quinta-feira, 19 de março de 2009

Ulmeiros e freixos

Os ulmeiros e freixos têm gomos florais e gomos foliares. No mês de Março, talvez mais cedo nas áreas mais quentes e litorais, os gomos florais, concentrados na base dos ramos do ano anterior, emitem grupos de flores polinizadas pelo vento. Cerca de quinze dias mais tarde são activados os gomos foliares, localizados na extremidade dos ramos formados no ano anterior. No interior de cada gomo folhear está abrigado um pequeno grupo de células com capacidade de produzir um novo caule com folhas, i.e. um ramo. Quando “deitam a folha” os ulmeiros têm os frutos quase maduros; nos freixos o ovário ainda não começou a inchar. Todos os freixos florescem abundantemente. Os ulmeiros, não.
Em Trás-os-Montes a maioria dos pequenos ulmeiros que ainda não foram aniquilados pela grafiose (uma doença fúngica mortal) não produzem sementes. Pontualmente, encontram-se grupos de indivíduos que se “desfazem” em semente. Este padrão adere à hipótese do ulmeiro ser um arqueófito, i.e. uma planta introduzida antes dos descobrimentos (por convenção antes de 1500 d.C.), provavelmente na proto-história (I milénio a.C.). O ulmeiro é propagado com estacas herbáceas no Verão ou por poulas (= chupões) radiculares no Outono-Inverno. Depois de instalado, com facilidade se dissemina por via vegetativa em torno das plantas-mãe. A dominância dos clones estéreis só se pode explicar pela acção do homem. Convém referir que num passado ainda recente as folhas dos ulmeiros eram fundamentais na alimentação dos animais domésticos, sobretudo dos porcos, no pino do estio.
Temos uma segunda espécie Ulmus em Portugal. O Ulmus glabra foi recentemente descoberto no norte do país. Esta espécie é certamente indígena (vd. P. Bingre et al., Guia de campo. As árvores e os arbustos de Portugal Continental, 2007). De norte a sul de Portugal encontramos uma única espécie de freixo, o F. angustifolia, embora nas plantações que por aí se fazem se vejam indivíduos de F. excelsior.


Ulmus glabra (Ulmaceae) [foto C. Aguiar]

2 comentários:

  1. Há algum tempo atrás ouvi uma teoria de que o Freixo que deu origem ao nome Freixo de Espada à Cinta seria originário de indivíduos de Fraxinus ornus que existiriam na área e estariam com uma espada no tronco para fazer incisões e usar a seiva para tratamentos "tipo" anti-inflamatórios. Seria possível o Fraxinus ornus (Maná) também fazer parte da nossa flora? afinal a Cecília não é assim tão longe quanto isso.

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  2. João não conhecia a teoria! Muito interessante. Parece-me pouco provável a presença de F. ornus em Portugal dada a sua distribuição tipicamente mediterrâneo-oriental, mas nunca se sabe ...

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