Faltei seis anos seguidos à chamada da terra dos meus ancestrais maternos: a pequena vila, e grande concelho de Montalegre. Estive pela última vez em Contim no final da década de 90, a pequena aldeia de onde escaparam das tropas francesas e da fome alguns dos meus avoengos barrosões. Já não me lembro quando vi pela última vez uma chega de bois, a vezeira do gado miúdo, um pastor de croça e uma perdiz-cinzenta (sim, vi esta espécie no Planalto da Mourela, era ainda garoto).
Este ano voltei, finalmente; desta vez na companhia de um naipe excelente de botânicos lusitanos e espanhóis.
Foram dois dias intensos, de incessante colheita e observação de plantas. Enquanto vasculhava os urzais-tojais tão característicos da região, recordei uma das minhas primeira experiências botânicas, um dia há 30 anos atrás, quando observava extasiado o delicado esporão de uma
Linaria elegans, que chamava de orquídea. No final da jornada, a caminho de Montalegre, vindo de Pitões da Júnias, depois de um tremendo dia de chuva a colher plantas em turfeiras, molhado da cabeça aos pés, lá estava ele, o
Polygonum bistorta.
Esta planta de ampla área de distribuição na Europa, em Portugal, tanto quanto sei, só ocorre em Montalegre. Conheço-a de um lameiro na margem esquerda do Cávado, a poucas centenas de metros da ponte de Frades.
As gerações de agricultores, de primeiras e segundas gerações urbanas sucedem-se, mudamos de terra e de profissão, o
P. bistorta, porém, persiste impassível, imutável, no seu pequeno lameiro, longe, muito longe, das densas e exuberantes populações centro-europeias da sua espécie.