Frutos maduros de Paeonia broteroi (Paeoniaceae). As sementes negras são viáveis, as sementes vermelhas são estéreis e resultam de primórdios seminais não fecundados [Bragança, S. Pedro de Sarracenos, Setembro de 2009; fotos CA].
Porque investe a peónia na produção de sementes estéreis grandes e coloridas? Não seria energeticamente mais barato abortar os primórdios não fecundados, como faz a maioria das plantas? Porque é tão vistosa a parede interna do fruto? Tamanha exuberância tem, ou teve, certamente uma função. Uma vez que as sementes férteis são ricas em alcalóides, as cores berrantes do fruto e das sementes estéreis podem ser um aviso do género: "cuidado, não tocar", ou, melhor, "não comer, sementes tóxicas". Ou o inverso, uma forma de atrair eventuais dispersores (actuais, ou já extintos) com a mensagem "aceita-se dispersor de sementes, pagamento garantido". Um sinal enganador, diga-se, porque tanto as sementes estéreis, como as férteis são pobres em nutrientes, i.e. não oferecem recompensas alimentares.
Deixo as duas hipóteses a pairar no ar porque ainda não encontrei na bibliografia uma resposta plausível para a espectacularidade dos frutos maduros de Paeonia. Pode ser que algum dos leitores deste blogue me possa ajudar.
Mais uma maravilha, assim como uma excelente pergunta!!
ResponderEliminarBoas Carlos!
ResponderEliminarContinuo perplexo; já dormi sobre este assunto e não há uma ideia minimamente razoável que se me afigure! Mas, fazendo uma analogia para as silvas (Rubus ulmifolius), temos também estas duas cores a serem usadas, o vermelho nos frutos ainda não maduros e o preto nos frutos maduros. Talvez o vermelho nestas duas espécies funcione como as flores estéreis do Muscari comosum: chama a atenção de longe porque é uma das cores que as aves vêem melhor; e, uma vez capturada a atenção e o animal estando perto do "assunto", este desvie então o olhar para os frutos/sementes pretas, mais discretas. Deve haver algum código universal (no universo do Mediterrâneo pelo menos), porque são várias as espécies que usam estas duas cores para o mesmo fim - pelo menos as dos géneros Rhamnus e Pistacia, que eu me lembre agora.
Mas na Paeonia, as sementes pretas nada têm para oferecer, nem um mísero arilo carnudo; esse é o mistério; porém, o dispersor pode já vir "treinado" (por plantas de comportamento mais honesto como a silva) para ingerir os frutos pretos, pelo que seria enganado neste caso.
Não deixa de ser curioso, no entanto, que outras espécies usam o vermelho com um significado muito diferente, para assinalar os frutos maduros (Lonicera spp., Daphne gnidium, Arbutus unedo, Tamus communis,...). Como pode o vermelho ter significados tão diferentes, quais serão os dispersores de cada um destes grupos de frutos? Haverá algum estudo que relacione a cor do fruto com o grupo taxonómico do dispersor? E a Corema album, com os seus frutos brancos-de-neve?
Até logo!
Carlos Aguiar disse...
ResponderEliminarMais uma vez partilho da tua perplexidade. O pensamento adaptativo aplicado ao mundo vegetal é particularmente estimulante, sobretudo quando ficamos suspensos no tempo, a olhar para as plantas, embasbacados e a coçar a cabeça.
-tengo 1 año en Brasil buscando un arbol desta semilla en estado de RJ. No la encuentro. Necesito algunas hojas para una pesquiza que estoy trabajando.Donde la consigo? Busco la paeonia (arbore).Tambien no conozco el nombre popular deste arbol em Brasil. En Vnezuela la llaman PEONIA o HUAYRURO. Pueden ayudarme? Gracias. Cecilia Jorge.
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