quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
Liquidambar styraciflua (Altingiaceae)
Liquidambar styraciflua L. (Altingiaceae) é uma belíssima árvore que se encontra comummente plantada nos passeios das ruas das nossas cidades. Esta foto é muito recente (Dezembro, no final do Outono de 2009) e nela se podem observar as últimas folhas, já avermelhadas, e os curiosos frutos multicapsulares e esféricos desta árvore norte-americana, contra o céu de fim de tarde de um dia de sol.
Abundante informação sobre esta espécie notável pode-se encontrar aqui.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Vacas e pastores III
A Drª Melinda Zeder publicou recentemente uma síntese indispensável sobre a origem da agricultura na Bacia do Mediterrânico (ver aqui). As datas da domesticação da vaca, do porco, da ovelha e da cabra, em anos antes do presente (BP), propostas por esta autora estão resumidas nesta figura:
Os mamíferos herbívoros domésticos das regiões de clima temperado/mediterrânico (exceptuando o coelho, ver aqui) foram originalmente domesticados no SW asiático, assim como a maioria da plantas cultivadas (tema para desenvolver um destes dias). Tudo aconteceu em apenas 1000 anos, pouco depois da invenção da agricultura (ca. 12.500 BP, data impossível de precisar, ver aqui a explicação) e do final da última glaciação (11.500 BP). A vaca evoluiu do auroque (Bos primigenius), extinto no séc. XVII, o porco do javali (Sus scrofa), a ovelha do muflão-asiático (Ovis orientalis) e a cabra da cabra-selvagem (Capra aegagrus). Existem evidências, na Europa, de domesticações politópicas (múltiplas), ou do cruzamento de populações selvagens com domesticados de origem oriental, no porco e na vaca. Nada de surpreendente. Tanto o javali como o auroque eram frequentes em grande parte da Europa. Os criadores de porcos de montanheira sabem, por experiência própria, que os javalis-macho cobrem com frequência e com um assinalável impacte económico, as submissas fêmeas de 'large-white' ou de 'porco-preto'. O mesmo certamente aconteceria entre vacas e auroques-macho.
A domesticação das cabras e ovelhas é mais antiga (ca. de 1000 anos) do que até agora se supunha. Os porcos e o gado bovino foram domesticados pouco depois das ovelhas e cabras. As datações dos macrorrestos de herbívoros domesticados de Chipre são particularmente importantes. Por serem tão próximas das datas da Anatólia e das Montanhas de Zagros indiciam que a pastorícia foi uma invenção de sucesso, e de fácil exportação. Os agricultores migrantes, e o seu kit de animais e plantas domesticadas, atingiram o território continental português três mil anos depois de Chipre, ca. 7500 anos BP.
Rebanho misto de ovelhas bordaleiras (a ovelha mais à direita é do grupo das churras) e cabras serranas [Serra da Estrela: Manteigas, foto CA]
Recordemos os posts anteriores desta série (ver aqui e aqui). ... Assim como as formigas co-evoluíram com os afídeos, o mesmo terá acontecido connosco e com os nossos domesticados animais? Será a nossa relação com os herbívoros domésticos foi suficientemente longa, e suficientemente profunda, para transportamos marcas genéticas recíprocas? Pois, parece que sim. Que as vacas, os porcos, as cabras ou a ovelhas evoluíram nas nossas mãos é algo que ninguém duvida. Todas estas espécies partilham em maior ou menor extensão um conjunto de características morfológicas comuns geneticamente reguladas, o sindrome de domesticação, e.g.: reduzida agressividade, presença residual de defesas físicas (e.g. cornos e presas) ou comportamentais (e.g. comportamento perante a ameaça de predadores), maior produtividade (e.g. de carne ou de leite) e prolificidade (nº filhos/fêmea/ano), e dependência do homem para o cumprimento do ciclo biológico. Beja-Pereira et al. na Nature Genetics (ver aqui) publicaram uma prova definitiva da co-evolução entre humanos e vacas ao demonstrarem que a distribuição dos genes que controlam a tolerância à lactose na Europa, i.e. a capacidade de digerir o açúcar do leite, coincide razoavelmente com a localização de culturas neolíticas fundadas no consumo de leite de vaca.Portanto, meu caro naturalista que gosta de plantas, quando se ajoelhar para observar formigas e afídeos nos tecidos mais tenros de um cardo recorde-se: a domesticação é um fenómeno universal, não foi "inventado" por nós; os afídeos têm muito em comum com as vacas e com o trigo, e nós com as formigas.
sábado, 26 de dezembro de 2009
Crataegus monogyna & al. (Rosaceae, Iridaceae)
Uma pessoa amiga enviou-me estas fotos, provenientes de Condeixa, no CW. calc., para identificação...
Penso que Crataegus monogyna Jacq. está inequivocamente presente, assim como uma outra Rosácea, que poderá ser uma espécie de Prunus- algum abrunheiro, Prunus spinosa L., talvez. Parece tratar-se de uma orla espinhosa, muito provavelmente pertencente à classe RHAMNO-PRUNETEA Rivas Goday & Borja ex Tüxen 1962.
A terceira foto deve corresponder provavelmente à bonita Iridácea Gladiolus illyricus L., ou então à sua congénere Gladiolus italicus Mill....
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
Linaria alpina (Plantaginaceae)
Em jeito de postal natalício, aqui fica uma imagem da belíssima Linaria alpina (L.) Mill. (Plantaginaceae), uma planta própria de cascalheiras e outros locais rochosos elevados (classe Thlaspietea rotundifolii Br.-Bl. 1948), aqui fotografada a ca. de 2000 m acima do nível do mar, no conhecido monte Schneeberg, próximo de Viena (VII.2005). É também possível reconhecer uma Pedicularis (Orobanchaceae), um Asplenium (Aspleniaceae) e ainda a tão comum Poa bulbosa L. (Poaceae).
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terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Asplenium ruta-muraria (Aspleniaceae)
Asplenium ruta-muraria L. (Aspleniaceae)
Depois das comoventes e edificantes "cenas pastoris", aqui fica algo um pouco mais leve, embora mais rochoso: uma imagem de um dos nossos fetos rupícolas: a "arruda dos montes", Asplenium ruta-muraria L., que se costuma encontrar em ambientes da classe Asplenietea trichomanis (Br.-Bl. in Meier & Br.-Bl. 1934) Oberd. 1977, sobre rochas básicas.
Juntamente com o belo feto, surgem alguns musgos um pouco secos e ainda uns líquenes muito interessantes que não sabemos identificar mas que também fazem parte desta amostra de vegetação rupestre calcícola.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Vacas e pastores II
A interacção entre espécies - e.g. relações "predador-presa", "polinizador-planta polinizada" ou "herbívoro-planta" - gera, frequentemente, respostas evolutivas recíprocas. Estas respostas têm uma base genética e uma expressão morfológica, fisiológica e/ou comportamental em todas as espécies envolvidas na interacção (daí a reciprocidade). Designa-se este fenómeno por co-evolução. Muito importante: a co-evolução gera diversidade de formas e funções, enquanto que a adaptação ao ambiente físico faz o contrário. O tema foi já directa ou indirectamente abordado neste blog (ver aqui e aqui).
O termo co-evolução foi cunhado por Paul Erlich, um biólogo que dedicou grande parte da sua vida académica a alertar para as consequências desastrosas do crescimento populacional, e por Peter Raven, um botânico hiperconhecido, há décadas director do Jardim Botânico do Missouri (clicar aqui), possivelmente o mais importante centro de investigação de taxonomia de plantas do mundo.
Se o meu leitor tiver paciência para ler o post anterior (clicar aqui) perceberá que o mutualismo formiga-afídeo retratado na foto foi trabalhado pela co-evolução. Admitindo que os comportamentos envolvidos na relação espécie-espécie têm uma base genética (não são transmitidos culturalmente, por aprendizagem), a foto mostra-nos que as formigas são pastores inatos (nos dois sentidos do termo), e que os afídeos "aprenderam" a gerir em seu proveito a presença das formigas. Vou especular um pouco. Em dado momento da sua história evolutiva, muitas espécies de formigas tiveram como opção evolutiva comer os afídeos; os antepassados dos afídeos, em vez de se especializarem na produção de xaropes adocicados, poderiam ter desenvolvido carapaças, velos de cera ou esguichos de compostos químicos mortais (algumas destas opções foram seguidas, por exemplo, pelas cochonilhas, Homoptera, Coccidae). Por outras palavras, a evolução transformou a interacção formigas-afídeos numa relação de cooperação, em vez de forçar uma "corrida às armas". Calhou assim.
A co-evolução entre formigas e afídeos tem imensas variantes e gradações, legíveis nas características das formigas e afídeos. O Prof. Edward O. Wilson conta-nos alguns casos extremos (ler páginas 356 e 357 deste livro). Por exemplo, algumas espécies de formigas protegem ninfas hibernantes de afídeos no interior dos ninhos durante a estação favorável, e afídeos há que se reduziram a frágeis e complacentes criaturas sem qualquer tipo de protecção física e comportamental frente aos seus potenciais predadores e parasitóides.
Um notável vídeo da BBC. N.b. o ataque das formigas a uma joaninha (Coccinella septempunctata), um voraz predador de afídeos. O Cirsium pratense (Asteraceae) - a planta colonizada por afídeos no vídeo - é muito frequente em Portugal. A meio do filme (15'') aparece de relance o capítulo de um Cirsium vulgare; o realizador não era botânico :)
As formigas são então pastores geneticamente eficientes, e os afídeos dóceis herbívoros, que em vez de leite produzem mel. Onde é que eu, e o naturalista que gosta de plantas que me está a ler, já vimos algo semelhante?
Vou adiar mais uma vez a explicação da etiqueta: História da agricultura. De qualquer modo o vídeo antecipa o último post desta série (ver aqui).
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sábado, 19 de dezembro de 2009
Vacas e pastores I
Num destes dias de Outono fotografei esta terna cena pastoril ...
... formigas de Camponotus cruentatus (Hymenoptera, Formicidae) - uma espécie muito comum na Península Ibérica - a ordenharem cuidadosamente um pequeno rebanho de afídeos (Homoptera, Aphidae), num ramo de dois anos de Cytisus striatus (Fabaceae) «giesta-amarela». Os Camponotus da imagem aproximavam-se, geralmente por detrás, dos seus afídeos, estimulavam-nos com as antenas, estes libertavam uma pequena gota brilhante de um líquido açucarado (a melada), que as formigas sorviam com avidez.
O C. cruentatus alimenta-se de insectos mortos, ou de secreções açucaradas produzidas por plantas ou afídeos. Estudos de ecologia alimentar revelaram que esta espécie tem uma clara preferência pelas meladas de afídeo (Alsina et al., 1988).
As relações mutualistas entre formigas e afídeos são um caso sério de sucesso evolutivo. No Reino Holártico (regiões do hemisfério norte de clima não tropical) os afídeos são muito comuns em folhas e ramos não atempados (ainda verdes), enquanto não chegam os frios invernais. E onde há afídeos ... há formigas.
Os princípios desta relação mutualista são relativamente simples. As formigas oferecem uma protecção agressiva contra predadores e parasitóides (pequenas vespas que depositam ovos no interior do corpo de insectos, como nos filmes da saga "Alien", ver, em sequência, aqui, aqui e aqui). Os afídeos compram um serviço de segurança usando como moeda de troca um alimento energético, extraído directamente do floema das plantas (feixes vaculares que transportam a seiva elaborada nas plantas) com uma armadura bucal picadora-sugadora (constituída por um tubo flexível que penetra os tecidos das plantas).
... formigas de Camponotus cruentatus (Hymenoptera, Formicidae) - uma espécie muito comum na Península Ibérica - a ordenharem cuidadosamente um pequeno rebanho de afídeos (Homoptera, Aphidae), num ramo de dois anos de Cytisus striatus (Fabaceae) «giesta-amarela». Os Camponotus da imagem aproximavam-se, geralmente por detrás, dos seus afídeos, estimulavam-nos com as antenas, estes libertavam uma pequena gota brilhante de um líquido açucarado (a melada), que as formigas sorviam com avidez.
O C. cruentatus alimenta-se de insectos mortos, ou de secreções açucaradas produzidas por plantas ou afídeos. Estudos de ecologia alimentar revelaram que esta espécie tem uma clara preferência pelas meladas de afídeo (Alsina et al., 1988).
As relações mutualistas entre formigas e afídeos são um caso sério de sucesso evolutivo. No Reino Holártico (regiões do hemisfério norte de clima não tropical) os afídeos são muito comuns em folhas e ramos não atempados (ainda verdes), enquanto não chegam os frios invernais. E onde há afídeos ... há formigas.
Os princípios desta relação mutualista são relativamente simples. As formigas oferecem uma protecção agressiva contra predadores e parasitóides (pequenas vespas que depositam ovos no interior do corpo de insectos, como nos filmes da saga "Alien", ver, em sequência, aqui, aqui e aqui). Os afídeos compram um serviço de segurança usando como moeda de troca um alimento energético, extraído directamente do floema das plantas (feixes vaculares que transportam a seiva elaborada nas plantas) com uma armadura bucal picadora-sugadora (constituída por um tubo flexível que penetra os tecidos das plantas).
Protegidos dos seus inimigos, os afídeos podem dedicar-se ao pecado da gula, e reproduzir-se aceleradamente. Durante a maior parte do ano a reprodução faz-se sem sexo (os afídeos que se observam nas árvores de fruto e outras plantas são geralmente fêmeas partenogenéticas, i.e. que se reproduzem assexuadamente). Os machos e as fêmeas sexuadas geralmente só se diferenciam no final da estação favorável (nas nossas latitudes no Outono).
Qual a relação entre a cena bucolica representada na fotografia e os sistemas de agricultura, i.e. e o uso agrícola das plantas e animais domesticados (vd. etiqueta)? Será este o tema do próximo post.
Os afídeos têm, por norma, um efeito muito depressivo no crescimento das plantas. Muitas plantas cultivadas são susceptíveis aos ataques de afídeos (e.g. macieira, pessegueiro e cerejeira) ou aos vírus por eles transmitidos (e.g. batateira e beterraba). Não surpreende, por isso, que a indústria de pesticidas tenha desenvolvidos insecticidas específicos contra afídeos, os aficidas.
Qual a relação entre a cena bucolica representada na fotografia e os sistemas de agricultura, i.e. e o uso agrícola das plantas e animais domesticados (vd. etiqueta)? Será este o tema do próximo post.
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Rosmarinus officinalis (Lamiaceae)
Rosmarinus officinalis (Lamiaceae) «alecrim»,
em floração em Dezembro de 2009
Mesmo neste mês tão frio de Dezembro de 2009, as plantas continuam, corajosamente, a florescer!
É o caso deste extraordinário (sub)arbusto chamado Rosmarinus officinalis L. -que possui até uma classe com o seu nome (Ononido-Rosmarinetea Br.-Bl. 1947)- e que, como sabemos bem, em Portugal não é raro, surgindo sobretudo em matos baixos de carácter mediterrânico, frequentemente sobre calcários.
Tournefort é o autor do género Rosmarinus, que Lineu validou (de acordo com o actual Código Internacional de Nomenclatura Botânica).
(A foto é muito recente - foi obtida ontem.)
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terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Cynomorium coccineum (Cynomoriaceae)
O Fungo de Malta em Portugal
Pensamos que este parasito é uma das plantas mais raras da flora de Portugal, o Cynomorium coccineum L. (actualmente pertencente à família Cynomoriaceae).
É uma planta de grande beleza, conhecida pelo seu aspecto fungóide (algo semelhante aos cogumelos do género Phallus e afins), por viver ligado às raízes de Chenopodiáceas, Frankeniáceas e outras plantas costeiras, pela sua grande raridade e pela sua distribuição predominantemente mediterrânica (também se encontra na Ilha de Malta, entre diversos outros locais).
De acordo com a informação que consta na Wikipedia, existem provavelmente apenas duas espécies neste género, o único incluído na família Cynomoriaceae (segundo a recente classificação de APG II).
Muita informação acerca desta espécie notável se pode encontrar na Flora iberica (clicar aqui).
Esta foto foi obtida nas arribas da costa algarvia, pr. de Portimão, no início de Maio de 2001. Também se podem observar Pallenis maritima (L.) Greuter [Syn. Asteriscus maritimus (L.) Less] (Asteraceae), Plantago coronopus L. sensu lato (Plantaginaceae) e Dactylis glomerata L. sensu lato (Poaceae), entre outras espécies.
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Outras famílias de angiospérmicas,
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Montia fontana (Portulacaceae)
A minha colega Ana Carvalho, uma ilustre especialista de etnobiologia, cedeu-me duas fotos da Montia fontana «morugem»:
As morugens são óptimas para consumir em fresco. Mas eu não lhes pego, tenho-lhes medo, porque convivem, frequentemente, com caracóis pulmonados aquáticos do género Lymnaea (Gastropoda, Lymnaeidae), os vectores da fascíola hepática (ver aqui).
Montia fontana (Portulacaceae) «morugem», uma planta frequente em nascentes, poços, paredes ressumantes e na margem de regatos, com águas frias pouco mineralizadas [autor Beta Martins, projecto POCI/ANT/59395/2004]
As morugens são óptimas para consumir em fresco. Mas eu não lhes pego, tenho-lhes medo, porque convivem, frequentemente, com caracóis pulmonados aquáticos do género Lymnaea (Gastropoda, Lymnaeidae), os vectores da fascíola hepática (ver aqui).
sábado, 12 de dezembro de 2009
Stellaria media (Caryophyllaceae)
Mais uma planta comum de norte a sul de Portugal, que germina, cresce e floresce todo o santo ano:
Stellaria media (Caryophyllaceae) «morugem». Planta particularmente abundante como infestante de Outono-Inverno em hortas frescas, de fundo vale, onde chega a recobrir por completo o solo. N.b. cada flor tem apenas 5 pétalas, no entanto, parecem 10 porque estão fendidas quase até à base [Bragança, II-07; foto CA]
Embora seja comestível e conhecida por «morugem, a S. media não é a «morugem» mais apreciada em saladas, pelo menos aqui em Trás-os-Montes. Confuso? Os nomes vulgares têm, frequentemente, este enorme inconveniente: designam mais de uma espécie, têm, portanto, mais de um significado (polissemia): são confusos por natureza! A melhor das «morugens» para consumir em fresco é uma Portulacaceae, como a «beldroega» (Portulaca oleracea), e chama-se Montia fontana (tema para um post um dia destes).
Num país como o nosso, onde, por tradição, no campo ou na cidade, se conhecem mal as plantas, não é presunção usar nomes científicos: é uma necessidade.
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sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Frutos e sementes de Paeonia broteroi (Paeoniaceae)
As peónias (género Paeonia, Paeoniaceae) demonstram uma morfologia exuberante em dois momentos distintos do seu ciclo de fenológico anual: na floração (vd. aqui e aqui), e quando o fruto maduro se rompe e expõe as sementes ao exterior.
Porque investe a peónia na produção de sementes estéreis grandes e coloridas? Não seria energeticamente mais barato abortar os primórdios não fecundados, como faz a maioria das plantas? Porque é tão vistosa a parede interna do fruto? Tamanha exuberância tem, ou teve, certamente uma função. Uma vez que as sementes férteis são ricas em alcalóides, as cores berrantes do fruto e das sementes estéreis podem ser um aviso do género: "cuidado, não tocar", ou, melhor, "não comer, sementes tóxicas". Ou o inverso, uma forma de atrair eventuais dispersores (actuais, ou já extintos) com a mensagem "aceita-se dispersor de sementes, pagamento garantido". Um sinal enganador, diga-se, porque tanto as sementes estéreis, como as férteis são pobres em nutrientes, i.e. não oferecem recompensas alimentares.
Deixo as duas hipóteses a pairar no ar porque ainda não encontrei na bibliografia uma resposta plausível para a espectacularidade dos frutos maduros de Paeonia. Pode ser que algum dos leitores deste blogue me possa ajudar.
Frutos maduros de Paeonia broteroi (Paeoniaceae). As sementes negras são viáveis, as sementes vermelhas são estéreis e resultam de primórdios seminais não fecundados [Bragança, S. Pedro de Sarracenos, Setembro de 2009; fotos CA].
Porque investe a peónia na produção de sementes estéreis grandes e coloridas? Não seria energeticamente mais barato abortar os primórdios não fecundados, como faz a maioria das plantas? Porque é tão vistosa a parede interna do fruto? Tamanha exuberância tem, ou teve, certamente uma função. Uma vez que as sementes férteis são ricas em alcalóides, as cores berrantes do fruto e das sementes estéreis podem ser um aviso do género: "cuidado, não tocar", ou, melhor, "não comer, sementes tóxicas". Ou o inverso, uma forma de atrair eventuais dispersores (actuais, ou já extintos) com a mensagem "aceita-se dispersor de sementes, pagamento garantido". Um sinal enganador, diga-se, porque tanto as sementes estéreis, como as férteis são pobres em nutrientes, i.e. não oferecem recompensas alimentares.
Deixo as duas hipóteses a pairar no ar porque ainda não encontrei na bibliografia uma resposta plausível para a espectacularidade dos frutos maduros de Paeonia. Pode ser que algum dos leitores deste blogue me possa ajudar.
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Verde e amarelo
A primeiras geadas outonais aceleram e coordenam a senescência e a queda das folhas. O frio queima as folhas, ainda funcionais, das árvores e dos arbustos caducifólios (de folha caduca), que transitam de um verde clorofilino para um castanho escuro em poucos dias, tombando no solo pouco depois. Geadas violentas muito precoces, pelo contrário, podem reter, ainda que secas e pendentes, as folhas nas copas por longo tempo. Frios antes da chuva, cerceiam a retoma da produção de erva nos lameiros (prados perenes seminaturais meso-higrófilos), e atrasam a germinação e a acumulação de biomassa das plantas anuais que colonizam as clareiras dos matos baixos (urzais e estevais) e os restolhos dos cereais. Assim tem acontecido, amiude, na última década, no interior norte e centro de Portugal continental. Em quinze dias as árvores despem-se de folhas, e a paisagem escurece até ao final do Inverno.
Não me lembro de um Outono assim ...
Este ano, não! O Outono foi invulgarmente quente, e a chuva suficiente. Por essa razão, dominam a paisagem o verde dos lameiros e dos prados anuais, e os amarelos e os castanhos das árvores caducifólias. As folhas tardam em cair.
Burga (concelho de Macedo de Cavaleiros)
Lamas de Podence (concelho de Macedo de Cavaleiros). N.b. lameiro abandonado.
As cores fortes do nascer do sol (08h00m) na ponte do Remisquedo (linha do Tua), Rebordãos (concelho de Bragança). N.b. em cima, no lado direito, uma talhadia de castanheiro (Castanea sativa, Fagaceae) e, mais abaixo, um bosquete de Quercus pyrenaica (Fagaceae) «carvalho-negral»; lá no alto, no cocuruto do monte, terras de cereal abandonadas colonizadas por um giestal heliófilo (exigente em luz) de Cytisus striatus (Fabaceae) «giesta-amarela» e C. multiflorus (Fabaceae) «giesta-branca», com Quercus dispersos, árvores estas que, mais tarde ou mais cedo, acabarão por expulsar as giestas.
Não me lembro de um Outono assim ...
domingo, 6 de dezembro de 2009
Hypochaeris radicata e Andryala integrifolia (Asteraceae)
Duas das plantas com flor mais comuns em Portugal Continental, fotografadas na semana passada numa estação de serviço no IP4:
Além de extraordinariamente frequentes, a H. radicata e a A. integrifolia têm em comum uma enorme plasticidade ecológica (ocupam habitats muito diversos) e o facto de florirem todo o ano.
Hypochaeris radicata (Asteraceae). Planta frequente, por exemplo, em muros e margens de caminho com alguma humidade, leitos de cheias, tojais e urzais-tojais temperados, e em lameiros (prados perenes semi-naturais meso-higrófilos)
Andryala integrifolia (Asteraceae). Espécie muito abundante em habitats ruderais (margens de caminhos), como infestante de cereais, em lameiros de secadal e em clareiras de matos baixos (e.g. estevais)
Além de extraordinariamente frequentes, a H. radicata e a A. integrifolia têm em comum uma enorme plasticidade ecológica (ocupam habitats muito diversos) e o facto de florirem todo o ano.
As plantas abundantes, de grande área de distribuição, nem sempre são fáceis de identificar. Por exemplo, para conseguir uma identificação positiva de H. radicata pode ser necessário observar frutos maduros e/ou a raiz, porque esta espécie tem uma morfologia muito plástica (muda radicalmente de forma consoante o habitat).
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Frutos de Euonymus europaeus (Celastraceae)
O Outono é a estação dos frutos e da queda das folhas, assim aprendíamos nos livros de leitura da escola primária, nos tempos da ditadura. O frio é próprio do Inverno e as flores da Primavera. O Verão é a estação do calor e das colheitas. No Portugal urbano do séc. XIX, cada vez mais distante da ruralidade, o discurso terá que ser outro. Não faço ideia qual.
Neste post apresentei aquela que poderá ser a árvore mais rara de Portugal. Recentemente, encontrei os exemplares que se seguem em fruto, no Outono, a condizer com o modelo fenológico do Estado Novo ;-)
Euonymus europaeus (Celastraceae). N.b. folhas opostas e frutos lobulados [Bragança, Serra de Nogueira, foto CA]
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Alpercheiro em amendoeira
As árvores de fruto exigem muita atenção para produzirem fruto com qualidade, e vegetarem com saúde, a nosso gosto. Pedimos muito às árvores domesticadas: que produzam frutos grandes em quantidade, que mantenham uma forma acessível para a colheita e tratamentos fitossanitários; que lutem estoicamente contra doenças e pragas; e que suportem todo o tipo de violências físicas (poda, enxertia e mobilização do solo). A nossa relação com as árvores de fruto fundamenta-se num contrato tacitamente aceite por ambas as partes: nós defendemos e propagamos as árvores, em contrapartida recebemos frutos maravilhosos, impossível de imitar artificialmente.
O conceito de enxertia é simples: sobre um sistema radicular com características vantajosas (e.g. resistência a doenças, à secura ou ao calcário activo), que toma o nome de cavalo ou porta-enxerto, "espeta-se", com uma técnica adequada de enxertia (variável de espécie para espécie), a copa de uma planta com interesse económico, ou que satisfaça os nossos desejos. O cavalo não necessita de pertencer à mesma espécie do enxerto, mas para que as enxertias tenham sucesso o cavalo e o enxerto são, regra geral, filogeneticamente próximos. Cada grupo de plantas tem "regras" próprias no que toca às compatibilidades de enxertia. Por exemplo, enxerta-se pereira (Pyrus communis) em marmeleiro (Cydonia oblonga) ou pilriteiro (Crataegus monogyna), mas não macieira em pereira. As enxertias possíveis nas prunóideas (árvores da família das rosáceas de fruto com caroço, pertencentes ao género Prunus) cultivadas são mais variadas: podemos construir uma árvore onde convivem quatro ou mais espécies, e.g. pessegueiro, ameixeira-europeia, amendoeira e alpercheiro. Um dos cuidados a ter em conta nas árvores enxertadas é a eliminação dos lançamentos provenientes do porta-enxerto. Por essa razão se escava a vinha, e se cortam os rebentos da base (ladrões) no castanheiro.
O alpercheiro (Prunus armeniaca, Rosaceae) enxerta-se facilmente em amendoeira (Prunus dulcis, Rosaceae). Se o clima é seco e escasseia a água para regar, o porta-enxerto de amendoeira é uma boa opção técnica.
O abandono destas árvores muitas vezes tem este efeito:
Torre de Moncorvo, antiga residência do juiz. N.b. os ramos com folhas alongadas (metade esquerda da copa na 1ª foto, em cima na 2ª foto) são de amendoeira; o enxerto de alpercheiro tem folhas triangulares, ou quase [foto CA]
... o cavalo (porta-enxerto) rebela-se contra o cavaleiro (enxerto) :-)
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