sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Succisa pinnatifida (Dipsacaceae)


foto de Carlos Silva

A Succisa pinnatifida é tal como o Ranunculus bupleroides, um quase endemismo português. As únicas populações que ocorrem em Espanha estão situadas no sul da Galiza. Para Sul só se estende até à inicio da Beira litoral e para Este só ocorre até à vertente ocidental do Marão. Cresce apenas em solos xistosos, e mesmo assim só aparece em alguns tipos de xistos. Os xistos variam muito dependendo da orientação das suas lâminas e das características das rochas que estiveram na origem da sua metamorfização. Estranhamente, muitos do dos endemismos do quadrante Noroeste de Portugal estão associados aos solos xistosos. Ranunculus bupleuroides, Anarrhinum longipedicellatum, Teucrium salviastrum e Murbeckiella sousae crescem quase sempre ou mesmo em exclusividade neste tipo de litologia. Em épocas remotas, quando os afloramentos rochosos eram raros nas menores altitudes e a floresta dominava em pleno a vegetação, as vertentes xistosas eram”ilhas” que permitiam a especiação destas plantas. Os afloramentos granitos nas menores altitude deviam ser pouco abundantes devido á facilidade com que formam solo profundo. A sua abundância nos tempos que correm é consequência da promoção da erosão devido à acção do Homem. Algumas vertentes xistosas são tão secas que podemos encontrar azinheiras em serras como o Marão e a Lousã. Quando o eucalipto começou a ser plantado extensivamente, todas as serras com litologia xistosa do Noroeste português foram flageladas e de repente a Succisa pinnatifida passou a sofrer uma enorme ameaça. Em Valongo, passou de extremamente comum para pouco frequente no espaço de duas décadas. E como a Directiva Habitats passou ao lado deste endemismo de distribuição muito restrita, quase ninguém se preocupa com o estado da Succisa pinnatifida em Portugal.

5 comentários:

  1. Mais um belíssimo endemismo e um post muito interessante!
    Anarrhinum longipedicellatum e Teucrium salviastrum penso que também se dão bem em granitos, embora sejam mais comuns em xistos e quartzitos.

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  2. Fui várias vezes ao vale de Couce, em Valongo, e nunca vi esta planta. Aliás, nos vários folhetos e publicações que mencionam as raridades botânicas que (supostamente) se encontram nas serras de Valongo nunca é referida a Succisa pinnatifida. Mas passear por lá não dá muito gosto: os eucaliptos e as motos de duas ou quatro rodas são uma combinação mortífera para o pouco que resta da vegetação original das serras.

    Está agora em discussão pública a proposta de classificação das Serras de Santa Justa e Pias como paisagem protegida de âmbito local (mais pormenores aqui). Os estragos da eucaliptização são irreversíveis, mas espero que pelo menos façam um esforço para controlar os "desportos" motorizados.

    Sobre as serras de Valongo, escrevi há tempos um texto desencantado que talvez tenha interesse para quem desconheça o local. Pode ser lido aqui.

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  3. Muito interessante!

    Ficam aqui algumas imagens de Dipsacáceas da Mongólia:

    FloraGREIF

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  4. Gostei muito do texto sobre Valongo. Na última publicação sobre as serras, refere-se esta planta.

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  5. Olá Paulo. E a todos os outros.
    Embora consulte vários sítios botânicos e tenha já passado por este blog, não tinha parado muito tempo na habitual pressa virtual.
    Agradeço a dica!Acho que serei observador atento não só pelos textos de especialistas para não especialistas como eu mas principalmente pelas fotos disponibilizadas por forma a identificar muitas que fui fotografando e que não sei nomear.
    Obrigado.
    Carlos Silva

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