segunda-feira, 29 de março de 2010

Eruca vesicaria & Sinapis alba subsp. mairei (Brassicaceae)

A Terra Quente transmontana está fantástica dos meados de Março até aos meados de Maio.
Por esta altura dominam a biomassa das comunidades de plantas de taludes e margens de caminhos duas plantas da família da couve (Brassicaceae ou Cruciferae, o Código Internacional de Nomenclatura Botânica aceita as duas grafias): a Eruca vesicaria e a Sinapis alba subsp. mairei.

Eruca vesicaria (Brassicaceae) «rúcula-selvagem»
[Carrazeda de Ansiães, Foz Tua; Foto C. Aguiar]

A Eruca vesicaria «rúcula-selvagem» é apreciada pelo menos desde a Roma Clássica, e muito citada pelos gourmets de plantas não cultivadas.
No passado extraía-se um óleo da rúcula-selvagem, usado como condimento em substituição da mostarda. Actualmente, colhem-se as suas folhas, de preferência antes da floração, para consumo em fresco em saladas. O mesmo destino pode ser dado às flores e aos botões florais. A rúcula tem um sabor picante inconfundível devido à presença de um glucosinolato sulfurado - o ácido erúcico - cuja toxicidade não é consensual entre os especialistas. Pelo sim e pelo não mais vale consumir folhas de variedades melhoradas com baixos teores de ácido erúcico, que podem ser cultivadas com sucesso em qualquer horta urbana ou rural. Em alternativa, é fácil encontrar rúcula empacotada nos supermercados, vindas sabe-se lá de onde, e a que preço!
Alguns autores defendem que as linhagens cultivadas desta planta exibem uma morfologia distinta das populações selvagens, concretamente maior dimensão, folhas menos divididas, cálice persistente e flores mais pálidas - propondo a sua segregação sob o nome E. vericaria subsp. sativa. Outros afirmam que se observa um contínuo entre a subsp. vericaria e a subsp. sativa, que impede qualquer tratamento subespecífico da E. vesicaria

S. alba subsp. mairei (Brassicaceae)
[Carrazeda de Ansiães, Foz Tua; Foto C. Aguiar]

Das sementes moídas da S. alba subsp. alba, um domesticado da subsp. mairei de escasso valor taxonómico, faz-se uma mostarda suave (mostarda-branca). As mostardas mais picantes (mostardas francesas) baseiam-se nas sementes de Brassica nigra, uma planta de proveniência desconhecida, assilvestrada no sul do país. Dizem os livros que a mostarda-branca pode ser usada como condimento, ou em sinapismos (cataplasmas que provocavam um afluxo de sangue nas zonas de aplicação).

3 comentários:

  1. Algumas cruciferas, para além de possuírem glucosinolatos são também hiperaculumadoras de metais pesados, nomeadamente os géneros Thlaspi e Alyssum; estas espécies teriam portanto duas defesas contra a herbivoria, dado que a acumulação de metais pesados na parte aérea das plantas é frequentemente invocada como mecanismo de protecção contra a predação.

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  2. Mostarda francesa: a famosa mostarda de Dijon; de facto não podia deixar de ser picante, um dos seus componentes ao degradar-se em contacto com um líquido em geral vinagre, produz allylsenevol, o qual era usado como gás de combate na Grande Guerra.
    A produção de mostarda localizava-se em França nas regiões vinícolas, dado que o vinagre ou o sumo de uvas brancas imaturas entravam na composição da mostarda; no séc. XIV tornou-se numa especialidade da região de Dijon (região dos vinhos de Bourgogne).

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  3. Muito interessante! Também gosto muito da dita mostarda dijonesa!

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