sábado, 16 de janeiro de 2010

Vegetação Natural Potencial de Portugal Continental

O grande fitossociólogo alemão R. Tüxen (1953) definiu do seguinte modo Vegetação Natural Potencial (VNP): um estado natural imaginário da vegetação ... que poderá ser projectado para o tempo actual ..., se a influência humana na vegetação fosse removida ... e a vegetação natural fosse imaginada como movendo para um novo equilíbrio numa fracção de segundo ... de modo a excluir os efeitos das alterações climáticas e as suas consequências”.
Por trocados ...
Imaginem que todas as pessoas abandonavam a vossa terra, e a vegetação podia evoluir livre da influência do Homem. Suponham ainda que a progressão do coberto vegetal ocorria suficientemente depressa de modo a que o clima mantivesse características semelhantes às actuais. A comunidade vegetal de maior complexidade estrutural - i.e. com maior número de estratos vegetais, e.g. estratos herbáceo, arbustivo e arbóreo - que culminaria esse processo de sucessão ecológica designa-se por Vegetação Natural Potencial (VNP).
Embora a identificação da VNP não seja fácil, e alguns aspectos teóricos do conceito sejam discutíveis, a verdade é que o conceito de VNP é insubstituível e tem uma inegável utilidade prática.

Uma equipa de fitossociólogos (especialistas em vegetação) portugueses liderada pelo Dr. Jorge Capelo (Estação Florestal Nacional)
publicou, recentemente, uma carta da VNP de Portugal Continental (Lu):



Carta da VNP de Lu (Capelo et al., Phytocoenologia, 37, 399-415, 2007). A resolução do mapa é propositadamente baixa e a legenda foi retirada (copyright oblige !)


Algumas das conclusões, muitíssimo breves, que se podem tirar da análise da referida carta:
  • A VNP em Lu é geralmente arbórea e dominada por uma ou mais espécies de árvores do género Quercus (Fagaceae), ainda que por vezes acompanhadas por Juniperus oxycedrus (Cupressaceae) «zimbro» nos vales mais secos, por Betula celtiberica (Betulaceae) «bidoeiro» nas montanhas, ou por Fraxinus angustifolia (Oleaceae) «freixo» nos solos mais férteis e espessos, por exemplo;
  • A Betula celtiberica (Betulaceae) «bidoeiro» é dominante nos bosques das áreas hiper-húmidas das Serras do Gerês, Peneda e Estrela;
  • Nos solos mais húmidos que o normal (e.g. fundos de vale) o estrato arbóreo dos bosques potenciais é constituído por Alnus glutinosa (Betulaceae) «amieiro», Fraxinus angustifolia (Oleaceae) «freixo» e/ou Salix sp.pl. (Salicaceae) (várias espécies de salgueiros);
  • A Olea europaea var. sylvestris (Oleaceae) «azambujeiro», acompanhada ou não pela Ceratonia siliqua (Fabaceae) «alfarrobeira», substitui os Quercus nos solos muito argilosos (barros ou solos vérticos) do sul do país (e.g. barros derivados de basaltos e rochas afins, de Lisboa e Beja);
  • A VNP tem um porte (fisionomia) arbustivo em "habitats especiais", como sejam o andar orotemperado da Serra da Estrela (grosso modo acima dos 1750 m de altitude), as escarpas interiores mais declivosas (e.g. encostas do troço final do Guadiana), as linhas de água permanentes de maior torrencialidade, as escapas litorais, as dunas secundária e terciária, e algumas comunidades de sapal.

5 comentários:

  1. É um resumo muito interessante!
    Grande trabalho!

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  2. Very nice - but it's indeed a pity the bad quality of the map...

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  3. O comentário que segue está fora de contexto porque está relacionado com o seu post dos prados-juncais. É meramente pela estética.

    http://www.armoniafractal.com/

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  4. Caro anónimo, imagens absolutamente fantásticas. Obrigado.

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