Generalizações são perigosas, especialmente se forem empíricas como esta que vou fazer. Mesmo assim arriscaria dizer que a família das crucíferas parece ter uma certa tendência para florescer muito cedo - em meados de Fevereiro já muitas espécies podem ser vistas em flor. Algumas até no Outono já estão em pleno (ver aqui). Eis quatro dessas crucíferas "temporãs", todas encontradas no mesmo habitat - uma cascalheira calcária.
[fotos: MPorto]
Hesperis laciniata, em particular, acho fantástica, exuberância suprema, além de bastante rara. Apenas a conheço nos "melhores calcários" aqui do centro sul. Planta perene de grande tamanho, flores grandes, um tanto ou quanto semelhante aos goivos de jardim (Matthiola spp.). Simplesmente espectacular, muito estranho é ver tamanha exuberância e delicadeza debaixo deste frio invernal.
Hornungia petraea, pelo contrário, prima pela sua minuscularidade. Um habitante efémero de rochas com uma fina camada de solo, onde, após o término das chuvas, apenas conseguem subsistir plantas suculentas (fam. Crassulaceae) e musgos tolerantes à desidratação (poiquilohídricos), já que estas camadas finíssimas de solo não retêm a água mais do que poucas horas se expostas ao sol em tempo seco; qualquer ocupante desprevenido seria desidratado tout de suite. Não sei se a H. petraea é rara, talvez seja provavelmente mais comum do que se pensa, e por ser tão discreta e efémera, passa despercebida.
Semelhante comportamento têm as restantes duas, plantas em geral muito pequenas que colonizam pequenos nichos efémeros. E como estas há todo um grupo de crucíferas anuais miniatura a florescer nesta época... não esquecer Teesdalia spp., Cardamine spp., Jonopsidium acaule, entre outras...
Mas nem só de crucíferas vive o homem, com isto ficou a apetecer mostrar mais um pouco das maravilhas em miniatura que se podem ver nesta época! Plantas das quais só nos apercebemos da existência quando estamos a vinte centímetros de distância!
Fantástico! E onde será esse local mágico? Alguma serra do CW calc.?
ResponderEliminarO indomável Vale da Ota mais a sul...
ResponderEliminarA Ota - famosa pelo célebre aeroporto que não chegou a ser...
ResponderEliminarEspectacular! Nunca tinha ouvido falar desse local. Certamente nunca lá irei, mas fico a conhecê-lo através deste superblog!!
ResponderEliminarÉ bem verdade que a net nos permite viajar pelo mundo inteiro!
ResponderEliminarComo dizia o grande George Harrison:
"Without going out of my door,
I can know all things on earth
without looking out of my window,
I can know the ways of heaven."
Quatro fotos formidáveis, de quatro plantas espectaculares. No reino das plantas o tamanho não é formosura!
ResponderEliminarA Arabidopsis é muito frequente aqui, no NE de Trás-os-Montes. A Hornungia, pelo contrário, é muito rara, encontrei-a pela primeira vez numas concavidades na muralha do Castelo de Miranda do Douro. Nunca vi nem a Hesperis, nem o Thlaspi.
Obrigado!!
ResponderEliminarPor acaso esperava o contrário, que a Thlaspi fosse a mais frequente pelo país.
Ver uma Hesperis ao vivo é absolutamente obrigatório, e é algo que se torna inesquecível! Porém, como disse, há que atacar em Fevereiro.
Penso que a Thlaspi não é rara nos calcários.
ResponderEliminarA Hesperis deve ser muito mais rara!
Quanto à Arabidopsis é até muito comum em certos locais, por ex. como planta ruderal.
Muito interessante tema este das crucíferas. A H. laciniata lembra-me superficialmente uma crucífera que encontrei em abundância no Parque Natural de Montesinho (perto de Fresulfe), onde temos rochas básicas. Alguma ideia sobre que espécie seria?
ResponderEliminarRecentemente ao estudar uma espécie de borboleta muito rara em Portugal tive de abordar um pouco mais a fundo um interessante grupo destas plantas, o género Iberis e devo confessar que não foi fácil conseguir uma distribuição muito exacta para qualquer uma das espécies. Seria tão fantástico que gouvesse um atlas da flora portuguesa!
Obrigado!
Eduardo, provavelmente trata-se da Matthiola fruticulosa subsp. fruticulosa.
ResponderEliminarAlgumas são mesmo minúsculas! A Arabidopsis está a confraternizar com os musgos.
ResponderEliminarCarlos Aguiar: Muito obrigado! Parece mesmo ser Mathiola fruticulosa. Como nessa altura estava à procura de Iberis ciliata contracta e nunca tinha visto a Mathiola, várias vezes fui distraido por estas plantas. Não cheguei a encontrar a Iberis em TM...
ResponderEliminarEduardo, quando vier por estas bandas mostro-lhe a Iberis ciliata subsp. contracta. Abraço.
ResponderEliminarola amigo no nome juliana o significado diz que uma flor crucifera tem o nome de juliana(deve ser apelido) sabe quel é?
ResponderEliminarObrigado!!!
boikivski@hotmail.com