A história recente em Portugal do estudo da forma das plantas, i.e. a morfologia botânica, foi condicionada pela publicação de dois documentos de grande erudição nas décadas de 60 e 70. Refiro-me concretamente a J.C. Vasconcelos, Noções sobre a Morfologia Externa das Plantas Superiores, 1969 e R. B. Fernandes, Glossário de termos botânicos, 1972. Estes dois trabalhos significaram um grande progresso na época mas, de algum modo, cristalizaram o ensino da forma das plantas a nível secundário e universitário. A morfologia botânica, porém, progrediu significativamente nos últimos 40 anos. Novos caminhos foram abertos; e.g. arquitectura de árvores, de plantas herbáceas e de inflorescências, conceito de potencial meristemático e sindromas de polinização e de dispersão. Numerosos artigos e livros seminais foram publicados sobre o tema, regra geral, sem grandes consequências nos curricula de biologia portugueses; e.g.: L. J. Hickey, Classification of the architecture of dicotyledonous leaves, 1972; F. Hallé et al., Tropical Trees and Forests: An Architectural Analysis, 1978; O. Weberling, Morphology of Flowers and Inflorescences, 1992. Não faltam, também, bons livros-texto; e.g. A. D. Bell, Plant Form, 2008.
Hoje em dia os caracteres moleculares são tão ou mais valorizados do que os caracteres morfológicos no estabelecimento de filogenias, na exploração de padrões filogeográficos ou na caracterização de taxa. No entanto, os caracteres moleculares são pouco práticos, ou insuficientes, na prática diária de muitas ciências (e.g. agronomia, silvicultura, ecologia vegetal e biologia da conservação de plantas). Por outro lado, sendo o fenótipo um produto directo da expressão génica a exploração das bases moleculares da vida vegetal não pode ser destacado do estudo da estrutura interna e interna das plantas. Também não há boa taxonomia, nem boa biologia evolucionária de plantas, sem bases sólidas de morfologia vegetal. Por fim, a morfologia vegetal é uma ciência insubstituível porque tem propriedades emergentes, i.e. a descida ao gene, percorrendo todos os níveis de complexidade intermédios (e.g. anatomia vegetal), não é suficiente para explicar a forma das plantas (vd. Donald R. Kaplan, The Science of Plant Morphology: Definition, History, and Role in Modern Biology, 2001).
A perda de importância e o anquilosamento do estudo da forma das plantas está correlacionado com a perda de importância da botânica, sobretudo da botânica sistemática, nos curricula de ensino liceal e universitário em Portugal. Esta tendência merecerá, a seu tempo, uma reflexão mais profunda.
Estou de acordo e refiro-me em particular ao ultimo parágrafo. Se eu fosse professor universitário, dar-me-ia por satisfeito que os alunos soubessem pela metade o que consta do manual de Botânica para o ensino primário de A.X. Pereira Coutinho (1926?).
ResponderEliminarMundialmente, os taxonomistas de plantas vasculares foram perdendo as posições académicas para outras especialidades; só a urgência da inventariação da biodoversidade fez perceber que estes eram os únicos capazes da tarefa.
Em Portugal, nomedamente em Lisboa, as duas instituições com pregaminhos no ensino da Botânica (ISA e FCL) há muito que deixaram caír este assunto dos curricula, por necessidade de sobrevivência profissional dos professores, seguindo antes assuntos mais na moda, também por alguma falta de visão e displicência. Isto é o que eu acho, claro.
Felizmente, existem sempre jovens apaixonados pelo assunto e que o re-descobrem praticamente sozinhos. Conheço vários.