terça-feira, 24 de março de 2009

Recordações da flora da Madeira

Aquela tarde morna e húmida de colheita e observação de plantas na mata Albergaria, há vinte anos atrás, citada no penúltimo post do Jorge, é um bom pretexto para vasculhar a memória em busca de mais recordações botânicas. Pois bem, há quanto tempo? seis? sete anos atrás? telefono ao Jorge Capelo para saber como estava a decorrer a primeira excursão exploratória da vegetação da Madeira de membros ALFA-Associação Lusitana de Fitossociologia. Do outro lado da linha recebo um brado excitado: “estou numa floresta Miocénica”! Sensação estanha esta de comunicar com o passado por telemóvel e cabo submarino! A imagem deixou-me empolgado e impaciente. Pela mão do Jorge, do Miguel Sequeira e do Roberto Jardim tive, no ano seguinte, a oportunidade de experimentar sensação de me abraçar a uma Ocotea e a uma Apollonias, de estremecer de surpresa ao deparar com o meu primeiro Isoplexis sceptrum ou quando vislumbrei ao longe, numa quebrada, esse excesso da natureza que só as ilhas nos podem oferecer: a Musschia wollastonii.

Isoplexis sceptrum (Plantaginaceae) [foto C.Aguiar]
A exceptionalidade da flora madeirense confirma-se também num sem número de arbustos como o Pericallis aurita, o Geranium palmatum ou as várias espécies de Argyranthemum, nos fetos que vivem na sombra das grandes árvores da laurisilva ou na original flora que povoa os dois extremos ecológicos da ilha: as montanhas mais altas ou as áreas litorais mais secas, da encosta sul.

Argyranthemum montanum (Asteraceae) [foto C. Aguiar]


Pericallis aurita (Asteraceae) [foto C. Aguiar]

Quem gosta de plantas compre quanto antes uma passagem para ilha da Madeira. Na mochila dois documentos obrigatórios: Press & Short, A Flora da Madeira, 1994 e J. Capelo et al., The vegetation of Madeira Island (Portugal), Quercetea 7, 2005. Depois, não esquecendo um impermeável, percorra demoradamente as levadas e muitos caminhos pedonais que cruzam a ilha. Para experimentar sensações botânicas extremas, sim, uma nova variante da biofilia, faça o caminho entre os Picos do Arieiro e o Pico Ruivo e acabe a excursão no Cabo Girão, não esquecendo uma visita à ponta de São Lourenço.
Deixo para o Jorge a explicação por que razão explorar a laurisilva madeirense é uma viagem no tempo de 20 milhões de anos. É ele quem sabe do assunto.

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