domingo, 24 de janeiro de 2010

Sobre a forma das árvores I

Observem esta fotografia:



O que é? Um castanheiro? Um castanheiro com sub-castanheiros? Castanheiros jovens com um pé (tronco) e uma raíz comum? Uma árvore-floresta? Um arbusto pediculado?

Para interpretar a imagem é fundamental entender como as árvores crescem e constroem a sua copa.
Comecemos pelo princípio.

As plantas são seres modulares, constituídos pela repetição de unidades multicelulares discretas, de grande autonomia (semi-autónomos), genericamente designadas por módulos, Por outras palavras. As plantas assemelham-se a uma construção de LEGO, realizada com um reduzido número de tipos de peças (as ditas unidades discretas), a mais evidente constituída por um nó, com uma ou mais folhas e respectivas gemas axilares, e um entrenó (porção de caule sem folhas).
A semi-autonomia das partes explica por que razão uma gramínea pode ser pastada por um mamífero herbívoro, ou uma pernada de uma árvore eliminada pela poda, sem por em causa o funcionamento do todo. Olhem-se ao espelho. A bilateralidade e a integração funcional das partes que constituem o nosso corpo - um coração não funciona sem pulmões, e por aí adiante - abriram caminho à evolução da locomoção terrestre ou de extraordinárias capacidades cognitivas, em contrapartida fizeram de nós criaturas frágeis de curto ciclo de vida.
Nas plantas, os módulos, repetem-se no espaço, organizando-se em formas cada vez mais complexas. Por exemplo, o módulo que acabei de descrever repete-se formando raminhos, os raminhos, por sua vez, organizam-se em estruturas cada vez maiores e mais complexas, culminando numa canópia (a parte aérea de uma planta, que na árvores toma o nome de copa).



Este crescimento é caótico, ou obedece a regras?
Tema para retomar um destes dias.
[fotos CA]

4 comentários:

  1. "Este crescimento é caótico, ou obedece a regras?"
    Certamente que obedece a regras - saber quais são já será mais problemático...

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  2. De uma maneira geral poderá-se considerar um fractal.
    Cada vez que cresce se aproxima de uma forma infinita seu perimetro, mas numa area finita.

    psm

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  3. Um tema muito interessante... e com uma excelente explicação sobre o mesmo...!
    Cmc's
    AA

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  4. "Um arbusto pediculado"?? ;-) Gostei, gostei!
    Sim, a arquitectura de árvores é um tema apaixonante, e muito se poderá discorrer matematicamente sobre isto.
    Transcrevo em baixo um pequeno excerto de Os Sertões, de Euclides da Cunha, que me veio logo à cabeça quando falaste deste castanheiro-floresta. Aliás, tudo isto me faz imediatamente pensar nas camarinhas (Corema album), que me parece serem também árvores subterrâneas! O que esconderão elas lá por baixo?

    «Vêem-se numerosos aglomerados em capões ou salpintando, isolados, as macegas, arbúsculos de pouco mais de metro de alto, de largas folhas espessas e luzidias, exuberando floração ridente em meio da desolação geral. São os cajueiros anões, os típicos anacardia humilis das chapadas áridas, os cajuís dos indígenas. Estes vegetais estranhos, quando ablaqueados em roda, mostram raízes que se entranham a surpreendente profundura. Não há desenraizá-los. O eixo descendente aumenta-lhes maior à medida que se escava. Por fim se nota que ele vai repartindo-se em divisões dicotômicas. Progride pela terra dentro até a um caule único e vigoroso, embaixo.

    Não são raízes, são galhos. E os pequeninos arbúsculos, esparsos, ou repontando em tufos, abrangendo às vezes largas áreas, uma árvore única e enorme, inteiramente soterrada.

    Espancado pelas canículas, fustigado dos sóis, roído dos enxurros, torturado pelos ventos, o vegetal parece derrear-se aos embates desses elementos antagônicos e abroquelar-se daquele modo, invisível, no solo sobre que alevanta apenas os mais altos renovos da fronde majestosa.»

    Aconselho todos a lerem "As caatingas" no capítulo IV - clicar aqui. Uma descrição "ofegante" das adaptações das plantas aos climas áridos, que nos faz ficar a admirar ainda mais estas bravas plantas (as mediterrânicas incluídas!)!

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