sexta-feira, 12 de março de 2010

Chamaecyparis lawsoniana (Cupressaceae)

Não faltam imagens, esquemas, quadros, diagramas de fluxo, e não sei mais o quê, invariavelmente em papel couché, nos livros de ciências da natureza e de biologia das nossas escolas. Em contrapartida, a experiência sensível: ver, cheirar, apalpar, esmagar as coisas vivas, quase nenhuma. Por isso, o fenómeno da vida, as formas e a variedade da vida, são para os nossas crianças tão insípidas como uma experiência de química sem explosão, mudança de cor ou espuma. Se para muitas crianças o convívio com indivíduos conspecíficos e com os animais domésticos os informa sobre a natureza da (sua) animalidade, os vegetais são para eles um mistério. As plantas são uma espécie de aliens informes, por alguma razão desconhecida transformados num contínuo verde na época das chuvas, seco e amarelo no Verão. Para o adolescente liceal a complexidade da vida lê-se nos ciclos de Krebs e de Calvin, e nos mecanismos de replicação, transcrição e tradução do DNA; a essência da vida está para ele, assim lhe o dizem os livros-texto, na bioquímica, na genética, no molecular. Não surpreende por isso, que os jovens adultos que ingressam nos cursos de biologia, de agronomia ou de ambiente, por exemplo, não saibam como cresce e se ramifica uma árvore, ou como se forma um fruto ou uma semente.
E era tão simples e educar na biologia!
Tomemos como exemplo a reprodução e a taxonomia dos grandes grupos de plantas com semente. Um Chamaecyparis lawsoniana e uma cerejeira cultivados nos taludes do recreio são material suficiente para explicar com detalhe os conceitos de espermatófito, gimnospérmica e angiospérmica, e explorar a evolução da flor, a polinização, a fecundação, a formação do fruto e da semente, e a dispersão nas plantas com semente. Para tal, bastaria sair da sala de aula num dia soalheiro do mês de Março, colher estruturas reprodutivas e flores, e desmontá-las em laboratório.

Estróbilos femininos de Chamaecyparis lawsoniana (Cupressaceae), uma planta indígena da costa leste da América do Norte. Na foto observam-se numerosos primórdios seminais, com uma gota de polinização pronta para capturar e transportar os grãos de pólen para vizinhança do gâmeta feminino. O gâmeta feminino, a oosfera, está protegida no interior do primórdio seminal. Os primórdios estão inseridos na axila de pequenas escamas férteis que mais tarde, na maturação, darão origem às escamas dos gálbulos (frutificações das cupressáceas). As escamas férteis dos Pinales (= coníferas), ordem a que pertencem as famílias Cupressaceae e Pinaceae, são tendencialmente interpretadas como caules modificados. Os primórdios seminais depois de fecundados transformam-se em sementes.


Estróbilos masculinos de Chamaecyparis lawsoniana (Cupressaceae). Na fotografia observam-se sacos polínicos, ainda por abrir, inseridos em grupos de três, por baixo de pequenas escamas.

As plantas representadas nas imagens são gimnospérmicas, um dos dois grandes grupos de plantas com semente (= espermatófitas). As espermatófitas reúnem, portanto, as gimnospérmicas e as angiospérmicas (= plantas com flor). Gimnospérmica significa, literalmente, semente (sperm) nua (gymno). Por conseguinte, nas gimnospérmicas nem os primórdios seminais estão encerrados numa espécie de saco (num ovário) como nas angiospérmicas, nem as sementes em frutos. As gimnospérmicas produzem frutificações, as angiospérmicas frutos; as frutificações são estróbilos femininos maduros, os frutos ovários maduros.
Se clicarem na etiqueta "morfologia vegetal" à vossa direita encontrarão alguma informação sobre a flor. Estão publicados inúmeros livros onde aprofundar estes assuntos.

O Prof. E. O. Wilson (in Biophilia aqui) diz-nos que a espécie humana têm uma enorme facilidade (e necessidade) para percepcionar as formas e estabelecer laços com os seres vivos. A escola tem que facilitar e não impedir a expressão desta pulsão.
[fotos CA]

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