Hoje em dia as videiras-europeias ferais que persistem na região estão acantonadas às margens de curso de água permanentes, por exemplo, ao rio Sabor.  Nestes habitats as raízes desta liana são ciclicamente submersas pela água obviando, deste modo, os ataques de filoxera. 
A memória da tragédia da filoxera está a perder-se. Muita gente, porque é mais fácil,  porque está na moda, voltou a plantar estacas de videira-europeia ... e a filoxera está de volta ao Douro.

Vitis vinifera «videira-europeia» [foto C. Aguiar]

8 comentários:

  1. Mais uma bela foto e um post interessantíssimo!!

    zg

    ResponderEliminar
  2. Fiquei curiosa por saber o que causou o ataque de 1867?

    ResponderEliminar
  3. Terá sido uma forma de terrorismo económico?

    ResponderEliminar
  4. ... ou, quiçá, para tentar salvar o povo do tão temido flagelo do álcool ...

    ResponderEliminar
  5. A filoxera foi inadvertidamente introduzida na França com a importação de videiras-americanas infestadas com este insecto dos EUA. Entre a sua introdução em França (1863) e a sua detecção em Portugal (1867) decorreram apenas 4 anos!
    As videiras-americanas toleram a filoxera porque co-evoluiram com ela. A videira-europeia não teve essa sorte.
    Estão relatados inúmeros exemplos de introduções acidentais (e não acidentais) de pragas ou doenças com consequências devastadoras. São exemplos o míldio da batateira, o oídio da vinha, a grafiose do ulmeiro e, mais recentemente, o nemátodo do pinheiro.
    Algo semelhante aconteceu com doenças humanas e animais. Não foram os humanos nativos das Américas dizimados pela varíola e outras doenças endémicas do Velho Mundo?

    ResponderEliminar
  6. O que se aprende neste blog!!

    zg

    ResponderEliminar
  7. Onde estava o ICNB em 1863?
    ou já estariam (não terão estado sempre) em dificuldade económica e, assim, dispensado (ou não recrutando os necessários) "guardas florestais"...

    ResponderEliminar
  8. exmo senhor prof. Carlos Aguiar
    Relativamente às Vitis, tenho tido dificuldade em encontrar uma imagem que corresponda à variedade da Vitis silvestris, toda a informação que tenho recolhido, vai de encontro a uma variedade que tem como seu habita ideal, as margens dos rios, ribeiros e linhas de água sazonais, mas todas as imagens (fotos) que as identificam, apresentam caracteristicas morfologicas diferentes. Se o senhor professor tivesse uma foto com um exemplar verdadeiro, agradecia que o publicasse neste blog, obrigado.
    Mário Fontoura da Cunha
    mariofcunha@gmail.com

    ResponderEliminar