segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

As montanhas e o fogo

Depois de ver um mapa com a distribuição dos incêndios florestais em Portugal Continental, fiquei admirado com a incidência de fogos nas zonas montanhosas do norte de Portugal, em comparação com algumas zonas da Terra Quente e da Terra Fria, onde praticamente não existiam ocorrências. E se olharmos para o tipo de plantas que ocorrem nos matos e matagais das áreas de menor altitude de Trás-os-Montes, a surpresa ainda é maior. Estevas, rosmaninhos, alecrins, tomilhos são arbustos que desenvolveram funcionalidades para aumentar a sua combustibilidade, tal como os óleos aromáticos que produzem em grande quantidade, uma estratégia destinada a promover o fogo e deste modo, manter uma paisagem aberta adequada ao seu desenvolvimento. Contudo algumas das zonas onde estas plantas mais abundam são das que menos ardem. Nas zonas montanhosas, pelo contrário, dominam as “lignotuber”, plantas arbustivas com uma capacidade de regeneração muito grande como as urzes, carquejas e tojos. A acumulação de reservas na raiz permite que se desenvolvam muito rapidamente após um incêndio, dependendo claro da intensidade do mesmo. Se a maioria das plantas das zonas montanhosas atlânticas não possuísse essa estratégia, as nossas paisagens de montanha teriam provavelmente um aspecto muito diferente.

4 comentários:

  1. Correcção: quando falo da maioria das plantas, estou a referir-me às plantas dominantes dos matos. Desculpem o lapso.

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  2. «Nas zonas montanhosas, pelo contrário, dominam as “lignotuber”, plantas arbustivas com uma capacidade de regeneração muito grande como as urzes, carquejas e tojos.»
    Pois, como bem dizia o Aquilino R.
    Estes matos devem corresponder sobretudo à bem conhecida associação de carquejais/sargaçais/tojais/urzais Halimio alyssoidis-Pterospartetum cantabrici!

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  3. Estás a descrever as duas estratégias fundamentais de regeneração pós-fogo dos arbustos pirofíticos portugueses: os "sprouters" (e.g. Erica e Pterospartum) e os "seeders" (e.g. Cistus e Halimium). Os primeiros regeneram a partir de toiças lenhosas, e os segundos por semente. O facto da incidência do fogo ser maior na montanha - onde dominam os "sprouters" - do que nas terras baixas de mais intensa mediterraneidade poderá estar relacionado com a densidade de ignições antrópicas, e não com as características dos próprios arbustos. Um mato de estevas queimado não dá tanta erva, e tanta caça, como um urzal de montanha. Portanto, na perspectiva do pastor e do caçador é mais importante abrir clareiras na montanha, do que nos estevais das "terras-quentes". Um bom tema para discutir neste blogue.

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  4. Quando escrevi este texto, deixei um pouco subjacente isso mesmo. As montanhas tem mais incendios devido ao facto de os pastores poderem queimar a vegetação e esta recuperar rapidamente. Claro que essa recuperação também depende da intensidade do fogo e daí a necessidade de queimadas fora do período estival. Interessante é que nem todas as Ericas são "sprouters". Erica umbellata tem uma capacidade de regeneração muito fraca e mesmo no género Ulex existem diferenças. Ulex minor tem uma das maiores capacidades de regeneração mas o Ulex micranthus já não regenera tão facilmente. E essas diferenças ocorrem quando se passa do mundo atlântico para o mediterrânico.

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