segunda-feira, 29 de março de 2010

Eruca vesicaria & Sinapis alba subsp. mairei (Brassicaceae)

A Terra Quente transmontana está fantástica dos meados de Março até aos meados de Maio.
Por esta altura dominam a biomassa das comunidades de plantas de taludes e margens de caminhos duas plantas da família da couve (Brassicaceae ou Cruciferae, o Código Internacional de Nomenclatura Botânica aceita as duas grafias): a Eruca vesicaria e a Sinapis alba subsp. mairei.

Eruca vesicaria (Brassicaceae) «rúcula-selvagem»
[Carrazeda de Ansiães, Foz Tua; Foto C. Aguiar]

A Eruca vesicaria «rúcula-selvagem» é apreciada pelo menos desde a Roma Clássica, e muito citada pelos gourmets de plantas não cultivadas.
No passado extraía-se um óleo da rúcula-selvagem, usado como condimento em substituição da mostarda. Actualmente, colhem-se as suas folhas, de preferência antes da floração, para consumo em fresco em saladas. O mesmo destino pode ser dado às flores e aos botões florais. A rúcula tem um sabor picante inconfundível devido à presença de um glucosinolato sulfurado - o ácido erúcico - cuja toxicidade não é consensual entre os especialistas. Pelo sim e pelo não mais vale consumir folhas de variedades melhoradas com baixos teores de ácido erúcico, que podem ser cultivadas com sucesso em qualquer horta urbana ou rural. Em alternativa, é fácil encontrar rúcula empacotada nos supermercados, vindas sabe-se lá de onde, e a que preço!
Alguns autores defendem que as linhagens cultivadas desta planta exibem uma morfologia distinta das populações selvagens, concretamente maior dimensão, folhas menos divididas, cálice persistente e flores mais pálidas - propondo a sua segregação sob o nome E. vericaria subsp. sativa. Outros afirmam que se observa um contínuo entre a subsp. vericaria e a subsp. sativa, que impede qualquer tratamento subespecífico da E. vesicaria

S. alba subsp. mairei (Brassicaceae)
[Carrazeda de Ansiães, Foz Tua; Foto C. Aguiar]

Das sementes moídas da S. alba subsp. alba, um domesticado da subsp. mairei de escasso valor taxonómico, faz-se uma mostarda suave (mostarda-branca). As mostardas mais picantes (mostardas francesas) baseiam-se nas sementes de Brassica nigra, uma planta de proveniência desconhecida, assilvestrada no sul do país. Dizem os livros que a mostarda-branca pode ser usada como condimento, ou em sinapismos (cataplasmas que provocavam um afluxo de sangue nas zonas de aplicação).

domingo, 28 de março de 2010

A flora de Outono-Inverno das hortas transmontanas

Em função das datas de floração, de Março a Setembro sucedem-se três grupos de plantas nas hortas transmontanas: infestantes de Outono-Inverno, infestantes de Primavera-Verão e infestantes de estivais (de Verão). Os dois primeiros grupos são do conhecimento de qualquer agricultor que preze a sua horta. O terceiro grupo é menos evidente, e mais pobre em espécies.
Estamos no início da Primavera, vejamos mais de perto algumas das plantas de Outono-Inverno que infestam, neste momento, as nossas hortas:

Uma horta transmontana semeada com nabos (Brassica napus), já parcialmente arrancados. Na segunda foto observam-se Lamium amplexicaule (Lamiaceae), Poa annua (Poaceae), Veronica persica (Plantaginaceae) e Stellaria media (Caryophyllaceae) (vd. posts mais antigos aqui, aqui e aqui)

Stellaria media (Caryophyllaceae)

Lamium amplexicaule (Lamiaceae)

Estas plantas são todas anuais; germinam com as primeiras chuvas outonais, desenvolvem o seu corpo vegetativo no Outono-Inverno, e florescem e frutificam no final do Inverno-início da Primavera. Como exigem solos férteis são francamente menos abundantes nas terras de cereal; aí a flora é outra.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Scrophularia sublyrata (Scrophulariaceae)

Vi esta planta pela segunda vez na semana passada:

Scrophularia sublyrata (Scrophulariaceae). N.b. folhas glabras (sem pelos) e sectas (profundamente recortadas, até à nervura média)

Scrophularia sublyrata (Scrophulariaceae) N.b. A corola das Scrophularia tem dois lábios: no superior evidenciam-se os segmentos de duas pétalas, e no inferior de três; na fauce (entrada) da corola, além das anteras de quatro estames (carregadas de pólen amarelo), observa-se uma espécie de dente, interpretado como sendo um estaminódio (estame estéril), cuja função, se é que a tem, desconheço.

Este endemismo ibérico descrito por Avelar Brotero para as redondezas de Setúbal, surge, muito pontualmente, em plataformas rochosas, ou no sopé de "boulders" ou afloramentos graníticos, revestidos com solos ricos em detritos orgânicos, geralmente localizados na vizinhança de bosques perenifólios. A S. sublyrata é umas daquelas plantas que embora rara (pelo menos aqui no NE), tem uma razoável área de ocupação (vd. tipos de raridade de Deborah Rabinowitz aqui).

domingo, 21 de março de 2010

Chamaemelum fuscatum (Asteraceae)

Chega o mês de Março e os olivais da Terra-Quente transmontana vestem-se de branco:

Olival invadido por Chamaemelum fuscatum (Asteraceae)

O responsável por esta repentina explosão de Primavera é o Chamaemelum fuscatum (Brot.) Vasc., um singelo malmequer anual, descrito sob o nome Anthemis fuscata pelo grande botânico Félix de Avelar Brotero [1744-1828], e recombinado no género Chamaemelum por outro não menos notável botânico lusitano, o Prof. João de Carvalho e Vasconcellos [1897-1972].

Chamaemelum fuscatum (Asteraceae)

O Ch. fuscatum pode ser confundido com o vulgar Anthemis arvensis. Para os distinguir há que romper o capítulo (inflorescência característica das asteráceas) e observar as brácteas interflorais. Conforme podem constatar na figura que se segue, as brácteas interflorais no Ch. fuscatum têm a extremidade distal (ápice) fusca (escura); no A. arvensis são hialinas (quase transparentes).

Flores tubulosas de Ch. fuscatum, axiladas por brácteas interflorais enegrecidas no ápice. As flores liguladas, de cor branca, foram retiradas para facilitar a fotografia
[fotos CA]

sábado, 20 de março de 2010

Arabis sadina (Brassicaceae)


























Animado pelos gentis comentários, deixo ainda aqui outra pérola da flora de Portugal: Arabis sadina (Samp.) Cout. = Arabis muralis var. sadina Samp. (basiónimo), mais uma vez fotografada no excepcional Cabeço da Fórnea (concelho de Porto de Mós, no PNSAC e CW calc.). Planta perene, rizomatosa e unicaule, trata-se de um endemismo português de floração precoce, que se pode encontrar nas seguintes províncias: BAl, BL, E, R, de acordo com o ilustre botânico S. Talavera in Flora iberica (IV: 153, 1993), que se pode consultar aqui.
Segundo as fontes fitossociológicas habituais (já citadas em vários outros posts recentes), este precioso endemismo surge no seio da aliança Calendulo lusitanicae-Antirrhinion linkiani, da ordem Phagnalo saxatilis-Rumicetalia indurati, pertencente à classe Phagnalo-Rumicetea indurati, de comunidades rupícolas casmo-comofíticas de plantas anãs e perenes.
Como é normal nas Crucíferas, as flores desta pequena planta possuem 6 estames e 4 pétalas, bem visíveis.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Linaria haenseleri (Plantaginaceae)














Continuando com a nobilíssima tribo das Antirríneas e com as linárias de flor amarela, aqui fica uma imagem da rara e primaveril Linaria haenseleri Boiss. & Reut. (Syn.: Linaria oblongifolia subsp. haenseleri (Boiss. & Reut.) Valdés), obtida na excelente Rocha da Pena (alt. c. 460 m), uma das pérolas do magnífico Barrocal algarvio (concelho de Loulé) e um endemismo peninsular (vd. aqui).
Esta pequena erva anual pode-se encontrar no seio da aliança Brachypodion distachyae, de acordo com os mestres fitossociólogos Pinto Gomes & Paiva Ferreira (vd. aqui).
Esta aliança pertence à ordem Brachypodietalia distachyae Rivas Mart. 1978 (ou Thero-Brachypodietalia), e à classe STIPO CAPENSIS-TRACHYNIETEA DISTACHYAE Brullo 1985, formada por vegetação anual neutrófila e xerófila de solos calcários oligotróficos e de litossolos sobre rochedos calcários (SYNSYSTÈME DE LA FRANCE).

terça-feira, 16 de março de 2010

Linaria polygalifolia (Plantaginaceae)















Voltando ao fascinante filão das Antirríneas, aqui fica mais uma das pérolas da flora de Portugal: Linaria polygalifolia Hoffmanns. & Link subsp. polygalifolia (Linaria caesia var. decumbens Lange), também conhecida por "linária das dunas", "linária da praia", "passarinho amarelo" ou "passarinho da praia", entre outras designações vernáculas.
É planta própria dos areais costeiros, constituindo parte da vegetação das dunas marítimas de Lisboa até Lugo.
Não tenho a certeza de qual a posição fitossociológica ideal para este belo endemismo do NW ibérico, mas não me devo enganar se disser que se pode encontrar no seio da classe EUPHORBIO PARALIAE-AMMOPHILETEA AUSTRALIS Géhu & Géhu-Franck 1988 corr. Géhu.

domingo, 14 de março de 2010

Juniperus oxycedrus (Cupressaceae): estruturas reprodutivas

A flora continental Portuguesa de Juniperus «zimbros» conta com 5 táxones: J. oxycedrus, J. turbinata subsp. turbinata, J. communis subsp. alpina, J. communis subsp. hemisphaerica e J. navicularis, o último dos quais endémico do nosso país. O objecto deste post, o J. oxycedrus, é frequente nas áreas mais secas e quentes da bacia hidrográfica do Douro e do Tejo.
O Juniperus são dióicos, i.e. possuem indivíduos masculinos, que produzem pólen, e indivíduos femininos, onde se diferenciam estróbilos femininos e frutificações (vd. alguma terminologia aqui). No J. oxycedrus as estruturas reprodutivas - estróbilos - e as frutificações - gálbulos carnudos - amadurecem quase em simultâneo, nos meses de Janeiro-Fevereiro. Nesta espécie, à semelhança de muitas outras gimnospérmicas, a polinização e a dispersão das sementes medeiam cerca de um ano. As angiospérmicas são bem mais rápidas a produzir frutos e sementes após a ântese (= libertação do pólen) - em algumas espécies anuais chega uma semana -, uma importante explicação para o seu sucesso nos ecossistemas terrestres do planeta.
Estróbilos masculinos de Juniperus oxycedrus (Cupressaceae). N.b. na segunda foto sacos polínicos por abrir (estróbilo superior, esquerdo), em grupos de três inseridos por baixo de cada escama.

Estróbilos femininos de Juniperus oxycedrus (Cupressaceae)

Gálbulo carnudo de Juniperus oxycedrus (Cupressaceae)

Comprem uma lupa (10 a 18x) e espreitem as partes íntimas das gimnospérmicas. Por exemplo, nesta primeira quinzena Março amadurecem os estróbilos de Cupressus sempervirens, o comum cipreste-dos-cemitérios. Assim que paire no ar o pólen dos pinheiros, procurem na ponta dos ramos os estróbilos femininos e observem os primórdios seminais.
A botânica tem muito de voyeurismo ;)

sexta-feira, 12 de março de 2010

Chamaecyparis lawsoniana (Cupressaceae)

Não faltam imagens, esquemas, quadros, diagramas de fluxo, e não sei mais o quê, invariavelmente em papel couché, nos livros de ciências da natureza e de biologia das nossas escolas. Em contrapartida, a experiência sensível: ver, cheirar, apalpar, esmagar as coisas vivas, quase nenhuma. Por isso, o fenómeno da vida, as formas e a variedade da vida, são para os nossas crianças tão insípidas como uma experiência de química sem explosão, mudança de cor ou espuma. Se para muitas crianças o convívio com indivíduos conspecíficos e com os animais domésticos os informa sobre a natureza da (sua) animalidade, os vegetais são para eles um mistério. As plantas são uma espécie de aliens informes, por alguma razão desconhecida transformados num contínuo verde na época das chuvas, seco e amarelo no Verão. Para o adolescente liceal a complexidade da vida lê-se nos ciclos de Krebs e de Calvin, e nos mecanismos de replicação, transcrição e tradução do DNA; a essência da vida está para ele, assim lhe o dizem os livros-texto, na bioquímica, na genética, no molecular. Não surpreende por isso, que os jovens adultos que ingressam nos cursos de biologia, de agronomia ou de ambiente, por exemplo, não saibam como cresce e se ramifica uma árvore, ou como se forma um fruto ou uma semente.
E era tão simples e educar na biologia!
Tomemos como exemplo a reprodução e a taxonomia dos grandes grupos de plantas com semente. Um Chamaecyparis lawsoniana e uma cerejeira cultivados nos taludes do recreio são material suficiente para explicar com detalhe os conceitos de espermatófito, gimnospérmica e angiospérmica, e explorar a evolução da flor, a polinização, a fecundação, a formação do fruto e da semente, e a dispersão nas plantas com semente. Para tal, bastaria sair da sala de aula num dia soalheiro do mês de Março, colher estruturas reprodutivas e flores, e desmontá-las em laboratório.

Estróbilos femininos de Chamaecyparis lawsoniana (Cupressaceae), uma planta indígena da costa leste da América do Norte. Na foto observam-se numerosos primórdios seminais, com uma gota de polinização pronta para capturar e transportar os grãos de pólen para vizinhança do gâmeta feminino. O gâmeta feminino, a oosfera, está protegida no interior do primórdio seminal. Os primórdios estão inseridos na axila de pequenas escamas férteis que mais tarde, na maturação, darão origem às escamas dos gálbulos (frutificações das cupressáceas). As escamas férteis dos Pinales (= coníferas), ordem a que pertencem as famílias Cupressaceae e Pinaceae, são tendencialmente interpretadas como caules modificados. Os primórdios seminais depois de fecundados transformam-se em sementes.


Estróbilos masculinos de Chamaecyparis lawsoniana (Cupressaceae). Na fotografia observam-se sacos polínicos, ainda por abrir, inseridos em grupos de três, por baixo de pequenas escamas.

As plantas representadas nas imagens são gimnospérmicas, um dos dois grandes grupos de plantas com semente (= espermatófitas). As espermatófitas reúnem, portanto, as gimnospérmicas e as angiospérmicas (= plantas com flor). Gimnospérmica significa, literalmente, semente (sperm) nua (gymno). Por conseguinte, nas gimnospérmicas nem os primórdios seminais estão encerrados numa espécie de saco (num ovário) como nas angiospérmicas, nem as sementes em frutos. As gimnospérmicas produzem frutificações, as angiospérmicas frutos; as frutificações são estróbilos femininos maduros, os frutos ovários maduros.
Se clicarem na etiqueta "morfologia vegetal" à vossa direita encontrarão alguma informação sobre a flor. Estão publicados inúmeros livros onde aprofundar estes assuntos.

O Prof. E. O. Wilson (in Biophilia aqui) diz-nos que a espécie humana têm uma enorme facilidade (e necessidade) para percepcionar as formas e estabelecer laços com os seres vivos. A escola tem que facilitar e não impedir a expressão desta pulsão.
[fotos CA]

quinta-feira, 11 de março de 2010

Kickxia spuria subsp. integrifolia (Plantaginaceae)
















Mais uma belíssima antirrínea da flora de Portugal:
Kickxia spuria (L.) Dumort. subsp. integrifolia (Brot.) R. Fern.
Esta planta, frequentemente ruderal, a que também já se tem chamado "linária lanígera", "linária bastarda" e ainda "falsa verónica da Alemanha", pertence tradicionalmente à família das escrofulariáceas mas foi recentemente transferida para as plantagináceas (assim como as restantes antirríneas, evidentemente).
Segundo o Mabberley's Plant-Book (2008), o género Kickxia Dumort. inclui 9 espécies de distribuição temperada (excluindo-se as espécies do género Nanorrhinum Betsche).
De acordo com os mestres fitossociólogos, esta kíckxia pode encontrar-se em comunidades de plantas ruderais e arvenses neutro-basófilas da ordem Centaureetalia cyani, pertencente à vasta classe STELLARIETEA MEDIAE, de vegetação anual e nitrófila, arvense e ruderal.
A sua floração pode prolongar-se de Março até Novembro, embora seja predominantemente estival.
Muita informação sobre esta planta notável pode encontrar-se aqui:
http://www.floraiberica.es/floraiberica/texto/pdfs/13_144_09_Kickxia.pdf

segunda-feira, 8 de março de 2010

Inula montana (Asteraceae)















Depois da formidável antirrínea Chaenorhinum origanifolium (L.) Kostel. subsp. origanifolium, fica hoje aqui outra das maravilhas que se podem encontrar nas cascalheiras calcárias do célebre PNSAC (a foto é do Cabeço da Fórnea, VI.2003):
Inula montana L., Sp. Pl. 2: 884. 1753 [1 May 1753], uma belíssima composta!
Trata-se de uma espécie característica da classe Festuco hystricis-Ononidetea striatae Rivas-Martínez, T.E. Díaz, F. Prieto, Loidi & Penas 2002 [Festuco hystricis-Ononidetea striatae Rivas-Martínez, T.E. Díaz, F. Prieto, Loidi & Penas in Itinera Geobot. 5: 506. 1991 (art. 17), Festucetea hystricis Mayor in Mayor, M.A. Fernández, Nava, J.R. Alonso, Lastra & Homet in Bol. Ci. Naturaleza I.D.E.A. 30: 93. 1982 (art. 8)], de vegetação basófila, orófila e quionófoba de pastos secos, constituída sobretudo por hemicriptófitos cespitosos e caméfitos, por vezes pulviniformes, conforme se pode ver aqui:
Addenda to the Syntaxonomical checklist of Spain and Portugal [1_07]

domingo, 7 de março de 2010

A marcescência das folhas em Quercus pyrenaica (Fagaceae)

Na pouca botânica que se ensina na escola portuguesa, repetem-se, pelo menos em três anos distintos, os conceitos de caducifolia e de perenifolia. Os livros-texto escolares consideram caducifólias as plantas que perdem as folhas no Outono; a perenifolia é exemplificada como sendo o oposto de caducifolia. No Brasil ensinar-se-á, suponho, que as folhas das plantas caducifólias tombam no solo, quase em simultâneo, no início da época da seca. O conceito de caducifolia é afinal um pouco mais lato: nas plantas caducifolias a copa está despida de folha na estação desfavorável, que poderá ser a mais fria ou a mais seca do ano.
Nos dicionários de botânica encontram-se dois outros conceitos relacionados com os anteriores: semi-caducifolia e marcescência. As plantas semi-caducifólias perdem parte das folhas na estação desfavorável, permanecendo algumas delas funcionais, verdes, portanto. De acordo com esta definição, o
Quercus faginea subsp. broteroi «carvalho-cerquinho» e algumas populações portuguesas de Quercus robur «carvalho-roble» são semi-caducifólias. Nas plantas ditas marcescentes as folhas secam na copa e aí ficam, secas e pendentes, até ao início da estação favorável.

Diz-nos o livro "Los Bosques Ibéricos: una Interpretación Geobotánica" (Costa Tenório et al., 2001) que o Quercus pyrenaica (Fagaceae) «carvalho-negral» é uma planta marcescente.
Observem as imagens:


Quercus pyrenaica (Fagaceae) [as duas fotos mais pequenas foram tiradas na semana passada a caminho de Miranda do Douro, respectivamente em Ifanes (Miranda do Douro) e em Moveros, Espanha ; fotos CA]


A marcescência no Q. pyrenaica tem que se lhe diga.
As plantas jovens de Q. pyrenaica são marcescentes, muito bem. As plantas adultas, pelo contrário, são caducifólias, ou parcialmente marcescentes. Nas árvores representadas nas fotos, a parte superior da copa está despida de folhas, enquanto os ramos inferiores ou os rebentos de raiz (poulas radiculares) continuam revestidos de folhas. Aparentemente, as folhas secas persistem nos ramos juvenis (mais próximos do colo da árvore e que não produzem fruto), e caem dos ramos adultos (afastados do colo e que produzem fruto) no Outono.
E por que retêm as folhas os ramos juvenis de Q. pyrenaica?
Vêm-me desde já à ideia três hipóteses: 1) as folhas secas reduzem os efeitos das geadas, uma protecção importante para os ramos de pequeno diâmetro, e casca delgada, situados próximo da superfície do solo; 2) os Q. pyrenaica arbustivos e de pequeno porte competem ferozmente com os arbustos altos (e.g. Erica arborea e Cytisus), como Q. pyrenaica inicia o seu ciclo vegetativo muito tarde, é capaz de ser "boa ideia" dificultar o acesso dos competidores mais directos à luz do sol; 3) a marcescência é um carácter neutral, sem uma função clara, pelo menos na actualidade.
Provavelmente já alguém estudou o fenómeno. Senão, aqui fica uma deixa para uma bela tese em ecologia evolutiva.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Galega officinalis (Fabaceae)

Não há diabético tipo II medicado que não conheça a metformina. A grande maioria não saberá, porém, que esta molécula de síntese é uma análoga da galegina, uma substância com propriedades hipoglicemiantes presente nas folhas da Galega officinalis.
Foi o uso etnobotânico da Galega officinalis na diabetes que conduziu à descoberta da galegina, e à síntese de metformina. Agora, importante: a galegina é tóxica para o homem; a metformina muito menos. As tisanas têm os seus riscos!

Galega officinalis (Fabaceae). Faz lembrar as ervilhacas (género Vicia) de flores grandes organizadas em cachos axilares da secção Cracca, mas os cachos da G. officinalis têm mais flores, as flores são brancas e os dentes do cálice são iguais. Nas fotos identificam-se ainda inflorescências de Holcus lanatus (Poaceae) «erva-lanar» e do invulgar Elymus caninus (Poaceae) (primeira foto, em baixo, a meio e do lado esquerdo) [Douro Intenacional, foto CA]

A Flora Iberica diz-nos que a
G. officinalis é indígena de Portugal e que no passado foi cultivada como planta forrageira porque estimula a produção de leite. Tanto quanto sei as únicas populações conhecidas no país habitam os arrelvados vivazes que marginam o rio Douro Internacional.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Chaenorhinum origanifolium (Plantaginaceae)

















Fica hoje aqui uma das mais belas Antirríneas da flora de Portugal:
Chaenorhinum origanifolium (L.) Kostel., Ind. Hort. Bot. Prag. 34 (1844)
= Antirrhinum origanifolium L., Sp. Pl. 615 (1753), basiónimo
= Linaria origanifolia (L.) Chaz., Suppl. Dict. Jard. 2: 40 (1790)
= Linaria origanifolia (L.) DC. in Lam. & DC., Fl. Franç. ed. 3 3: 591 (1805), comb. superfl.
Chaenorhinum origanifolium f. genuinum Cout., Fl. Portugal 553 (1913), nom. inval.
Chaenorhinum origanifolium var. genuinum Rouy in Rouy & Foucaud, Fl. France 11: 83 (1909), nom. inval.
Flora Iberica. Plantas vasculares de la Península Ibérica e Islas Baleares
Esta planta encontra-se em comunidades vegetais calcícolas da ordem Potentilletalia caulescentis Braun-Blanq. in Braun-Blanq. & H.Jenny 1926 [Syn. : Asplenietalia rutae-murariae (Braun-Blanq. & H.Meier in H.Meier & Braun-Blanq. 1934) Oberd., Görs, Korneck, W.Lohmeyer, Th.Müll., G.Phil. & P.Seibert 1967 pro syn. nom. inval. (art. 2d, 3a, 29)], pertencente à classe ASPLENIETEA TRICHOMANIS (Braun-Blanq. in H.Meier & Braun-Blanq. 1934) Oberd. 1977, de vegetação vivaz não nitrófila de locais rochosos, como se pode consultar aqui: SYNSYSTÈME DE LA FRANCE
Estas fotos são do Centro-Oeste calcário, no concelho de Porto de Mós.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Selaginella denticulata (Selaginellaceae)
















Para abrir o mês de Março em beleza, ficam aqui três imagens da Selaginella denticulata (L.) Spring, Flora 21(10): 149. 1838 [14 Mar 1838] = Lycopodium denticulatum L., Sp. Pl. 2: 1106. 1753 [1 May 1753] - nomes que se podem consultar aqui: IPNI Plant Name Query Results.
Na foto de baixo, a selaginela aparece na companhia de um belo líquen (ou fungo?) de botões vermelhos, num local arenítico; na segunda e na primeira fotos, provenientes de calcários do CW. calc., a selaginela aparece na simpática companhia de Sedum album L. (Crassulaceae) e de Narcissus calcicola Mendonça (Amaryllidaceae), já na fase de frutificação.