domingo, 19 de julho de 2009

DOIS JARDINS



Figura 1. Frontispício do horto botânico de Carolus Clusius em Leiden, na Holanda (J. Capelo, 2009).


Figura 2. A secção do Jardim organizada de acordo com o APG II (J.Capelo, 2009)


Figura 3. Placa explicativa mostrando a posição das plantas na árvore filogenética APGII (J. Capelo, 2009)

O Jardim Botânico de Leiden, nos Países Baixos, para além de numerosas colecções de plantas e da actividade de investigação que suporta, tem duas secções que representam dois extremos, certamente significativos, na história da Sistemática das plantas superiores. Um deles é uma reconstituição in situ do horto botânico de Charles de l'Écluse (1526-1609), ou Carolus Clusius na forma de epítome latino. Terá sido, com intenções conscientemente científicas, um dos primeiros, senão o primeiro jardim botânico do Mundo (figura 1).

Sobre a grande importância deste botânico flamengo quinhentista não direi mais, pois justificaria mais que um simples post. Podem os leitores do blogue ver aqui um resumo biográfico. Diga-se apenas, que uma das obras que lhe grangeou fama foi Aromatum et simplicium aliquot medicamentorum apud indos nascentium historia de 1566. Trata-se, nada menos, que uma tradução para latim dos 'Colóquios' (*) de Garcia de Orta, publicado em Goa em 1563, um dos primeiros tratados científicos de botânica acerca de flora não-europeia.

No outro extremo, está a secção do jardim dedicada à Evolução através de um conjunto de canteiros organizado de acordo com o APGII (Angiosperm Phylogeny Group), que como se sabe, constitui a mais consensual e actualizada categorização filogenética das famílias de angiospérmicas. O sistema de classificação APG II representa a síntese do maior número de dados taxonómicos, incluindo marcadores moleculares, alguma vez conseguida (figura2). O artigo do APG II System está aqui, para os leitores mais interessados.

O mais interessante, é que os canteiros representando as ordens estão devidamente acompanhados por paineis explicativos onde a posição na árvore filogenética global é salientada e os aspectos gerais do grupo são resumidos (figura 3).

Ainda procurei a Amborella trichopoda, tida como a angiospérmica viva mais primitiva: aquela mais próxima da 'raiz' da árvore filogenética... mas não estava lá.


(*) Cujo nome completo é: Colóquios dos simples e drogas he cousas medicinais da Índia e assi dalgũas frutas achadas nella onde se tratam algũas cousas tocantes a medicina, pratica, e outras cousas boas pera saber.

4 comentários:

  1. Mesmo sendo uma leiga, sempre gostei muito de jardins botânicos, e julgo que o mesmo se passa com a maioria das pessoas, pela associação do lado educativo ao lúdico. E já tenho pensado muitas vezes como seria bom se fosse criado um aqui em Bragança - seria seguramente uma forma mais interessante de investir dinheiro do que os relvados e repuxos que pululam por todo o lado! Quem sabe,talvez uma pareceria entre o IPB e a CMB (Carlos?).
    Ana.

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  2. É sempre bom visitar este blog e libar um pouco da sabedoria que dele irrompe!!

    abraço,
    ZG

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  3. Sim, Ana, em Bragança e noutras cidades com ensino superior um Jardim Botânico faz tanta falta como uma biblioteca ou um Centro de Ciência. Perdemos um boa oportunidade com o POLIS; vamos ter esperança que venham a ser lançados novos programas de financiamento.
    Carlos

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  4. Pulquérrima planta a Amborella trichopoda, que parece ser realmente raríssima e a única espécie da sua família!!
    ZG

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