O crescimento das plantas depende da disponibilidade de recursos.
Quem faz horta sabe que a falta de água e de fertilidade da terra, ou a sombra de um prédio vizinho se pagam com baixas produções. Se rareia a água, rega-se; se escasseia o azoto, estruma-se ou aduba-se a terra; se a sombra é muita, o melhor é mudar de horta. Reparem: a falta água não se resolve fertilizando a terra, bem pelo contrário: o adubo aumenta a pressão osmótica (quantidade de sais) da água do solo e só desajuda. Se a minha horta murcha, enquanto não abrir um furo de nada me vale gastar dinheiro na casa agrícola!

O dia-a-dia das 600 gerações de agricultores que povoaram a bacia do mediterrânico desde o final da última glaciação foi condicionada por estes, ou similares problemas.
von Liebig resumiu o efeito da escassez de nutrientes no solo na conhecida Lei do Mínimo. Observações simples pedem formulações teóricas tão simples como brilhantes. Escreve von Liebig: "o crescimento das plantas é limitadas pelo elemento, ou composto, que esteja presente em menor quantidade no solo". Portanto, se as necessidades em azoto das minhas batatas estão satisfeitas, a produtividade passará a estar limitada por outro nutriente, por exemplo pelo potássio.
Para explicar a Lei do Mínimo von Liebig serviu-se de uma fantástica metáfora
(imagem sacada daqui) representada na imagem do lado. Parece que ainda sobrevive uma dorna semelhante à da figura no laboratório de von Liebig.

A Lei do Mínimo tem dois importantes corolários: 1) a produção é proporcional à quantidade do nutriente limitante disponível no solo para as plantas; 2) à medida que este nutriente for adicionado ao solo os rendimentos crescem cada vez mais lentamente (rendimentos decrescentes).
Quando a curva atinge um tecto outro nutriente passou a controlar a produtividade.
Estudei esta curva quando era estudante de agronomia há vinte e cinco anos atrás. O meu professor de química agrícola insistia, é claro, no lado direita da curva. Os rendimentos decrescentes e os consumos de luxo (consumo de nutrientes pelas plantas sem reflexos na produção) eram, e por enquanto ainda são, um problema sério para a agricultura industrial. Por outras palavras: a certa altura os ganhos de produção não pagam a adição de mais uma unidade de nutriente, e a nutrição das plantas representa uma fatia substancial das contas de cultura.
E o lado esquerdo da curva?
Se o Sr. Jacinto, o coveiro do "A Capital", soubesse interpretar gráficos, se tivesse estudado funções na escola, certamente concentraria a sua atenção no esquerdo da curva. O lado da abundância, quando a curva tende para um limite, ser-lhe-ia irrelevante. A derivada a convergir para o infinito,pelo contrário, perturbar-lhe-ia o sono. Aquele súbito mergulho da curva em direcção à origem representa uma das maiores condicionantes das tomadas de decisão, e da qualidade de vida dos agricultores orgânicos pré-industriais. Em momentos de escassez uma unidade de azoto, ou de qualquer outro nutriente limitante, valia uma vida. E essa unidade explica por que razão se reduziram a cinzas os bosques cobriam no início do Holocénico o território que é hoje Portugal, ou a dedicação de uma vida a recolher bostas de vaca pelas estradas das gândaras da região de Aveiro (vd. post anterior).
A dominância do
Agrostis x fouilladei (
Poaceae) ...

... ou das ericáceas nas serras graníticas do Norte e Centro de Portugal, por exemplo, conta a mesma história: é um testemunho de uma demanda milenar por aquela unidade milagrosa do nutriente limitante.
Erica umbellata (Ericaceae)
[continua]