A evolução fez-nos heterotróficos e no que ao metabolismo das
proteínas e do azoto diz respeito, dependentes da ingestão
de proteínas de origem animal ou vegetal. A proteína foi sempre crítica na alimentação humana
pré-industrial. Não há muito tempo, conforme descrevem os higienistas
da primeira metade do séc. XX, a alimentação no Portugal rural baseava-se no pão, que chegava a suprir 90% das necessidades energéticas diárias. Fartura de carne só em dia de festa; no
dia-a-dia o homem do campo bastava-se com o sabor do osso que fervia dias a fio no
pote da sopa. Alguma leguminosa de horta mitigava a escassez crónica de
proteína.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades ... e os menús.
Hoje, a proteína é barata e a carne uma componente crescente da alimentação
humana. A soja é a fonte mais barata de proteína. Se a procura de proteína
animal aumenta a área cultivada de soja segue o mesmo padrão, na devida proporção.
Adequabilidade para o cultivo da soja a tecnologias intermédias
Contrapondo a figura anterior (mais informação
aqui) com a seguinte, constata-se que alguns dos espaços, à escala global, mais favoráveis ao
cultivo da soja são áreas de elevada diversidade de plantas vasculares (e.g. SE dos EUA e Centro Oeste do Brasil). Mais importante ainda, muitos estes territórios possuem uma flora rica em plantas relíquia, com
taxa supraespecíficos endémicos (e.g. Madagáscar ou Cerrado Brasileiro).
Diversidade de plantas com semente por 10.000km^2 (imagem extraída daqui)
Investigadores da Universidade de S. Paulo provaram, nos anos 50 do séc. XX, a utilidade agrícola dos solos do Cerrado após a aplicação de fósforo e a correcção da acidez com calcário. Estava aberto o caminho para a colonização definitiva do Centro-Oeste brasileiro, idealizada por Getúlio Vargas e pela República Nova no final da década de 30.
A resolução da infertilidade natural dos solos do Cerrado foi o primeiro passo. A partir dos anos 60, apoiada por uma sistema eficiente de investigação agrária e uma política agressiva de subsídios, a agricultura da soja (e do milho) espalhou-se como uma mancha de óleo pelo Cerrado. O cultivo da soja no Brasil é a maior alteração da geografia agrícola global das últimas décadas.
No Cerrado onde não se cultiva soja ou milho faz-se pasto. A correcção das deficiências nutritivas dos solos do Cerrado facilita também as
Brachiaria e outras gramíneas pratenses C4 de origem
africana. A flora do Cerrado, que durante milhares de anos evoluiu num ambiente de
escassez de fósforo, elevada acidez e toxicidade pelo alumínio, mingua de dia para dia, enquanto a agricultura e as exóticas pratenses, inexoravelmente, preenchem os solos melhorados pelo homem.
A expansão da soja a habitats de elevada diversidade biológica é o primeiro elemento de perigosidade da soja mas não é o mais importante. A dependência da agricultura da soja no fósforo é absoluta; o fósforo é finito e falta pouco tempo para sentirmos os efeitos da sua escassez (ver
aqui). A economia do fósforo está condenada à extinção, provavelmente ainda antes da economia do petróleo.